Capítulo 36 - Quando a realidade bate em sua porta part. 1

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Julho

Essas são a últimas férias antes do fim do ensino médio e Marcela tinha sonhado tanto com o quanto elas seriam incríveis. Ela tinha salvado em seu calendário a data de inscrição para um curso de traços finos e ela e Lucas já tinham comprado, desde dezembro do ano passado, ingressos para um musical que estaria em São Paulo agora.

Ela não fazia ideia de que no meio do ano estaria com mais de 20 rascunhos de emails sendo escritos, dezenas de aulas do cursinho popular atrasadas, uma quantidade incontável de alunos da extensão de engenharia mecânica pedindo sua ajuda pelo whatsapp, Lisbete ligando para saber se Marcela pode ir ajudá-la com a estufa, e, tudo isso, durante uma copa do mundo.

Marcela está com rodelas tão escuras ao redor dos olhos que mal se reconhece ao se olhar no espelho pela manhã. A pele está rachando de tão ressecada pela hidratação inadequada e ela notou que está mais amarela que o normal dois dias atrás, mas preferiu passar a base da mãe no rosto do que ir ajustar os remédios da anemia.

- Não vejo a hora de acabar - Marcela curva os lábios em um bico exagerado.

Ela está sentada em sua cama, com o endredom cobrindo suas pernas e a famosa blusa azul de frio que ganhou no primeiro ano do ensino médio e agora já está desgastada demais. Carlos, deitado no colchão ao lado de sua cama como de costume, continua a encarando.

- Não é possível que você fez tudo isso sem eu notar.

Carlos se senta. ficou mais musculoso desde a última vez que Marcela o viu pessoalmente, um ano atrás, e a camiseta branca com o Bart Simpson andando de skate está tão velha que a imagem está borrada e ela tem rasgos na manga direita. Caso deixasse o cabelo crescer, ele estaria tão parecido com Roberto que as pessoas brincaram sobre viagem no tempo. Talvez seja para evitar a comparação que ele continua raspando.

Para a surpresa de Marcela, Carlos chegou em casa com o aparelho auditivo e só o tira na hora de ir dormir, às vezes até esquece de tirar. Ele argumentou que se acostumou a usar e que agora parece estranho ficar sem, apesar de às vezes se barulhento demais. Ela, entretanto, ainda não se acostumou e continua falando majoritária em língua de sinais com ele. Carlos está falando em voz alta bem melhor do que falava quando foi, ela consegue entender sem se esforçar, mas achou engraçado que Carlos fale português com sotaque britânico. Ela não conseguiu explicar quando ele perguntou o que isso significava, mas é como se ele estivesse curvando a língua diferente de qualquer sotaque brasileiro que Marcela já escutou.

- Eu não estava fazendo tudo o que você está - Carlos diz isso e depois abaixa as mãos, uma delas alisa a perna coberta de Marcela, que choraminga.

- Eu não aguento mais!!! - Marcela aproveitou para gritar isso além do gesto, provocando uma careta em Carlos. - Tá, parei.

- Focar em muitas coisas ao mesmo tempo é a mesma coisa que focar em nenhuma - ele fala, mas Marcela revira os olhos. - Ma...

Ele não entende. Carlos não consegue entender o que Marcela está fazendo por ela e pela Giulia, não importa o quanto tente explicar.

- Pra você é fácil, sua namorada mudou de país pra vocês ficarem juntos - Marcela argumenta, Carlos aperta os olhos inconformado porque Marcela sabe que o caminho de sua história com Thais não foi nem um pouco retilíneo como ela quer fingir que foi. - No final deu tudo certo, não deu?

- Como assim final? - Carlos chacoalhava a cabeça enquanto afastava a frustração de Marcela. -  Só tem final quando você morre. - Marcela torce a boca, ele a cutuca para que o olhe de novo. - Vai acabar daqui a pouco. - Carlos sorri, voltando atrás em seu desejo de ser firme com a irmã mais nova e preferindo animar ela. - Papai me contou que você vai aplicar pra minha Universidade, quer mesmo ir para lá? - Marcela negou sem pensar duas vezes. - Por que não?

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Where stories live. Discover now