eu estou te levando pra casa

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Ele dorme abraçadinho no início, mas depois fica jogado. E eu durmo mal por conta da sua inquietação. Eu amo estar viajando com Noah, mas não vejo a hora de voltar para casa e poder dormir sozinho numa cama. Sinto saudades da minha cama. Prometi não beber mais para ter de dormir no térreo. Só preciso de mais um dia e meio até estar derramado na minha cama, sozinho, sem roupa, apenas enfurnado nos meus mais profundos sonos.

Hoje vamos a uma galeria para comprarmos alguns quadros de arte local, voltamos para deixar tudo no hotel, depois partimos ao museu da Acrópole de Atenas. Almoçaremos no meio do caminho para a Acrópole, ou nos arredores, já que a distância entre ambos não passa de 300 metros. Ao entardecer, decerto caminharemos um pouco e, com sorte, encontremos algum lugar que alugue bicicletas ou patins. Ultimamente não tenho desprendido os olhos do celular, porque o idioma é difícil, também não sei os lugares. Certamente não iremos nos perder, ou meus esforços foram para nada.

Visto-me com roupas frescas, pois iremos passar o dia fora. Noto como meu cabelo cresceu, agora está essa divisão explícita do loiro tingido com a enegrecida raiz. Mas deixe estar. Quando voltar, decido o que faço com minhas madeixas. Até então, amarro o cabelo num coque e aceito que vou sair assim mesmo, que ninguém me impeça. Noah sorri ao ver-me, mas não comenta nada. Que nem ouse, aliás. Que nem ouse.

E a mesma bota de ontem, meu coro levemente gasto, uma bermuda branca e uma camisa estampada em cores quentes que ganhei de Lamar. Em falar nele, pouco manda-me mensagens. Deixa só eu voltar pra eu aparecer na casa dele enchendo o saco até falar comigo. Espia só a merda que vai acontecer.

— Deixa eu ver algo — Noah aparece atrás de mim, erguendo um pouco a barra da minha camisa. Ele olha para algo lá embaixo e depois sorri, largando a camisa como estava.

— Que foi?

— Nada — Noah volta para sua mala e tira de lá um boné que eu juro que é de Lamar. Põe na própria cabeça, virado para trás, depois fica rindo da minha cara ao encará-lo.

— Tem alguma coisa na minha bunda?

— Não — ele sorri, envergonhado. — É que olhei rápido e fiquei curioso, só isso. Essa bermuda deixa mais... Hm... Marca mais seu bumbum, entendeu?

— Ah, entendi — digo. — Acho que vou mudar, porque é até melhor algo mais folgado, por conta do calor.

— Você que sabe — Noah cruza os braços e se apoia no batente da porta do banheiro.

O fato de ele ter notado algo que estava coberto pelo cumprimento da camisa deixa-me um tanto atônito. Saber que está notando cada detalhe do meu corpo poderia causar-me certo desconforto, porém prova que ele está, sim, vidrado no meu físico. Ficou um tempão me vendo desfilar com a bermuda e só agora comenta algo. Noah Urrea tem outras formas de dizer que me quer fisicamente.

Após isso, ambos saímos pé ante pé à galeria que, querendo ou não, é de arte mais moderna e de artistas locais. Acho que passamos mais tempo em dúvida sobre o que levar do que de fato tomando decisões. Ambos nos encantamos com tão variadas cores, formas e linhas. Eu peço para Noah tirar esse boné da cabeça, porque toda hora ele gira e já está parecendo um doido. Sou refutado de dez formas diferentes, mas no fim deixo ele fazer o que quiser.

Voltamos ao hotel com cinco quadros, sendo um deles de Noah. Eu até me ofereci para pagar-lhe mais um, porém me foi negado. Quero agradá-lo também, se pudesse permitir, o que lhe é muita coisa para fazer. Arrumamos as coisas por aqui, compramos um café para viagem e vamos bebendo no caminho para o metrô. Eu sei que linha pegar (a segunda) e qual estação descer. E até seguro a mão de Noah, após beber o meu café, para diminuir os riscos de se perder. Da primeira e última vez que andamos de metrô num país estrangeiro, ele se perdeu e eu entrei em desespero.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now