eu estou tentando ser romântico

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Não sei o que fazer comigo. A abastança de carinho e a ânsia por mais contato derruba-me entre seus lábios nada enxutos. Vejo-me agrilhoado na sensação de amparo. Não quero perder-me. Também não quero dizer coisas que possivelmente irão refutar-me. A parte mais difícil de flexibilizar ou mudar a opinião é o desespero para não parecer hipócrita. Conquanto, honestamente, não temo que ele venha a pensar isso. Ele está muito ocupado, sabe? Beija-me com tanta ternura, tanta doçura, que esfrego minha língua na sua questionando por que é que alguém como ele existe. Meu encanto, meu bem querer. Ele me destrói e me reconstrói. O amor faz de mim jogo. Pareço até Lego. Gosto de aluir. E suas mãos em mim remonta. 

— Merda... — resmungo, porque a vibração do telefone numa chamada tira-me a concentração do que estou fazendo. Será possível que não se pode nem mais beijar na boca?

Uma chamada de Erick. Aposto que é para perguntar-me mais coisas das quais Bailey deve ter contado-lhe, ao invadir mais uma vez a cozinha. Recuso a ligação e jogo o telefone no sofá. 

— Posso pôr uma musiquinha? — Noah me pede, pegando o celular. 

Não concordo diretamente, porém ponho o dedo no touch id e desbloqueio o telefone. Faço carinho na orelha dele enquanto procura pela música que quer colocar. Acho que essa é uma das poucas vezes que escolho estar com ele, entre ter de fazer obrigações. Sim.

A música começa e logo de cara noto que é aquelas bobinhas de amor. Ele é tão brega e careta que eu sorrio com isso. Ele entende meu sorriso e ri do nada. Nem preciso explicar. 

— Que foi? Estou tentando ser romântico — ele dá de ombros. 

— Você não precisa tentar — digo. Pego o telefone da sua mão e abro a câmera. Ergo um pouco para checar a situação do meu cabelo, porque não quero que fique bagunçado. Fiquei um maluco penteando ele. 

Noah sobe as mãos pelas minhas costas e insiste, ao puxar, que eu tire meu paletó, porque está meio quente aqui dentro. Eu não sei se ele está realmente preocupado ou pensando besteira. Em caso de dúvida, opto pela primeira opção. Bloqueio o telefone outra vez, com essa vibe de cordas e vocal serpenteando o ambiente. Noah pousa meu paletó no braço do sofá, do lado oposto. 

— Ficou melhor? — ele afrouxa um pouco a minha gravata. — Hum? Relaxando? 

Concordo com a cabeça. 

— Você me pareceu muito estressado hoje... — progride. — E ontem... Anteontem... No dia anterior... Nessa semana inteirinha, para falar a verdade. 

— Só estou lidando com umas coisas... 

Com o que estou lidando? Eu mesmo? Estou cavando minha própria sepultura. Dizem que também é preciso se divertir. Eu estou tentando fazer isso agora. Eu realmente estou tentando. E, pela segunda vez, ignoro a ligação de Erick. Quando ele quer me encher o saco, ele realmente consegue. Que inferno. 

— Sabe do que tenho saudades? — Noah me pergunta, tocando-me o rosto num afago gostoso que ele ama fazer em mim. — De tomar banho contigo. 

Ele mexe demais comigo. Eu gosto quando ficamos escondidos ou sozinhos e falamos o tipo de coisa que permeia nossos pensamentos e achamos que não deveríamos contar, mas contamos. Gosto quando ele me olha todo admirado, como se eu fosse a Monalisa e ele, um estudante de Belas Artes. Sinto-me poesia sem fim deste jeito, e que ele foi o único a ler mais da metade. Sinto que os demais, todos eles, leram a frase triste da primeira estrofe e chamou-me de incrível, maravilhoso, esplêndido. Mas não sou poesia de uma estrofe só, não há como concluir tudo no início. Eu sou muito mais que isso. Olhe o resto também. O início é lindo, mas o meio é conturbado... Olha só a estrutura, as palavras errôneas, a formatação duvidosa. Só eu consigo me entender. Mas saber que tem alguém disposto a ler mais que os demais, deixa-me balançado. 

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin