The Only Reason - HS

c a p í t u l o 1 8

— Por que você não conversou conosco antes? — Meu avô pergunta e respiro fundo antes de conseguir responder.

— Eu tive medo e vergonha. — Falo e todos ficam em silêncio.

— Medo e vergonha do que? — Tio John pergunta tranquilamente e meus olhos ardem pelas lágrimas que me forço a segurar. Não sei onde estava com a cabeça em organizar essa reunião pra dizer como estava me sentindo.

— Esses últimos dois meses foram muito difíceis pra mim. Tudo aconteceu rápido demais e eu não soube, e ainda não sei, lidar com isso tudo. — Confesso e a expressão de tristeza da minha avó é um soco no meu estômago. — Vivi um verdadeiro inferno desde o dia em que Renée me levou pra longe daqui e sinto que existe um abismo entre o que eu sinto e a forma que vocês estão me vendo.
Fui lembrada todos os dias, quando ela estava em casa, de que eu era a culpada pela morte dele. De como eu era egoísta e por isso era punida pela vida. Que por ter sido a responsável pela morte dele, vocês me excluíram de suas vidas sem pensar duas vezes. — Falo e balanço a cabeça jogando pra longe dos meus pensamentos a voz venenosa de Renée. — Troquei de colégio mais vezes do que seria considerado saudável, parecia que todas as vezes que eu criava algum vínculo, ela fazia questão de me levar pra longe. Voltar pra Kierstenside veio com uma sucessão de acontecimentos ruins. As lembranças, ou o que eu achava que elas eram, me atingiram em cheio desde o meu primeiro dia aqui. Pra vocês terem ideia, eu só descobri a verdade sobre o que aconteceu quando fui parar naquele hospital após cair da escada.

— Por isso a sua hostilidade quando te encontrei no hospital. — Tio John conclui e confirmo envergonhada.

Paro pra falar e me obrigo a olhar nos olhos de cada um deles. A expressão do meu avô é indecifrável, vovó está com os olhos cheios de lágrimas, tio John e Gleene estão em silêncio me observando.

— E além de toda essa confusão que eu tento sufocar dia após dia, até hoje não sei como viemos parar justamente aqui. Ainda mais depois de tudo o que aconteceu. Se a intenção dela era me manter longe por todos esses anos e continuar me escondendo debaixo da sua lona de xingamentos e agressões até o fim dos tempos, porque voltar justamente pra onde tudo começou?

— Eu abri um processo contra ela. — Meu avô fala e fico surpresa. — Depois que Gleene conseguiu anular a ordem de restrição sem fundamento que ela pediu, abrimos um processo exigindo uma segunda análise e leitura do testamento de Alex com todos os beneficiados presentes.

— Nossa intenção nunca foi mudar o que seu pai deixou, a única coisa que pensávamos era em te trazer de volta. — Vovó fala e todos assentem.

— Sou testemunha disso. — Gleene fala fungando e tio John aperta a mão dela. — Passei anos procurando toda e qualquer brecha que eu pudesse me enfiar pra conseguir encontrar você.

— Eu não sabia disso. Nunca passou pela minha cabeça que vocês estavam me procurando, eu sempre ouvi que vocês se afastaram de mim porque me culpavam pela morte dele.  — Falo e minha avó vai no choro. — Quando vim pra cá depois do acidente foi uma mudança brutal. Me sinto a pior pessoa do mundo por não conseguir lidar com tudo isso.

— Lidar com o que? — Meu avô pergunta confuso e me sinto uma criança contando que comeu sorvete antes do jantar.

— Com o amor de vocês.

— Melanie. — Gleene sussurra levando as mãos até o coração.

— Todos esses anos nunca tive ninguém pra cuidar de mim, pra me amar e respeitar.  Eu tive febre, gripes e resfriados mas tinha apenas cuidados médicos. Quando fiquei menstruada pela primeira vez fui jogada num consultório de ginecologista pra entender o que eu teria que fazer dali pra frente. Eu nunca tive ninguém além de profissionais da saúde pra conversar comigo. Até Niara e Geoff aparecerem, sempre me senti sozinha feito um móvel velho que não tem valor emocional porém é impossível passar pra frente ou jogar fora por não valer nada. Como se eu estivesse ali pra acumular poeira, xingamentos e acusações.