The Only Reason - HS

c a p í t u l o 1 2

— Posso saber onde a boneca passou a noite? — Niara  pergunta me assustando assim que abro a porta da sala. Bato o pé com força no chão e passo as mãos no rosto segurando um grito. A encaro e ela está sorrindo apesar da expressão preocupada em seu rosto.

— Estava com um amigo. — Falo sem querer dar muitos detalhes, não sei se consigo continuar com o plano de ajudar Anne e Gemma se mais alguém me disser que estou fazendo besteira. Depois da noite que passei fora, só consigo me sentir mais confusa e perdida do que nunca.

— Amigo? — Ela questiona com as mãos na cintura e assente com a sobrancelha erguida. — Venha, você precisa tomar café.

Respiro fundo e olho ao redor da sala que agora está vazia, limpa e silenciosa, completamente diferente do caos que eu vi quando deixei o cômodo algumas horas atrás. Niara está cantarolando quando entro na cozinha, sento em um dos bancos e encosto a testa no balcão da cozinha tentando ignorar a sensação de ter um bloco de gelo alojado no estômago. Tento assimilar os últimos acontecimentos mas sinto que estou dando voltas e mais voltas. Minha cabeça está latejando mas meu corpo está descansado. 

— Pensei que você tivesse ficado trancada no seu quarto por causa da festa de ontem. — Niara diz sentando ao meu lado.

— Eu tinha coisa demais na cabeça e aquela bagunça absurda estava me deixando mais perturbada do que eu já estava. — Falo levantando a cabeça. — Se eu soubesse que uma fraternidade ia se alojar aqui, eu nem teria voltado do estágio pra cá. 

— Eu ouvi sua mãe falando no telefone sobre a festa para comemorar o aniversário dela e logo imaginei que você fosse ficar longe daqui ou escondida no seu quarto. Pegue alguma coisa para comer, agora preciso verificar a casa da piscina, acho que a festa de estendeu até lá. — Niara diz saindo da cozinha e engasgo com o ar quando vejo a data no telefone: 14 de agosto. Puta que pariu. A festa de ontem foi para comemorar o aniversário da minha mãe que foi há três dias atrás e eu não lembrei. Estava tão absorta com o meu primeiro dia no hospital que sequer lembrei que era o aniversário dela, estava tão focada em começar uma nova rotina que não me lembrei do que acontece logo depois do aniversário dela. O bloco de gelo do meu estômago cresce até me congelar inteira por dentro e tudo ao meu redor some. A ansiedade, o medo, a falta de sono, a angústia, a culpa, a dor que nunca cessa e a necessidade de me conectar com qualquer coisa que seja capaz de me tirar da minha realidade são justificadas por uma razão: hoje completam doze anos inteiros sem ele. 

Levanto do banco da cozinha sentindo o mundo girar em todas as direções possíveis. Saio de casa com lágrimas se acumulando em meus olhos quando começo a ser agredida por lembranças que lutam para se libertar, meu peito está em chamas e meus ouvidos estão zunindo. Eu não deveria me sentir assim, não depois de tanto tempo. Um soluço escapa e todas as emoções que eu estava tentando controlar se libertam e começo a chorar me sentindo perseguida pelos demônios do meu passado que não consigo exorcizar. Desesperada e com dor, começo a correr até chegar ao cemitério, o lugar que não tive coragem de visitar desde que voltei para essa cidade. 

Odeio lugares como esse. Odeio saber que aqui as vidas acabam e tudo se torna nada. Lembranças que vão se apagando, sorrisos que se fecham, olhares que perdem o brilho, lágrimas que não param de cair, dor e a saudade que não desaparecem. Tento controlar minha respiração quando passo pelo portão principal em direção ao lugar em que ele está. Minhas pernas perdem a força quando chego em seu túmulo, meus joelhos cedem e caio quando leio seu nome, meu choro se torna compulsivo quando passo a mão nas letras douradas cravadas no mármore escuro. Me debruço sobre a pedra gelada e deixo toda a dor que carrego dentro de mim se libertar. Meus olhos ficam embaçados e minha garganta queima quando os últimos pedaços do meu coração viram líquido e se tornam lágrimas pesadas e ácidas.