eu fico feliz por você

898 184 147
                                    

Estala os dedos, as pupilas grudadas às minhas, os joelhos que esticam-se e dobram numa frequência inconstante e um sorriso que surge vez ou outra, no canto dos lábios, rompendo as frases que diz e eu, quieto, escuto como se fosse melodia clássica. Inclino o corpo quando, entusiasmado, conta quão louco Krystian disse que iria casar-se, que passou o dia inteiro pensando se era verdade ou não. Chega deu o troco errado, contou. Então vou parar de fingir que não sei com o que ele trabalha agora:

— Oh, eu soube da sua floricultura — recosto-me na cadeira. — Posso passar lá algum dia?

— Claro que sim! — sorri, balançando a cabeça. — Eu te mando o endereço...

— Ah, obrigado — sorrio. — Eu fico feliz por você. Sabe, acho que já conversamos sobre isso e você mencionou. E fico feliz que tenha se realizado, isso significa que pôs fé em si mesmo.

Quando eu soube disso, eu praticamente tive um ataque do coração. Porque... Por mais que doesse termos acabado daquela maneira, fui bem afortunado em descobrir por Lamar que ele estava a trabalhar na própria floricultura, pois era apaixonado por flores e tudo mais. E que agora andava com um caderno, fazendo desenhos e praticando tipografia em todo lugar. E era esse tipo de coisa que ele faz nas reuniões para o casamento de Krystian, quando fica quieto demais e usa demais a canetinha esferográfica preta, enquanto deixa o namorado dar opiniões.

— Sim. Na verdade, muito obrigado por me ajudar a pensar nisso — ele sorri orgulhoso. — Não é grande como seu restaurante, mas...

— Deixa disso — cordialmente, ponho a mão em seu ombro — Está tudo indo bem?

— Sim, sim. Melhor do que pensei, honestamente — responde.

— E a faculdade? Está conseguindo dar conta de tudo?

Eu sei o nível de dificuldade que é segurar emprego e estudos nas costas, uma vez que sofri horrores em Paris. E imagino como deve ser cansativo, ainda mais por ele estudar durante a noite. Eu não conseguiria, então o considero um guerreiro.

— Sim, embora eu durma algumas vezes — confessa. Me sinto aliviado por ele estar bem. — Mas estou dando conta de tudo, então me perdôo por isso. Não vou entrar em desespero.

Quero perguntar mais, quero saber mais, sinto que necessito disso. Necessito escutá-lo falar sobre si mesmo, para que eu veja quão bem ele está. Quero vê-lo sorrir também, porque é do seu sorriso que vem o meu. O conforto, o conforto que sinto com o nosso conforto aqui, na luz baixa do restaurante, estirados sobre as cadeiras, as posturas completamente erradas — minha antiga professora de balé diria algo como "você deveria estar tocando os sinos de Notre-Dame" ou "por que não se deita logo?" — e uma proximidade agradável. É bom. É bom, sim.

A porta se abre, então cabelos castanhos invadem meu restaurante, cumprimentando a nós dois e aproximando-se sem hesitação alguma. Eu sorrio para Bailey, mas eu sinto que ele quebrou o conforto.

— E aí? — cumprimento.

— Koi... — sussurra Noah.

Antes de puxar uma cadeira para sentar-se junto a nós, Bailey inclina-se para deixar um beijo rápido em Noah. Viro o rosto, pego o copo d'água sobre a mesa e dou um longo gole. Paro apenas quando o vejo sentado.

Eu gostei de ser amado por Noah, porque eu soube bem antes de ele me dizer pela primeira vez. Eu soube pelos seus abraços em Paris, seus abraços fortes. Eu soube pelos seus beijos em Paris, seus beijos de dor. E era difícil lidar, quando eu sabia disso e queria tê-lo por perto. Queria tanto tê-lo por perto. Passei um ano e meio sem Noah, então espia só a falta de sentido... Sobrevivi todo esse tempo sem ele. Então por que, antes disso, não afastei-me — como sempre fiz em toda minha vida — e tratei de viver sem ele na minha cola?

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedDove le storie prendono vita. Scoprilo ora