c a p í t u l o 1 5

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Grito quando sou engolida por um abraço apertado demais para quem está com o ombro recém colocado no lugar, meu avô me solta assustado e fica me encarando e segura a minha mão como se tivesse medo que eu desaparecesse com o vento. Passos apressados e um palavrão me fazem rir de nervoso, minha avó está resmungando atrás do meu avô e fica em silêncio quando ele sai de seu campo de visão e ela consegue enxergar o motivo dessa bagunça tão tarde da noite.

Seus olhos se enchem de lágrimas e ela leva sua mão trêmula até a boca me olhando dos pés a cabeça. Um suspiro estrangulado sai de seus lábios e ela caminha lentamente até mim. Suas mãos passam pelo meu cabelo molhado e meu rosto, me inclino em sua direção querendo mais carinho e ela me abraça delicadamente antes de chorar histericamente. Me perco no calor do abraço dos meus avós e meu coração reclama quando eles me soltam e puxam para dentro de casa. O cheiro de canela invade  meus pulmões e a sensação de estar em casa me deixa quase tonta. Minha avó me leva até o sofá e me abraça com cuidado ainda sem conseguir parar de chorar. Olho ao redor da sala e vejo uma parede repleta de fotos antigas e em quase todas, eu estou lá. Fotos que mostram, mesmo com anos de distância e saudade, que eu nunca fui esquecida e que eles sempre me amaram. É tanta coisa que não consigo controlar a enxurrada de sentimentos que me invadem e começo a chorar. Um choro angustiante e completamente amargo, é horrível a sensação de ver tudo o que eu perdi todos esses anos. Tantos natais e aniversários que eu passei sozinha chorando por puro egoísmo da minha mãe quando eu poderia viver numa casa rodeada de amor. Sufoco um grito quando toda tristeza se transforma em raiva e faz meu corpo inteiro doer por tamanha injustiça que foi cometida não só comigo mas com meus avós também. 


— Eu sinto muito. — Falo entre soluços e minha avó chora mais ainda. Meu avô pega um copo de água para minha avó e outro para mim. 

— Você não tem que se desculpar, borboleta. — Meu avô fala segurando minha mão e volto a chorar. — Se alguém errou nessa história, foi a Renée. Mas também não a culpo, ela sempre foi psicologicamente instável e nós deveríamos ter feito alguma coisa antes dela sumir com você. — Minha avó assente limpando as lágrimas. — No final das contas, acho que todos nós temos uma grande parcela de culpa. A única inocente nessa história sempre foi você, — ele diz com os olhos marejados. — e nós falhamos terrivelmente.

— Eu não fazia ideia do que tinha acontecido, só hoje, quando fui parar no hospital que encontrei tio John por acaso e ele me contou tudo. — Falo trêmula e meu avô assente deixando claro que sabia do encontro e conversa que tive com meu tio mais cedo. 

— Ela fez isso com você? — Minha avó pergunta com tanta tristeza e raiva que volto a me sentir culpada. 

— Estávamos discutindo e eu caí da escada, não consigo afirmar ou não se ela me empurrou mas eu tenho certeza de que ela me negou socorro. Quem me levou para o hospital foi o filho do motorista dela. — Falo com gratidão e me forço a lembrar de procurar Liam e agradecê-lo por ter me ajudado. — Eu não sabia pra onde ir e como tio John me deu o endereço de vocês, pensei que pudéssemos conversar. Estou me sentindo tão perdida. — Confesso com vergonha e minha avó volta a chorar.

— Você sempre vai ter pra onde ir, meu amor. — Minha avó fala com ternura e um pouco da minha raiva se dissipa quando ela faz carinho no meu cabelo. Um toque com tanto cuidado que agulhas espetam meu peito fazendo questão de me mostrar tudo o que eu perdi. — Aqui é sua casa, sempre foi.

— E sempre vai ser. — Meu avô completa e assinto com meus olhos ardendo por lágrimas que não quero derramar. — Você quer tomar um banho e descansar? Pelo o que John me contou, hoje foi um dia exaustivo psicologicamente pra você. 

The Only Reason - HSWhere stories live. Discover now