Capítulo 16 - Segredos

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Giulia deu dois toques na porta do escritório de maneira tímida e contida, como se do outro lado estivesse uma bruxa do conto de fadas e não seu pai.

O ar condicionado da recepção é sempre forte e o cheiro de café nunca larga o ambiente de iluminação amarelada confortável e poltronas de couro confortáveis. Giulia está diante de uma das sete portas que se estendem nesse cômodo principal e também por um corredor que acaba com um janela bem limpa do tamanho da parede. O prédio fica na Avenida Paulista e essa é a visão caso você chegue perto o suficiente para observar.

Ela não tem coragem de bater de novo, então apenas espera enquanto olha envergonhada para a jovem loira atrás da mesa da recepção, perto da porta principal. Giulia sabe que seu pai não está com nenhum cliente, Giovanna contou, mas ele está sempre ocupado com outras coisas e ela começa a repensar sua decisão de vir.

Não contou à mãe que viria aqui antes de ir ao cinema com Sérgio e Lucas. Márcia acredita que ela já está lá, mas isso porque sua mãe nunca aprovaria a ideia de Giulia.

Desde que fugiu, ela nunca ficou sozinha com o pai, na verdade eles não trocaram nem vinte palavras ao longo desses meses. O problema, entretanto, é que Giulia ainda depende dele financeiramente e sabe que não há como converter sua mãe a nada caso não convença Hélio primeiro.

Acumulou, então, toda a coragem que tem, e veio.

Hélio abre a porta e não se mostra nem um pouco surpreso ao ver Giulia. Na verdade, é quase como se tivesse esperando por ela.

Giulia entra no escritório que conhece bem. O sol está se pondo, deixando todo o céu laranja e, como toda a parede do outro lado é feita de vidro, a sala é iluminada da mesma cor. Hélio fecha a porta atrás de Giulia quando essa entra.

- O que você quer? - ele pergunta, fazendo um barulho estressante enquanto anda de volta para a cadeira atrás da mesa de vidro larga que é ocupada apenas por um monitor branco da Apple.

- Estava no cinema, era perto daqui - Giulia sussurra, olhando a prateleira à esquerda, o objeto precisa ser muito forte para suportar o peso dos livros imensos. Está evitando olhar para o pai.

- Isso nunca foi motivo pra você vir aqui - diz, cruzando os braços. Giulia engole em seco e tenta encarnar o personagem que criou.

- É, mas eu senti falta da minha escola hoje.
Se Hélio conhecesse Giulia mínimamente, saberia que isso não poderia ser mais falso, mas como não conhece, parece surpreso.

- Ainda estou pagando sem você ir.
Ela finalmente o encara.

- Está? - A entonação é forte, mas a surpresa é mentirosa. - Eu estava muito bem morando com a vovó, queria voltar.

- Já disse que estava com saudade. Você deixou tudo para trás porque quis.

- Tenho mais dos meus amigos do que da escola, na verdade. - Giulia coça a garganta. - Sinto saudade da minha mãe também.

Ela não é cara de pau a ponto de falar que sente falta dele. Hélio não poderia parecer menos interessado, ele começa a mexer o pequeno mouse branco. Giulia observa o gesto.

- Paro de pagar esse mês. Agora você não pode mais voltar - ele determina.

- Como assim? Eu quis ir, agora eu quero voltar.

- Não - fala Hélio, e ergue apenas o olhar para ela.

- Papai, por favor. Não posso perder o ano.
- Estuda em uma escola pública na cidade da sua avó.

- É, uma escola pública... Talvez seja uma boa solução - Giulia está blefando. Está blefando tanto que assusta a si mesa.

Hélio a encara em silêncio, mas está claramente insatisfeito por ela ter gostado de uma solução que ele deu.

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Where stories live. Discover now