eu nunca fui tão íntimo assim antes

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Meus olhos pesam, embora eu saiba que não posso cochilar com a máscara no rosto. Noah está desenhando alguma coisa no bullet journal dele, porém a mão esquerda está acariciando a minha. Quero muito dormir, muito mesmo. Mas ainda não. Preciso esperar a máscara secar no rosto.

Hoje foi nosso último dia aqui em Santorini. Ontem à tarde ficamos na piscina o tempo inteiro, após voltarmos do passeio. E, na maioria das vezes, eu e Noah nos beijamos. Acho que já estamos agindo feitos namorados, mesmo que ainda não somos.

Hoje pela manhã fomos turistar. A real é que esse lugar é lindo demais, nem consigo acreditar. Sentamo-nos nas relvas, esticados, o vento lambendo o suor da minha barriga após eu ter arrancado a camisa. Comemos em silêncio, também tiramos fotos, e noutro momento nos beijamos mais. Completamos a trilha um tanto cansados e suados - eu não coloquei a camisa de volta, então foi até melhor -, porém foi interessante em demasia. Fomos a um arquipélago, depois a um restaurante, e por fim ao farol (Akrotiri Lighthouse). Fomos de scooter, porque não há transporte da cidade para lá, mas eu realmente amei o pôr do sol. Ficamos sentados nas pedras, olhando no horizonte o sol se agachar devagar. Noah me deu a mão e acho que esse momento vai entrar no álbum de breguices que eu acabei gostando.

Fizemos compras, ademais, após muito chororô da minha parte. Então, numa loja, nos arrumei um anel da amizade. Amizade porque, rolando namoro ou não, o que de fato valorizo mais é nossa amizade. Ela é muito mais importante que um beijo na boca, sendo sincero. Não sei se Noah entendeu muito bem minha intenção com o anel, porque ele ficou meio sério quando lhe contei que era amizade. E ele não disse nada, a não ser balançar a cabeça e acompanhar-me ao caixa. Mas ficou mais leve, fluído, quando com o tempo peguei sua mão e ficamos a andar na rua esfregando ambos anéis. Acho que no fim ele gostou, porque até agora está usando.

Agora estou tomado banho, de roupão, deitado na cama, olhando para o teto enquanto seguro a mão de Noah. E Noah, que acaricia minha palma com seus dedos, está de bruços desenhando no bullet journal. E baixinho, bem no fundo, está tocando Bach, do meu notebook que esqueci de desligar. Vez ou outra sinto os lábios de Noah na minha mão, beijando distraidamente, ou então apenas encostando contra o rosto. Ainda que esteja calor, gosto de sentir sua respiração quente escorrendo pela minha pele.

- Sua mão tá suando - ele comenta, largando-a e sentando-se na cama. - Vou ligar o ar.

Noah pega o controle e liga o ar-condicionado. Não obstante, ajuda-me a tirar a máscara do rosto com tamanho zelo e atenção. Quando acaba de fazer o descarte no meu lugar, volta para a cama e dá-me um beijo na bochecha. Eu faço o favor de puxá-lo de volta, porque obviamente não me contento com isso. Abraça-me e agora eu gosto. É o cheiro da sua pele, a textura dos seus lábios, o gosto de mel da balinha que ele estava chupando...

Agora estamos mais íntimos, devo pontuar. Antes só puxava o meu cabelo e está tudo bem... Mas quebramos algumas barreiras... Como, por exemplo, o fato de sentir-se livre para ter minha bunda em mãos por baixo do tecido do roupão. Ou eu empurrar meu quadril contra o dele, mesmo que estejamos sendo apenas carinhosos. Tem vezes que faz massagem nos meus ombros e me distrai com sua respiração devagar e ligeiramente sensual perto da minha orelha.

Eu tenho que ir lavar os resquícios da máscara, mas não consigo largar seus beijos. Se não é sua língua, são os selinhos gostosos que visitam a mim. Sinto-me um jardim inteiro, e ele curioso não tira as mãos dos meus canteiros. Traço feito pintor a linha montanhosa da sua coluna, enquanto recebo beijos na clavícula. Ele ama beijar-me em qualquer lugar. Enrolo nossas pernas, porque não quero perdê-lo. Enrolo meu coração, não quero que a queda deixe tantas sequelas.

Nem sei se foi esse ar todo de vovô que me cativou. Ele me tirou do óbvio, pisoteou minha zona de conforto, me fez questionar o porquê de tudo e todos. O ponto em questão não são os beijos, que agora voltaram aos lábios e rasgam minha boca de agonia pela compreensão. Você compreende o que sinto? É o que eu estaria interpretando.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now