Cap. 31 - Uma dança

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_Você não deveria usar o espartilho tão apertado - Claire resmungou enquanto ajudava Isobel soltar os laços ajustados da roupa - é quase impossível respirar assim.

Isobel concordou gentilmente com a companheira de quarto, mas mentalmente imaginou o olhar reprovador de sua avó se a visse com os laços frouxos, ou mesmo sem o espartilho, como já vira Claire mais de uma vez. Sorriu ironicamente para seu pensamento. A avó teria uma síncope, certamente.

_Eu não tenho a mesma sorte que você, de ter sido criada por pais liberais que a deixam usar o que quiser. Meu pai exige que eu me vista como se estivesse indo a um baile, mesmo que eu apenas vá dar uma volta pelo jardim - Isobel entrou na tina tirintando de frio - Tenho a obrigação de parecer linda.

_Mas você é linda - Claire abriu um sorriso cheio de sinceridade - Cada uma de nós é linda a sua maneira.

Os trovões pareciam cada vez mais próximos, e um vento gélido soprava pelos vãos das telhas. A forração da construção simples não ajudava muito no trabalho de vedar o frio que fazia lá fora. Lá embaixo, na taverna anexa a estalagem, podia-se ouvir risadas e música que era quase abafada pelo som da chuva e do vento lá fora. Aparentemente os homens bebiam e se divertiam.

A filha do duque soltou os cabelos loiros, ensopados pela chuva, e olhou as meias imundas ainda nos pés. 

_Como é ter uma mãe? - As palavras saíram sem que Isobel tivesse certeza se era possível alguém lhe responder isso - Sabe, uma mãe que você possa contar seus medos, suas esperanças...

Claire parou por um segundo, completamente atônita com a pergunta, um segundo depois, terminou de calçar seus sapatos.

_Uma mãe como a minha é ótimo ter, uma amiga acima de tudo - pegou a mantilha seca que estava aos pés da cama e se enrolou nela - mas, por outro lado, se eu tivesse uma mãe como a rainha, preferiria ter sido criada pela minha avó também - sorriu fracamente.

_Verdade - Isobel riu - prefiro a minha avó a ter a rainha como exemplo de mãe.

Enquanto Isobel se banhava na água quente, Claire abriu a porta.

_Vou dar uma volta. Estou sem sono e não vou te deixar dormir se ficar virando na cama - Antes de sair, deu uma rápida olhada para o número escrito toscamente na porta - Não vou demorar.

Isobel mal esperou a porta ser fechada e relaxou seu corpo cansado e marcado pelas hastes do corpete na água morna.

_Pelo menos tenho uma ideia do tipo de mãe que eu jamais gostaria de ser - acariciou o ventre, que ainda não era tão evidente. Duas grossas lágrimas correram de seus olhos azuis.

*

Marko já tinha tomado sua terceira dose de hidromel e acompanhava alegre o músico que tocava um cistre de casco de tartaruga e cantava uma velha canção. Quem soubesse todos os problemas que ele havia se metido para ajudar seu amigo de infância, James, pensaria que ele não tinha muitos motivos para estar alegre. E realmente, não tinha.

Ele era um homem jovem, que amava sua liberadade acima de tudo. Um rom que respeitava suas raízes, mas que desafiava o destino apostando alto em sua intuição. Na sociedade, era respeitado por suas posses, mas secretamente desprezado pela sua cultura. No seu clã, era aceito pelo seu sangue, mas criticado pela sua riqueza.

Uma prostituta jovem e bonita, com um vestido alaranjado bastante revelador apareceu, um tanto ébria e carregando uma jarra, de repente, em seu campo de visão.

_Posso encher a sua taça, monsieur - a fala arrastada tentava soar francês, mas falhava miseravelmente. A mão esquerda da moça avançava lentamente pela sua coxa direita, ensinuando que oferecia muito mais que a bebida.

O filho favorito do Rei - O casamentoWhere stories live. Discover now