eu também tô querendo ser seu namorado

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Nossa viagem de volta é tranquila. Eu durmo boa parte dela, principalmente porque Noah está quietinho e não tenta brincar nem nada do tipo. No aeroporto nos separamos, porque achei mais válido cada um ir diretamente para sua casa. Ele me dá um beijo na bochecha antes de entrar no carro e eu aceno com entusiasmo.

Estou chegando com mais malas do que fui. Comprei muitas, muitas coisas. Preciso fazer três viagens da varanda (onde coloco todas elas assim que desço do táxi) até um dos quatros para trazer todas as coisas. Minha primeira atividade é me jogar no sofá e cochilar. Acho que mereço.

Acordo e já são sete da noite. O céu está nublado quando subo ao terraço. Dou uma enchida na jacuzzi e encontro paz numa hidromassagem excepcional. Às prováveis nove e meia eu vou, ainda enrolado no roupão, checar o que é que tem na geladeira. Encontro ingredientes suficiente para preparar algo só pra enganar o estômago. Sento no silêncio confortante da minha casa e como comigo mesmo. Às vezes sinto que não há companhia melhor.

Carregador do meu celular vai à tomada, já eu caio no sofá outra vez. Fico a assistir televisão tomando sorvete. Não sei com que paciência estou para assistir dramas, mas aqui estou eu. Acabo dormindo antes mesmo de desligar a televisão, então quando acordo o moço do jornal está me desejando bom dia e há tiras de luz solar escapulindo das persianas.

Converso com Lamar sobre minha volta e que irei passar no restaurante hoje. Me arrumo o mais lento que consigo, porque ainda estou com sono e toda hora preciso avisar a alguém que estou de volta. Com um tênis, uma calça e meu sobretudo caramelo, eu saio de casa. Minha agonia me faz voltar no meio do caminho para apanhar uma máscara descartável. Tenho muitas coisas para fazer, mas meu incômodo sobrepõe.

Suponho que hoje irá chover, pois o tempo está úmido em demasia. Mas a vida continua, certo? Checo as faturas dos cartões, contas da casa e ainda tenho que ir ao posto encher o tanque com gasolina. Acho que tenho que dar uma freada em meus gastos, porque as faturas vieram bem altas. De todo modo, já estou à caminho do restaurante e ninguém tira o prazer que sinto ao chegar lá.

Richard quase dá-me um abraço pela minha volta, já Lamar me abraça mesmo. Passamos os três a manhã inteira conversando sobre o restaurante e, ainda mais, sobre o treinamento que irei dar aos cozinheiros daqui a um ou dois meses. Após tanta conversa com fornecedores e pesquisas — porque meu foco é trazer massas italianas para os pratos —, é chegado o horário de almoço. E então hoje acaba se tornando um dos dias que mais trabalho, porque fico indo de um lado para o outro, entrando e saindo da cozinha e até de garçom eu sirvo hoje. Mas faz parte. Dias de luta, dias de glória.

Erick e Joel não param de me perguntar como foi Santorini e Atenas. Como não quero pôr fogo na lenha, digo apenas que foi surpreendente mais divertido do que pensei que seria. Eles me encharcam de perguntas o expediente todo e somente me deixam em paz quando estou fechando o restaurante. Me convidam para beber, eu acabo aceitando, mas só se comprarmos as bebidas e formos para a casa de algum deles. Não quero ir a bar algum, tampouco balada.

— Tá se comportando agora, Josh? — Erick comenta comigo, enquanto pegamos as garrafas e colocamos no carrinho para comprar.

— Não, só não quero sair de um sofá hoje. Estou exausto — comento num bocejo. Parece que estou num pequeno choque pelo fuso horário, estou confuso.

— Ainda queremos que você nos conte em detalhes como foi o passeio com o namorado — Joel diz, empurrando o carrinho e usando um tom de quem não quer nada de mais.

— Ele não é meu namorado... — explico. — Ainda.

— Ainda? — Erick ri. — Safado!

— Eu tô pensando em pedir sábado — confesso. Arranco as garrafas do carrinho e coloco na esteira do caixa. Os meninos fazem o mesmo. — Eu sei que ele vai aceitar.

— Você ficou bêbado naquele dia e disse que ele era seu namorado e você disse que amava ele — Erick, filho da mãe, volta para o mesmo assunto.

— Que ódio eu tenho de você por ficar me lembrando disso — finjo que vou lhe dar um murro, mas apenas tiro o cartão do bolso. Jogo tudo no débito mesmo, porque da última vez que fiz no crédito minha fatura sambou na minha cara.

— Ué — o maldito ainda ri. — E você tem algum plano?

— Plano de quê?

— Pedir ele em namoro — Erick revira os olhos.

Colocamos tudo na ecobag que comprei na mão de Noah e saímos pela rua, após retirar o cartão. Como a casa de Joel é por aqui, estamos descendo a ladeira para chegar até lá. Enquanto isso, os meninos ficam falando de mil e umas coisas para eu fazer no pedido de namoro. Envolve balões, carro de som, música especial.... Um monte de palhaçada brega e ridícula.

— Pedido de namoro não é só chegar na pessoa, perguntar se quer namorar, depois se beijar e pronto? — minha resposta para tudo que eles me falam é isso.

— Nossa, Josh — Erick ri. — Seja um pouco mais sentimental.

— Estou sendo — confesso, parando na frente da casa de Joel e aguardando ele aparecer para digitar a senha. — Vou comprar um celular para ele amanhã. Aí sábado eu vou aparecer para dar a ele e aproveito e oficializo nossa relação.

— Meu Deus, Josh é aqueles youtubers padrãozinhos que gravam vídeo pedindo menina em namoro com iPhone! — Joel exclama, fazendo piadinha idiota com o assunto.

Dou um supapo nele enquanto entramos. Erick fica rindo na porta, antes de fechar. Eu deixo meu tênis na entrada e já vou caçando a cozinha para pegar um copo para descer logo um golão do vinho. Sentamos no chão comendo churrasco de rua e bebendo, batendo papo sobre eu ser frio e calculista.

— Guys — chamo atenção deles. — Já sei. Vou colocar dentro da caixa do celular um papel escrito: "quer namorar comigo?" E dois bloquinhos para ele marcar com "sim" e "não".

— Josh parou na quinta série — Joel volta a me zuar. Eu dou um chute na canela dele. — Ai, menino...

— É o máximo que vou fazer — dou de ombros, servindo-me mais da bebida.

— Moleque pão-duro! — Erick gargalha.

— Como é que sou pão-duro comprando um celular pra ele?

— Aliás, sobre o celular... Ele pediu, foi? — Joel decide focar nisso do nada.

— Não — eu até rio da cara que acho que Noah vai fazer quando eu aparecer com o celular. — Ele vai me matar, na verdade. Mas como o último celular dele foi Android, acho que vou comprar um novo da Samsung aí.

— Josh, eu também tô querendo ser seu namorado... — Erick, interesseiro que só ele, começa a tentar me abraçar.

— Tu acha que é certo mesmo comprar,  já que ele não quer? — Joel me questiona, ignorando as palhaçadas do Erick.

Fico ocupado escolhendo um espetinho, pensando no assunto. Talvez ele queira, só tem vergonha de pedir. E eu quero ajudá-lo, então acho que ele vai gostar no final das contas. Não há problema algum, certo? Noah adora qualquer coisa que faço. É muito fácil agradá-lo. Espero que essa vez eu consiga.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedWhere stories live. Discover now