O filho favorito do Rei - O casamento

Cap. 37 - Sem saída

–...e é por isso que Vossa Eminência não pode permitir que nesse julgamento ela seja condenada por bruxaria - o rei rosnou baixo olhando diretamente nos olhos do cardeal Besnik - Os filhos de Irina, James e Cam são os únicos que eu verdadeiramente acredito serem meus filhos, portanto, os únicos herdeiros verdadeiros da coroa.

O cardeal, um homem atarracado e de semblante enfadado arregalou os olhos com tal confissão. O rei assumia ali, que possivelmente os quatro filhos da rainha, não fossem de fato seus filhos.

–Não quero lhe tomar por mentiroso, vossa majestade, mas em todos esses anos, jamais soube de algo que atestasse contra a honra da rainha - o homenzinho vestido com uma longa roupa vermelha levantou-se da cadeira e pôs-se a passear pela sala - veja só, ela é casada com o rei pela sagrada lei de Deus, deu à luz a quatro crianças saudáveis durante esse casamento, e nunca houve sequer uma reclamação sobre sua conduta, nem mesmo por parte de vossa majestade, que manteve sua concubina sob o olhar da rainha e até mesmo assume que o filho pequeno da acusada é seu filho.

O rei se encolerizou e bateu com força as mãos sobre a mesa de madeira.

–Irina não pode ser condenada, pois pretendo tornar meu filho James o próximo rei da Bessarábia, Vossa Eminência - o rei apontou o dedo, quase tocando o nariz redondo do cardeal - todos sabem que a responsabilidade e seriedade de James é muito maior que a de Thomaz, o que faz dele um candidato muito melhor a rei. Além disso, esse casamento tornará Thomaz uma verdadeira ameaça ao reino. Pretendo revelar a verdadeira condição dos filhos da rainha, tão logo esse casamento seja consumado.

–Vossa majestade não teme que a família da noiva se revolte - padre Hernest interrompeu - afinal, ela foi enviada para casar-se com o herdeiro do trono.

–Ela foi vendida para casar-se com Thomaz - o rei riu entredentes - tive o cuidado de anos atrás, quando foram feitos os contratos do casamento, em nenhum momento citar Thomaz como o herdeiro do trono, usando apenas seu nome como parte do acordo.

–Pois temo que está equivocado, vossa majestade - o cardeal declarou por fim - não existe uma forma em que James e Cam possam ser reconhecidos como herdeiros afinal são filhos da concubina.

 –Não, cardeal. Quem está errado é vossa eminência. Eles são filhos da única mulher que amei em toda a minha vida.

*

Os pés azulados de Vírginia em contato com a pedra do chão da prisão denunciavam que a nevasca lá fora fazia do interior da sua cela, um inferno congelante.

Em vão ela tentava abraçar suas pernas, na tentativa de manter a circulação.

Suas vestes quentes lhe foram tiradas e ela foi vestida apenas com uma túnica quase em farrapos, que mal chegava a metade de suas longas pernas.

A mãe de James, na outra cela, mantinha-se quase o tempo todo deitada em silêncio sobre as palhas que davam o mínimo de conforto e calor aos prisioneiros. Essas mesmas palhas atraíam para o local, inúmeros ratos que passeavam sem nenhuma cerimônia entre elas, em busca de alimento.

–Vou tirá-la daqui - uma voz sussurrou bem próxima - Você só precisa aguentar mais algumas horas.

Virgínia olhou ao redor mas a pouca luz que entrava pela minúscula janela de pedra não permitia que ela enxergasse muita coisa no corredor. Ela reconheceria a voz de Lucian em qualquer lugar, não era necessário vê-lo.

–Temo que você corra perigo vindo aqui, comandante - ela tentou manter sua voz tranquila e sem emoção - não volte mais aqui, o que tiver que acontecer já está determinado.

Lucian ficou em silêncio por um momento, decidindo se aquela era realmente Virgínia.

–Não importa quanto perigo eu corra, eu não vou te deixar aqui. Fiquei preparada.