eu estou chateado contigo

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Escuto meu nome sendo chamado, então solto um gemido de negação. Quem quer que seja, com toda a certeza está a atrapalhar meu sono. Mas como, se estou na minha casa e ninguém mora comigo? Este é o simples fato que me faz abrir os olhos, assustado, e dar de cara com um Lamar bravo. Olho ao redor e... Bem, eu acho que não estou na minha casa.

- Eu estou chateado contigo, Josh - Morris faz-se presente em pé frente ao sofá, de braços cruzados e cara fechada. Suas sobrancelhas estão pesando a expressão, dando ênfase ao "chateado".

- Oi... Por quê? - pergunto eu, coçando os olhos e soltando um bocejo longo. Ai, merda... Eu estou no escritório. No meu escritório. Eu dormi aqui sem querer. Mas que droga, Lamar vai comer meu cu.

- Você não dormiu aqui, dormiu?

- Se eu disser não, o que você faria?

- Você sabe o que iria fazer - ele continua com a mesma expressão.

- E se eu disser que sim?

- Você também sabe o que eu iria fazer.

- Comer meu cu?

- Credo, Beauchamp! Claro que não! - e então sua mão cai com força em meu braço. Sorrio sem nem me entender. - Eu iria te dar uma sermão e te chutar para sua casa, seu animal podre!

Solto um bocejo forte, espreguiçando-me sobre o sofá. Não, não quero ter de ir para casa, não agora que o sol apareceu e eu terei de voltar para cá.

- Nossa, que ódio de mim por não ter te levado para casa ontem... - Lamar agarra meu braço, puxa-me para que eu levante. Sendo maior e mais forte que eu, facilmente consegue realizar tal façanha. Eu apenas me deixo levar. - Vá para casa, tome banho e coma algo. Depois volte.

- Ah, não, Lamar... - praticamente choramingo quando começa a empurrar minha bolsa e casaco, para que eu leve comigo.

- Vai logo, porra, eu tomo conta de tudo por aqui - deixa-me frente os degraus de escada, num gesto claro para que eu desça. Então eu desço e lhe dou língua antes de sair.

Demasiadamente claro, senhor. O dia está demasiadamente claro. A cidade já está de pé, assim como meu cabelo - noto pelo retrovisor, quando faço cara feia com uma suposta ultrapassagem perigosa. Meu cabelo está uma zona, minha cara está uma derrota, mas mesmo assim tiro uma foto com cara de cansado para dizer que tenho dormido em lugares inusitados ultimamente. E adivinha quem está entre as primeiras pessoas que visualizam o story? Ele mesmo. Me pergunto quando é que vamos conversar.

Quando o assunto é Noah, eu não sei o que pensar. Não traz aconchego, é desconforto. Áspero, como algo arranhando minha pele. Algo arranhando por dentro, proposital, para que arda o miocárdio e eu sinta o gosto doce do veneno. Sei não, mas ultimamente tenho tentado, me atentado, me tocado: é algo que está pendente na minha vida. Penso nisso aqui, no banheiro, escutando música clássica enquanto dou um enxágue na bunda de sabão. Estou com coisas pendentes.

Quando vi Noah, eu pensei que ficaria bem. Mas quanto mais tempo eu ficava lá, mais eu queria conhecê-lo. Queria saber se ainda gostava de café, se o fazia do jeitinho que ainda gosto, o que estava a fazer da vida. Mas não tenho moral, sou desprovido. Não tenho moral, não tenho razão, não tenho porquê. Se ele está me ignorando, não irei culpá-lo por isso. Mas, sabe... Ele virou um pequeno desconforto para mim. Então só quero conversar sobre.

Tenho consciência das coisas que fiz e falei. Fui duro demais. Fui desnecessário, irresponsável e irracional. E passei todos esses meses evitando lembrar dele. Mas sempre que botava os dedos nas minhas redes sociais, não tinha como fugir. Não tinha como fugir do par de fotos nossas no meu feed do ano retrasado. Ele parecia feliz, parecia alegre. E a última lembrança que tinha dele era do seu choro. Do choro que eu causei.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now