eu acho que estou passando mal

645 139 54
                                    

Tiramos, no mínimo, trezentas fotos. Noah diz que vai fazer um book com essas fotos, por isso enche a galeria do celular com imagens do Krystian enfiando o tridente na bunda de todo mundo, e ainda fotos nossas bebendo, comendo ou do Bailey dançando. Acho que já cheguei num auge da bebida em que estou pegando a carne do grill com as mãos e comendo do jeito que estiver. E toda hora que Krystian vê o copo de alguém esvaziar, ele simplesmente repõe. Eu nem sei mais o que estou bebendo.

Noah tenta tomar umas aulas com Bailey, que diz saber as coreografias de todas as músicas do momento. Eu só fico vendo a vergonha dos dois, ao mesmo tempo que olho a imensidão do mar. Estamos nos movimentando de maneira calma, eu quero chegar no piloto e pedir para ele acelerar com tudo.

— E se eu misturar carne com chantilly? — começou Lamar com as esquisitices dele.

— Você deveria era falar com o moço para ele ir mais rápido, porque estou morrendo de tédio — estico minhas pernas sobre as coxas dele. Ambos estamos largados nos assentos externos. O sol está nos fritando.

— Deixa comigo — Krys levanta-se do nada e vai até a parte superior, onde está o condutor.

Lamar me dá comida na boca e confesso que adoro ser mimado por ele. Além do mais, eu sou Afrodite e tenho que ser venerada. É bom mesmo que ele esteja me tratando como a deusa linda que sou.

— E você e o Noah? — ele pergunta do nada. — Como é que tá?

— Normal — respondo, mas minha vontade mesmo é de desconversar.

— Ele não me pareceu normal na minivan. E ele também não está falando contigo, pelo que estou vendo.

— E eu lá tenho dez anos de idade para ficar chateado porque os outros não falam comigo, Lamar? — faço um gesto para que ele se estique e pegue sobre a mesa uma garrafa de água. Se ninguém está bebendo água, eu pelo menos demonstro amor pelo meu corpo. — Eu não sei porque ele está assim. Eu nem fiz nada. E tô cansado de vocês acharem que se Noah faz ou deixa de fazer um "a", a culpa é minha. Ah, tenho mais o que fazer...

— E por que você também parece putinho da vida? Só estou perguntando, não apontando o dedo na tua cara... — Lamar ajeita a barra do meu vestido de cetim.

— O humor dele afeta o meu — digo a verdade, porque um hora ou outra Lamar teria tirado essa conclusão. — Se ele fica chateado e não fala nada comigo, eu também fico. E vocês também não ajudam em nada.

O Morris revira os olhos assim que abro a garrafa e bebo um longo gole.

— Eu não estou fazendo nada, só estou estranhando vocês dois.

— Tá, já entendi.

— Você deveria ir falar com ele, porque eu senti que ele está chateado contigo quando estávamos lá no carro — Lamar pega o protetor solar ao lado dele e despeja uma generosa porção na própria mão. — Você está fritando...

Ele faz um gesto para que eu me aproxime mais, depois disso espalha o protetor no meu rosto. Acho que o auge da amizade contemporânea é um passar protetor no rosto do outro.

— Aish, é complicado lidar com ele às vezes... — conto, ainda sentindo os dedos dele no meu rosto, e de olhos fechados. — Porque nem sempre ele é compreensível.

— Você também não — e do nada ele deixa um selinho na minha boca. Eu abro os olhos prontamente e dou uma recuada gigantesca.

— Que porra é essa, Lamar? — olho ao redor para ver se alguém viu.

Noah está dando alguns saltos aleatórios no chão, mas não acho que isso saia da sua normalidade. Bailey está tentando fazer alguns passos de breaking. Krystian ainda está conversando com o piloto. Ninguém me parece estar disfarçando, mesmo assim passo os olhos em Noah outra vez. Ele está sério, mas ainda está pulando, com um copo de alguma bebida na mão.

— Ninguém viu, idiota — Lamar ri.

— Não faça isso em público, você sabe disso... — afasto minhas pernas das pernas dele.

— Você tem medo que o Noah veja?

— Não só isso. É algo nosso, ninguém vai entender — eu cruzo os braços e viro-me para o casal que insiste em dançar descompassado.

— Foi só um selinho.

— E daí?

Lamar continua rindo.

— Você está agindo que nem antes — comenta. — Antes de você viajar. Parece até que Noah vai fugir se me ver te abraçando ou coisas mais.

— Você sabe que sim. Já aconteceu algumas vezes...

— Mas agora ele caga e anda para mim. Somos amigos, mas continuamos nos odiando. A gente até troca xingamentos no Telegram, você deveria ver...

— Lamar — viro meu tronco na direção dele. — Eu ainda gosto do Noah, ok? Eu ainda gosto dele. Se ele aparece aqui, na minha frente, mesmo que esteja namorando com Bailey, dizendo que quer ficar comigo por um dia, talvez quatro, uma semana... não importa... Eu ficaria com ele. Mas ele liga para essas coisas. Antes eu realmente não ligava em ficar com outras pessoas e ele saber, mas depois vi que isso incomoda ele demais, até mesmo sendo apenas amigo. Não que eu ligue para isso, mas eu bem que gostaria que ele pudesse deixar de implicância. Toda vez que ele me via com outra pessoa, ele começava a agir estranho comigo. Toda vez.

Lamar olha para Noah, depois dá um suspiro.

— Migo, isso daí não é amizade — pronto, lá vem o coaching. — Primeiro: se você é apenas amigo dele, ele não tem que ficar chateado se você beijar outra pessoa. Segundo: se ele está chateado, ele está com a mesma esperança que você sobre brotar do nada para vocês ficarem juntos. Terceiro: vá lá falar com ele, porque vocês tem que estar de boa para fazermos um bocado de pegadinhas com ele na Grécia.

Eu bebo outro gole de água antes de mostrar minhas cartas.

— Sim, eu sei que ele não deveria ficar chateado, por isso disse que ele é complicado. E não, Noah não está com a mesma esperança que eu, porque com ele é oito ou oitenta. Ele nunca vai dizer para ficarmos por determinado tempo. Com ele, ou é para o resto da vida, ou é melhor nem começar. E eu não vou falar com ele, porque não tem um porquê para falar com ele. Obrigado pelo seu discurso, mas infelizmente não vou pagar pelo treinamento.

Lamar revira os olhos.

— Tu vai se ferrar — ele se levanta para servir mais vinho no copo.

— Foi me ferrando que me dei bem — eu ergo minha garrafa d'água e brindo a exatamente nada. 

— Me veja desfilar — ele pede.

Eu olho com cara de "migo, abaixa essa bola" enquanto ele vai lá pegar a garrafa. E, como background do seu desfile, eu noto uma movimentação estranha de alguém caindo e alguma coisa líquida no chão. Ambos focamos no que raios está acontecendo para o lado onde Noah e Bailey estão e o que vejo não me surpreende nem um pouco: Noah caiu no chão e vomitou em tudo.

— Ai, gente... Eu acho que estou passando mal... — ele põe a mão na cabeça.

— Você acha, Noah? Você acha? — eu praticamente corro pelo convés em direção a proa, onde ele está com seu vômito.

Já era de se esperar que alguma coisa aconteceria com Noah. Já era de se esperar.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWo Geschichten leben. Entdecke jetzt