eu achava que você tinha vergonha na cara

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Ponho uma pastilha de hortelã na boca e dou três tapinhas no meu próprio rosto para lidar com o sono. Nem é tão tarde, mas acho que Los Angeles me dá uma preguiça e cansaço que supera todos os níveis possíveis. Sou acostumado a ficar até tarde da noite no restaurante, então por que esse sono todo de repente? E a preguiça para comprar um café é enorme... Será que existe delivery para o outro lado da rua? Ah, eu teria de levantar para buscar do mesmo jeito, então não faz diferença...

- Lamar... - choramingo, curvando-me sobre o teclado do notebook. - Compra um café para mim, por favor?

- Compre você - o desgraçado nem tira os olhos da tela do computador.

- O que você está fazendo aí?

- Contas, Josh. Contas - estala os dedos.

Estamos numa das mesas do restaurante, recheada de papéis e dois notebooks. O ventinho que vem da rua me arrepia pra valer e até a iluminação baixa me dá esse ar de preguiça. Oh, como eu gostaria de estar numa cama...

- Eu que deveria estar fazendo contas - inclino-me para olhar a planilha que ele está preenchendo. - Amado, essa tarefa é minha.

- Você está enrolando há trinta minutos, Beauchamp - finalmente seu olhar pousa no meu. - E seu óculos está todo sujo, me dá agonia.

- Eu limpo meu óculos se você atravessar a rua e comprar café para mim. Americano - sorrio descaradamente.

Lamar fica, literalmente, quinze segundos me encarando sem dizer nada.

- Eu te odeio - levanta-se rapidamente e decide cumprir com seu lado do acordo.

Mas eu não vou levantar nem a pau, pode sonhar. Tiro o óculos do rosto, levo-o até a barra da camisa e limpo delicadamente com o tecido. Sei que isso é errado, mas eu nunca faço isso, então uma vez ou outra no século não irá danificar a lente. Ainda mais porque estou sendo demasiadamente cuidadoso, o que é um bom sinal. Sendo assim, ponho o óculos outra vez no rosto e sorrio com a volta de Lamar.

- Sua porcaria - me entrega, sentando-se outra vez ao meu lado. Até mais próximo, noto.

- Merci beaucoup, monsieur - jogo minhas pernas sobre as deles e recosto-me para beber meu café. Está fenomenal.

Eu gosto de ter intimidade com Lamar e ele não ligar para isso, porque ainda puxa minhas pernas para que eu fique mais confortável. Então bebo meu café, ajudando ele a preencher as células da planilha e até dando dicas de alguns atalhos e funções da plataforma. Quando termino meu café, silenciosamente volto a organizar minhas tarefas para esse mês.

- Falou com os fornecedores hoje? - pergunta-me, vindo mais próximo para que eu não precise esticar tanto a perna.

- Uhum... Me estressaram um pouco, mas até o final da semana trarão. Está marcado para quinta, então espero que venha logo. Precisamos de hortaliças urgentemente. Dei uma olhada na dispensa e quase surtei - curvo meu corpo sobre a mesa outra vez, pensando em me render ao sono. - Terminou aí no Excel?

- Sim. Saímos no verde, como sempre - ele estica a mão, cofiando meu cabelo. Relaxo com seu contato.

- Isso é paz e qualidade de vida - comento, já deitado sobre meu braço direito e com os olhos fechados. - Estou feliz por estarmos dando conta disso. Você sabe... Anos atrás, era meio incerto.

- É, mas não temos que nos preocupar com isso. Você está indo bem, nós estamos indo bem - continua a afagar-me. Lamar está mais carinhoso que o normal, mas no momento não me importo muito com isso.

Mudo a posição da minha cabeça, uma vez que meus brincos estão incomodando meu braço. Assim que me conserto, abro os olhos e percebo uma movimentação estranha vinda de Lamar. Inclina o corpo, aproxima-se de mim e, em questão de segundos, sinto seus lábios nos meus. Entro em pânico instantaneamente.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now