c a p í t u l o 4 0

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Nos afastamos e fico hipnotizado pela imensidão de sentimentos que consigo enxergar sem dificuldade em seus olhos e me dou conta de que eles ficam mais claros toda vez que ela chora mas não quero isso, quero vê-los felizes e despreocupados como na primeira vez que a beijei. Passo meu polegar em seu rosto fazendo um carinho tão significativo para nós dois e Melanie inclina o rosto na palma da minha mão. O laço de raiva que estava sufocando é desatado quando ela sorri me olhando como se eu fosse o melhor presente que ela já ganhou na vida. Reparo que seu nariz e bochechas estão vermelhos pelo choro e acho que pelo estresse que sempre cresce de forma desenfreada quando conversamos.

— Preciso saber o que vamos fazer daqui pra frente. — Ela sussurra me olhando fixamente e fico pensando em como dar início a mais uma conversa importante sem deixar espaço para dúvidas ou coisas que possam ser mal interpretadas.

— Não sei, Melanie. Eu realmente não sei. —  Falo com sinceridade e sua expressão fica confusa. —  Acho que precisamos aprender a conversar e entender um ao outro, você é impulsiva e interpreta tudo do pior jeito possível, mal tenho tempo de pensar no que falei e você já saiu de perto sem olhar para trás.

— E você fala coisas horríveis quando está nervoso e tende a querer me empurrar para um precipício para assumir a culpa de coisas que não fiz. —  Melanie fala e a irritação é óbvia em cada palavra.

— Não quero fazer mais isso, não quero te magoar desse jeito nunca mais. Só preciso de tempo e espaço para assimilar tudo isso que aconteceu. —  Falo e Melanie ergue uma sobrancelha me olhando com frieza.

—  E não é o que eu mais tenho te dado, Harry? —  Ela se afasta sentando no primeiro degrau da escada e sua distância me faz ter consciência das minhas roupas molhadas.

— Tá vendo? Não entendeu o que eu quis dizer outra vez. —  Reclamo passando as mãos no cabelo com força.

—  Eu entendi sim, só não quero que fale desse jeito porque parece que não respeito esse precioso tempo que você vive me pedindo. —  Ela diz com o cenho franzido e suspiro pesadamente.

—  Não quis dizer isso, só estou dizendo que preciso de tempo para entender tudo o que aconteceu nesses últimos dois dias que ficamos separados. Não quero brigar, por favor.  —  Falo apertando minha nuca e ela inclina a cabeça me olhando com atenção.

—  Só quero saber se posso realmente confiar em você. —  Melanie fala e sinto uma fisgada no meio do peito quando ela toca, mesmo sem saber, no que descobri recentemete ser um ponto fraco. Esfrego os olhos tentando afastar da minha cabeça as lembranças indesejadas de Lilly me traindo.

—  Confiar em mim? —  Minha voz sai fraca e Melanie assente em silêncio.

— Já é notícia velha e ultrapassada o quanto eu gosto de você, mas também não é novidade nenhuma que você não sabe lidar com isso. —  Melanie fala olhando em meus olhos e o ar quase não entra em meus pulmões quando sinto o peso das suas palavras. — Não vou entrar nessa história para correr o risco de ter meu coração pisoteado duas ou trêz vezes por semana pra você se arrepender e tentar curá-lo com doses mínimas de carinho e compreensão porque se sente pressionado por saber o que sinto, não posso me arriscar assim.

—  Eu já disse que vou retribuir o que você sente por mim. —  Falo e mordo a língua quando vejo os ombros de Melanie caírem visivelmente como se eu tivesse jogado peso sobre eles.

—  Não é assim, Harry. Não quero se for desse jeito. —  A fragilidade em sua voz mostra o quanto minhas palavras a afetaram.

—  Então como é? Não consigo pensar direito com você me pressionando querendo uma reposta sobre tudo, não tenho controle sobre mais nada na minha vida, não é óbvio?. —  Minhas palavras saem agressivas e tenho vontade de socar a minha cara na parede.

— Isso nunca vai dar certo enquanto você ficar na defensiva comigo! Não estou te pedindo para me doar um órgão ou dizendo que estou grávida, você não tem obrigação nenhuma comigo. Só não vou deixar você entrar na minha vida com beijos de tirar o fôlego e palavras que me fazem querer morrer. Se você quer saber, eu passei a vida inteira sem o amor da minha própria mãe, não vou morrer se não puder ter o seu. —  Ela diz se levantando e ficando quase na minha altura apesar da distância de três passos que nos separa.

—  Melanie, não coloquei as coisas desse jeito. —  Falo tentando diminuir a tensão entres nós dois e tenho certeza que falhei quando ela cruza os braços sobre o peito. —  Só não estou conseguindo demonstrar o que estou realmente sentindo.

—  Por que não?

—  Porque também tenho medo de ser magoado outra vez. — Confesso e ela fica em silêncio enquanto palavras não ditas reverberam entre nós dois.

—  Por causa dela você não consegue confiar e se abrir comigo. — Ela murmura com seus olhos ficando tristes imediatamente.

— Sinto muito, não quero que você fique se sentindo mal por causa disso. Só não sei como esquecer tudo o que aconteceu antes desse acidente, eu fiquei apagado por nove meses e quando acordei tudo era diferente. A pessoa que eu amei e dediquei a minha vida por mais de três anos não estava comigo no momento que eu mais precisei e minha família tinha sido cuidada por uma garota de lindos olhos azuis que eu nunca tinha visto na vida. — Falo e ela dá um sorriso triste.

— Você ainda sente alguma coisa por ela? — Melanie pergunta e sorrio aliviado quando consigo admitir tanto para mim quanto para ela o que descobri há algum tempo atrás.

— Eu não a amo mais. — Falo com toda sinceridade que consigo exprimir mas ela não esboça nenhuma reação então decido contar o que pode ter sido um dos motivos que me fez sofrer aquele acidente que a trouxe para a minha vida. — Nós nem estávamos tão bem assim antes do meu acidente, só não esperava que as coisas fossem acontecer daquele jeito. E pra ser sincero, estou com a cabeça a milhão depois que consegui me lembrar que eu saí descontrolado da casa dela porque a vi fazendo sexo com outro cara.

— Harry. — Melanie me olha com compaixão e apenas dou ombros fingindo que meu peito não está ardendo terrivelmente.


— Tudo bem, só fico louco da vida porquê eu simplesmente não lembrei disso quando acordei. — Falo sem conseguir olhar em seus olhos e sua voz me traz de volta para a realidade.

— Então é por isso que você não consegue pensar num futuro comigo. — Ela diz como se todos os seus maiores medos tivessem se tornado realidade e mesmo que não tenha sido uma pergunta, eu assinto com um nó na garganta. Meu corpo inteiro fica em alerta quando Melanie se aproxima devagar e toca o meu rosto com doçura. —  Tudo bem, vou te mostrar que não sou como ela.


Fico parado sem quase respirar direito quando ela dá um beijo onde meu coração está batendo desesperadamente. Suas mãos tocam meu rosto, pescoço e braços enquanto ela sussurra palavras cobertas de carinho que me fazem ficar com os olhos ardendo de lágrimas que pensei que nunca fosse capaz de libertar. Suas mãos chegam aos meus braços apertando levemente me fazendo sentir arrepios por todo o meu corpo.


— Consegue sentir? — Ela pergunta colocando minha mão esquerda debaixo da sua e consigo sentir seu coração tão acelerado quanto o meu. — Ele está te dizendo para não ter medo, que vai cuidar de você.

— Melanie. — Seu nome escapa trêmulo dos meus lábios e ela sorri.


— Você vai ficar bem. — Ela diz em tom de promessa e apenas assinto incapaz de falar alguma coisa que faça sentido.


Melanie tira nossas mãos de seu peito e com um olhar de quase súplica ela segura minha mão com fazendo um sinal com a cabeça me chamando para subir a escada com ela. Me deixo guiar e no final do corredor estreito cheio de fotografias nas paredes, entramos na última porta que acredito ser o seu quarto visto que a porta estava decorada com borboletas, mal consigo olhar ao redor quando Melanie me leva até o banheiro do seu quarto. Ela me guia para sentar sobre a tampa do vaso e se abaixa para tirar meus sapatos e meias molhados como se eu fosse uma criança.

Seus olhos ficam grudados nos meus quando ela segura na barra da minha camisa me pedindo para tirá-la e com as mãos trêmulas, tiro com dificuldade a camisa úmida do meu corpo. Ela põe minha mão sobre o botão da minha calça e sinto que meu mundo dá uma virada brusca quando ela tira o seu pijama ficando apenas de top e calcinha roxos. Melanie entra no box e liga o chuveiro enquanto me atrapalho tirando minha calça jeans que parece estar colada no meu corpo. Estou tentando agir normalmente por estar apenas de cueca no seu banheiro quando ela estica sua mão me chamando. A água está quente e caí sobre minha cabeça me fazendo arfar pela mudança de temperatura.


— Você é muito alto, senta aqui. — Melanie puxa um banquinho preto de plástico e sento tendo total noção de que estou quase na altura de seus seios. Ela se aproxima novamente com uma pequena esponja em forma de coração coberta de sabonete líquido e passa sobre o meu peito.

The Only Reason - HSDonde viven las historias. Descúbrelo ahora