c a p í t u l o 1 9

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- Nunca achei que você fosse me fazer uma proposta dessas. - Falo sem graça empurrando o envelope marrom por cima da mesa e vejo Anne ruborizar.

- Não me interprete mal, mas você já fez tanto por mim nesse período de internação do Harry que achei que seria justo retribuir dessa forma. - Anne fala e tenho vontade de sair correndo.

- Não posso aceitar seu dinheiro, Anne. - Tento não parecer ofendida mas o leve franzir de seu cenho mostra que não consegui fazer tal coisa. - Olha, eu entrei na vida de vocês por acaso e pra ser sincera, não esperava que fosse ficar tanto tempo por perto. Já nos conhecemos há algum tempo, já passei várias noites e dias com Harry no hospital, Gemma já até dormiu na minha casa e você conhece toda a minha família. Acho que posso dizer que nos tornamos amigas, e amigas se ajudam sem cobrar nada por isso.

- Melanie, eu sinto muito. Não quis te ofender e somos amigas sim, Gemma é louca por você. - Ela diz com os olhos azuis marejados e estico minhas mãos para alcançar as suas.

- Sem problema, eu entendi o que você quis dizer. Também sou doida por ela. E sabe, enquanto vocês me permitirem ficar por perto, eu ficarei.

- Você já fez mais pela nossa família do que qualquer pessoa que convivia diariamente e praticamente morava conosco. - Ela diz amargamente e ergo a sobrancelha em questionamento tomando um gole do meu suco. - Acho que nunca mencionei que Harry tem uma namorada, certo? - Anne pergunta e o suco desce pelo lugar errado, uma crise de tosse constrangedora me atinge enquanto tento assimilar o que ela acabou de me dizer. Limpo meu rosto com um guardanapo e pigarreio algumas vezes até minha voz voltar ao normal e a sensação de engasgo passar.

- Namorada? - Pergunto me sentindo completamente desconfortável com a informação que me atingiu completamente desprevenida.

- É, namorada. Eles começaram a sair quando tinham dezesseis anos e não se desgrudaram até Des ficar doente, Harry sempre deixou bem claro que não ia deixar o pai sozinho enfrentando uma doença tão severa mas sempre cedia aos caprichos dela. Lilly sempre foi ciumenta ao extremo e isso nunca me agradou mas esperava que a atitude dela nessa situação fosse diferente visto que o comportamento dela sempre foi quase obsessivo com Harry.

- Isso é horrível, Anne. Sinto muito. - Falo baixinho tentando não parecer chateada e mais uma vez tenho certeza que falhei miseravelmente.

- Horrível é o que ela está fazendo com meu filho. Sabe quantas vezes ela foi até o hospital vê-lo? Nenhuma. Ela liga uma vez por semana e só diz que não consegue enfrentar essa situação, que é difícil demais pra ela.

- Isso é ridículo. - Resmungo sentindo meu peito arder tamanha desconsideração. Anne mexe nas alianças em sua mão esquerda e meu coração afunda uns dez metros abaixo do pré-sal.

- Ela já chegou a perguntar quando as máquinas seriam desligadas porque é um absurdo mantê-lo vivo apenas por aparelhos. -Anne sussurra dolorosamente.

- Ela fez o que? - Pergunto num tom mais alto do que o que é considerado educado e ela assente com o cansaço e dor banhados em seu rosto.

- Não foi a primeira vez que esse assunto surgiu, - ela diz desconfortavelmente. - desde a primeira semana após o diagnóstico ela veio questionar isso. Mas nunca chegou a visitá-lo, nunca foi até o hospital para segurar na mão dele e dizer que estava ao lado dele. - Sua voz falha e alcanço sua mão sobre a mesa. O silêncio é pesado e faz meu coração bater estranhamente calmo ao ouvir em suas palavras tudo o que eu já disse a ele em várias noites em que passei ao seu lado naquele quarto de hospital. Um misto de alívio e confusão me domina quando ela deixa claro seu descontentamento com as atitudes de Lilly.

The Only Reason - HSWhere stories live. Discover now