eu me sinto um derrotado

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Entro. Não, volto. Aproveito que está a atender um cliente. Ergue os olhos para a entrada, uma vez que a sombra do meu corpo está sendo projetada no assoalho. Ele me vê e sorri, fazendo um gesto com a mão para que eu fique a esperá-lo. Já que me enxergou, decido entrar logo. Rondo a floricultura, cheirando uma coisa e outra, cutucando a terrinha das plantas e ajeitando as caixinhas de chá. De dentro da salinha particular, o depósito, surge Zabdiel, de boné azul e bermuda jeans. Ele me cumprimenta. Eu, meio hesitante, faço o mesmo.

— Vocês dois estão uma desgraça hoje — eu não sei de onde veio a intimidade para ele falar assim comigo, mas eu juro que hoje estou sem paciência para dar uma dura.

— Pois é... — desconverso.

A cliente que conversa com Noah recebe o arranjo dela e sai satisfeita da loja. Eu espero que Urrea venha até a mim e assim ele faz. Não diz nada. Segura minha mão e pede para Zabdiel que atenda algum cliente que vier, porque ele vai estar ocupado conversando comigo. Eu engulo em seco. Talvez ele já saiba de tudo. Sorriu para disfarçar, mas já sabe de tudo. E agora que ele está gentilmente puxando-me para o interior do depósito, eu fico a me questionar se ele vai chorar ou vai gritar ou os dois. Porque é o tipo de coisa que Noah Urrea faz quando está magoado comigo.

— Então... — ele começa, agora fechando a porta.

Eu olho um pouco ao redor, agora recordando-me de que já estive aqui antes. Não quero olhar muito no rosto dele, porque vai que ele começa a chorar ou me xingar? Eu não sei o que esperar agora.

— Eu me sinto um derrotado — é o que me diz, surpreendentemente puxando-me pela cintura. — Estou totalmente destruído depois de ontem.

Sua outra mão vem até meu queixo, virando meu rosto na direção do seu. Ele olha nos meus olhos. Estou me sentindo horrível.

— P-por quê? — eu quase esqueço que preciso responder algo, nem que seja uma pergunta estúpida e extremamente retórica.

— Ressaca — ele ri apertando os olhos, envolvendo os braços melhor ao redor de mim. — Como você tá?

— Com dor de cabeça — eu respondo. Já já ele vai tocar no assunto. Espia só.

— Caramba, eu jurava que ia acordar na sua casa hoje! Ou na de Bailey, né... — ele inclina-se o suficiente para beijar minha bochecha. — Queria que fosse com você na cama, porque eu iria ficar abraçadinho contigo por, no mínimo, uma hora. Uma hora só pra me curar da ressaca.

Meu Deus, o Noah não sabe!

— Mas desde quando ficar abraçado com alguém cura ressaca? — tento me segurar em algum lugar que seja quando sou empurrado contra a parede. Ultimamente Noah está viciado em fazer isso.

— Fique abraçado comigo e você vai descobrir — desce o rosto para o meu pescoço e deixa alguns beijos.

Num desses empurra-empurra dele eu acabo encostando na quina de uma estante repleta com caixas de papelão. Acho que é porque estou recuando, mas ele insiste em manter contato comigo. Creio que ele não sabe de nada, senão... Qual o sentido de tudo isso? Pior que eu amo quando ele beija meu pescoço. Não tem como lutar desse jeito.

— Ok, ok... Eu vim aqui para te ver — eu falo, tentando chamar a sua atenção.

Noah ergue o rosto e olha para mim. Ele sorri. Eu acho que sorrio de nervoso.

— Você se lembra de ontem? — questiono.

— Sei lá — sinto seus dedos no meu cabelo, um cafuné gostoso. — Não de muitas coisas. Nós dois bebemos muito! Eu só sei que eu fiquei um tempão no banheiro, porque eu devo ter comido algo esquisito ontem, e tive de cagar. E foi bastante.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora