eu acredito em você

874 165 122
                                    

De manhã, sinto-me cansado. Mas acordo cedo, como alguma coisa, visto minha roupa para atividades físicas e saio para correr. Porque sei que irei gritar, no mínimo, dez vezes hoje. Irei reclamar dos pedidos que não irão me agradar. Irei surtar com a velocidade dos cozinheiros. Eu quero ser excelente. Não dá pra ser o mesmo sempre.

Compro um smoothie de morango e banana, já de volta para casa, empapado de suor, sentindo o sol da manhã assar meu corpo. Mando a Lamar um vídeo meu me exercitando na barra e mostrando quão bom estou ficando nisso. Ele me responde com um áudio rindo, dizendo que eu tenho que dar um baita salto para conseguir alcançar a barra e que demoro deveras para minimamente encostar meu peito no ferro. Mando ele se lenhar e tiro a camisa assim que passo pelo jardim. Meu suor brilha sob o sol, então entro antes que a maresia me pegue.

Eu odeio segundas, mas não perco mais meu tempo percebendo que é segunda. É um dia comum, assim como os outros. Tudo bem que há uma lamentação conjunta sobre o final do fim de semana, porém é algo que não consigo mais me importar. Porque todos os dias são cansativos e acabei percebendo que a diferença entre segunda e sábado é apenas o nome diferente. Por isso que não rosno de preguiça ao arrumar-me para trabalhar.

Meu corpo está ferrado. Quanto mais eu fujo do sedentarismo, mais ele capota na minha cara. Posso até fazer atividades físicas por anos, porém sempre terminarei com uma dor desgraçada e uma vontade de me jogar na cama e nunca mais sair. Sim, eu tenho preguiça. Cristo...

Uma xícara de café deixa-me alerta para tudo. Um jeans preto rasgado deixa-me livre para tudo. Escolho quais brincos irei usar, ponho a máscara no rosto, óculos também, bolsa atravessando o corpo e um pouco de coragem para sair de casa logo quando minha maior vontade é de despencar na cama sem querer e dizer que estou morto.

Assim que meu corpo cai, dolorido, no banco do carro, meu celular choraminga uma notificação. Jogo minha bolsa para o banco de passageiro, puxo as pernas para dentro do veículo e puxo a porta. Eu nem estava tão cansado e infeliz quando acordei, mas de repente essa parada de ser um ser humano saudável, e tudo mais, acabou escorrendo pelo esgoto. Incrível, incrível, eu mal consigo levantar minha perna.

Arranco o celular da bolsa, então vejo que se trata de uma mensagem recebida no Instagram e o user me faz quase tremer. É Noah. Noah simplesmente me mandou uma mensagem. Ok, não vou surtar por conta disso, mas para alguém que há pouco tempo estava cagando e andando para a minha existência, essa é uma baita evolução. Tipo... Ele me mandou mensagem, né.

Eu visualizo a mensagem: é um endereço. Com certeza é o endereço da floricultura, e eu estava quase esquecendo que ele falou que estava para me passar. Eu não pensei que ele iria realmente me mandar, mas agora que me mandou, eu acabo por questionar se ele realmente quer que eu vá. Bom, poderia ser muito bem um papo furado apenas para ser simpático e eu iria ficar na espera por toda a eternidade - coisa que já fiz demais com inúmeras pessoas -, porém o fato de ele pôr o horário de funcionamento na mensagem acaba por me fazer sorrir sem querer, e balançar a cabeça, incrédulo.

Pergunto se posso realmente ir. Ele responde: "se você quiser" e um emoji engraçado que parece mais uma risada fofa sendo abafada. Imagino ele fazendo essa expressão, com as bochechas vermelhas e tudo, e acabo por ligeiramente rir sozinho disso. Respondo que irei um pouco antes do horário do almoço, ele visualiza mas não responde. Acho que não temos mais o que falar.

Assim que bloqueio meu telefone, de repente recebo uma mensagem sua:

"Vê se não se perde dessa vez 🤭"

Qual o problema dele com esse emoji? É muito fofo e engraçado ao mesmo tempo, que inferno. Rapidamente digito que não sou tão ruim em localização, que aquele dia foi só um pequeno azar.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedDonde viven las historias. Descúbrelo ahora