c a p í t u l o 1 7

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❗Alerta de gatilho no decorrer do capítulo: insinuações sobre suicídio, abuso sexual e automutilação.❗



— Você não precisa fazer isso por mim, eu estou bem. — Iris fala olhando pra todos os lados menos os meus olhos. Belisco sua mão e ela vira seu rosto pra mim. A cor amarelo arroxeada debaixo de seus olhos fazem com que eles pareçam ainda mais escuros e sombrios.

— Eu quero. Não é como se eu tivesse alguma coisa melhor pra fazer hoje. — Agora quem desvia os olhos sou eu para que ela não veja minha expressão de tristeza e raiva por não saber lidar com tudo o que aconteceu e tem acontecido desde o dia que caí da escada.

— Eu estou com medo. — Ela sussurra parecendo uma criança assustada e respiro fundo tomando o papel de responsável e paciente.

— Tudo bem, sentir medo é normal, ainda mais numa situação como a sua. Mas vamos conseguir passar por isso da melhor forma, só precisamos saber por onde começar. — Falo tentando não transparecer meu nervosismo e ela franze o nariz.

— Eu não quero começar, sinto que se fizer isso, será o adeus definitivo e não quero perdê-lo outra vez. — Seus olhos ficam cheios de lágrimas e meu peito aperta com a força de mil nós.

— Não tem jeito fácil de dizer adeus, lembra? — Pergunto baixinho e ela assente com os lábios apertados. — Eu não faço a mínima ideia do que ele escreveu naquela carta, a única coisa que tenho certeza é que você precisa ler. Viver sem saber o que está ali vai te perturbar um dia após o outro até você enlouquecer de vez.

— Eu sinto tanta falta dele, Melanie. Nos falávamos todos os dias, nos víamos todos os dias... Achei que o conhecesse como ninguém mas me enganei, não vi o furacão que estava se formando dentro dele até ser tarde demais. — Ela confessa aos prantos e preciso contar até vinte três vezes para não cair no choro junto com ela.

— A culpa não foi sua, Iris. Você entende isso? — Pergunto baixinho e ela balança a cabeça negativamente com as lágrimas manchando seu rosto.

— Eu deveria ter agido de forma diferente, ter sido mais presente e não deveria ter ficado tranquila com a ideia dele voltar pra casa depois de tudo o que aconteceu. — Ela diz com raiva e suas palavras me atingem com violência. Vejo meu próprio reflexo na sua dor, raiva e mágoa de si mesma, e entendendo a dimensão de tudo o que está acontecendo com ela, mudo o rumo da conversa pra tentar fazer pela minha melhor amiga o que ela já fez por mim: me livrar do peso da culpa de uma tragédia que eu não tive participação.

— Você não tem culpa, Iris. — Afirmo levantando a voz olhando diretamente em seus olhos. — August estava lutando contra os seus próprios demônios e infelizmente, não conseguiu vencê-los. Você deu apoio, amor, atenção e todos os cuidados necessários pra ele superar toda aquela bagunça mas não era disso que ele precisava. Quando a dor é tão forte que nos faz perder a visão e todos os outros sentidos, tudo o que queremos é dar fim em tudo que nos sufoca, é uma luta infindável contra a tristeza, raiva, mágoa, vazio e dor. — Minha voz falha terrivelmente e percebo que estou trêmula ao ponto de bater os dentes enquanto falo. — Nada disso foi sua culpa, você sempre foi mais que uma amiga e tentou ajudá-lo de todas as formas possíveis. A culpa não é sua.

— Eu não consigo ver por esse lado. Só consigo fechar os olhos e vê-lo perdendo a vida em um maldito replay. — Ela diz secando o rosto com força e puxo suas mãos para que ela não se machuque.

— Você acha que eu tenho culpa pela morte do meu pai? — Pergunto bruscamente e ela não demora pra responder.

— Óbvio que não, você era uma criança e não tinha como controlar o que poderia acontecer naquele dia. — Ela diz como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e eu cruzo os braços com dificuldade. Mesmo tendo mais de um mês desde o acidente, ainda sinto dor no meu ombro e tenho um pouco de dificuldade em fazer movimentos bruscos.

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