PRÓLOGO

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     A madeira da porta ameaça despedaçar-se com a força imposta por Marcela. Ela, com os olhos vermelhos e lábios rachados no dia do Natal e um dia após seu aniversário, é a coisa mais triste que você poderia colocar os olhos. Agachasse no chão, ao lado da cama, e mantem os braços ao redor da barriga enquanto chora.

A porta do quarto se abre e por ela Carlos passa. Ele fica alguns segundos olhando Marcela e depois começa a ignorá-la. Marcela sabe que seu irmão ficou irritado com o espetáculo que ela deu mais cedo, na casa de Giulia. Todas as razões pulsam em sua cabeça em uma dor fina e ela não tem dúvidas de que está certa. Todos os outros, entretanto, discordam e se recusam a passar a mão em sua cabeça.

Então é assim que se começa os dezesseis anos?

Carlos apoia a bunda na escrivaninha, de frente para Marcela, e a julga com cada milímetro de seus olhos verdes.

— Não esperava isso de você — diz ele, em voz alta enquanto movimenta as mãos. Carlos colocou o aparelho auditivo hoje, ele começou a usar com mais frequência. — Envergonhou a gente.

Ela nada responde. Apenas direciona a ele o pior olhar que consegue fazer, com as sobrancelhas grossas quase juntas e chegando bem perto de uma pantera prestes a voar para pegar a presa.

— Esperava que eles mudassem de ideia? — Carlos continua parado, não se intimida nem um pouco. Assiste Marcela se colocar de pé, ofegante, e ela pressiona os lábios com força.

— Você deveria ficar do meu lado! — diz ela, e não espera ele responder antes de sair pela porta aberta e batê-la tão forte quanto outrora.

Ela não vai perdoar os pais por isso nem tão cedo.

No meio da festa de Natal, ela escutou seus pais e os de Giulia conversando. Uma conversa pouco secreta e eles não planejavam guardar isso dela, mas o impacto foi tão repentino que os poros de seu rosto quase estouraram e a boca secou no mesmo instante.

Não se pode calcular todos os traumas causados pela retirada de um adolescente da escola onde estão todos os seus amigos desde que este ingressou no ambiente escolar e inseri-lo em um espaço novo e desafiador. Mas são muitos.

Marcela estuda na Escola Nossa Senhora Desatadoras de Nós, o "Senhorinha", há 10 anos. Foi lá onde conheceu Lucas, Sérgio e Giulia, os únicos amigos que têm. Se não fosse Lucas, ela não teria nenhum. Então, ela está com medo. Com medo porque será uma desconhecida, a novata, e não existirá ninguém lá para introduzi-la. Está assustada com a distância de seus melhores amigos e de casa. Tem pavor de todas as segundas-feiras sem almoço em família e das ligações com Carlos que irão se reduzir de maneira drástica quando ele voltar para a Inglaterra após as férias de inverno. Marcela não para de pensar sobre as quintas-feiras sem RPG e todas as outras coisas que mudar de escola significam.

Porque Marcela não vai uma escola qualquer no ano que vem. Ela está fadada a passar seus últimos anos do Ensino Médio em um internato paulista, a escola mais cara de São Paulo, Colégio Gillar São Paulo. Conhecido pelos íntimos do GSP. Conhecido por Marcela como a pior coisa que seus pais já impuseram a ela.

Próxima atualização 15/09

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Where stories live. Discover now