Cap.33 - Filho

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Os cabelos longos e sedosos dela passavam entre os dedos dele como água escura que se dissipasse e escorresse lentamente da sua mão. Aspirou o cheiro frutado - um cheiro só dela, que lembrava a damasco e frutas suculentas - que desde a primeira vez que a tocara nunca mais saiu de sua memória. 

Era a memória do calor daquele corpo no dele que o mantinha vivo e com esperança. A memória dos seus lábios macios, do doce do seu beijo. Era por ela também que ele tivera a coragem de partir, meses atrás, em busca de uma saída, de uma condição que eles pudessem viver em paz, mesmo que isso representasse aos dois, uma vida longe das pessoas que eles amavam.

Monisha, vai ser muito arriscado - disse depositando um beijo terno no topo de sua cabeça - e, possivelmente, nunca mais voltará a ver seus pais, ou seus irmãos... - James começou o que precisava dizer um pouco apreensivo pela reação que Lyrian poderia ter.

A jovem princesa suspirou, tentando inalar o máximo possível do cheiro do homem que amava, como se pudesse assim, guardá-lo para si, dentro de si. Tanto tempo longe dele, não só fazia com que seu corpo sentisse falta do dele, mas ao abraçá-lo assim, sentia que sua alma tinha reencontrado o lar. Havia urgência nos seus lábios para beijá-lo, havia ansiedade no seu corpo em amá-lo mais uma vez, mas acima de tudo, havia aquele buraco em seu peito que só se completava quando ele estava por perto.

–Eu prefiro morrer ao seu lado, que viver um só dia mais, longe de você - ela disse por fim, a voz embargada e lutando contra as lágrimas. Ela não era uma garota fraca.

James a afastou somente o suficiente para que seus  inebriantes olhos azuis pudessem encontrar os olhos castanhos e profundos dela.

–Eu também, monisha - disse afagando suas faces onde uma lágrima teimosa corria - mas precisamos pensar muito bem como faremos para fugir, e... - ele estava inseguro em prosseguir.

–Diga, meu amor!

–Não podemos levar sua irmã ou Minerva - disse num suspiro desanimado - será perigoso o suficiente para nós, não quero colocá-las em perigo também. Seremos caçados, não somente pelo meu pai, mas pelo seu também - era a primeira vez que Lyrian ouvia James se referir ao rei como seu pai.

As mechas um pouco compridas demais dos cabelos dele caiam sobre seus olhos, enquanto ele olhava fixamente para a garota sentada à sua frente. As roupas simples emprestadas, os cabelos ainda um pouco úmidos da chuva, naquele simples quarto de hospedagem, quase davam a ele uma visão de uma realidade que poderia ter sido perfeita: se não fosse a maldita coroa que os separavam...

–Podemos levar o Klarabella - Lyrian falou com uma certeza e autoridade que James ficou encantado - os homens à bordo são leais apenas a mim. Não revelarão nosso plano ou nosso destino a ninguém. Quando estivermos em segurança, podemos mandar buscar Minerva e Virgínia.

Um raio de esperança iluminou o olhar angustiado de James.

–Certo, isso com certeza melhora as expectativas - ele afirmou, dando um beijo atrevido nos lábios de Lyrian - mas precisamos que eles estejam posicionados fora do porto real.

–Desde a minha chegada, eu os liberei para que fizessem as rotas mercantes - falou num tom baixo e divertido - uma das principais razões da lealdade deles a mim.

–Além de linda e corajosa, inteligente - riu James ao beijá-la de novo.

–Enviarei uma mensagem para o capitão, e pedirei que aguarde no ponto que precisar.

Lyrian se levantou e buscou papel e tinta na mesa tosca do quarto.

–Você precisa estar pronta na noite anterior ao casamento - James começou explicar seu plano enquanto ela escrevia a mensagem - não leve nada, e use roupas de montaria. Vamos atravessar o rio Minis, para dificultar nosso rastreio, mas conhecendo os rastreadores do rei, só os atrasaremos. Do outro lado, Marko estará nos aguardando, e devemos passar uma semana pernoitando pelos acampamentos de clãs conhecidos. Ninguém sabe quem é você, mas muitos me conhecem, então precisamos ser discretos por onde passarmos.

O filho favorito do Rei - O casamentoWhere stories live. Discover now