Capítulo 33 - A genética dos Mondini

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Giulia nunca perdeu ninguém próximo. Seu avô materno morreu quando tinha 2 anos, mas não se lembra, e por isso sua experiência é zero quando o assunto é luto. Esse é um daqueles momentos no qual a experiência é mais importante para entender a situação, do que qualquer outra coisa.

Ela não entende. Lucas estava ali, vivo, e ao mesmo tempo não estava. Sentia-se doente enquanto velava alguém vivo. Ao contrário de Marcela, Giulia nunca foi próxima da família e Lucas e o pesar que sentia pela morte de Tatiana tinha muito mais a ver com pena de Lucas e Igor do que com a morte de fato.

Às vezes pensa que é egoísta. Quando pensa que está fugindo de seus pais vivos principalmente. Nunca havia parado para pensar sobre isso e com o tempo tudo só se mostra mais evidente. Ela tem certeza de que é uma filha ingrata.

- Giu, do que está falando? - Cecília começa a amarrar o cabelo em um rabo de cavalo.

As roupas de tecido maleável faziam a tia dela parecer ainda mais magra por falta de volume. A legging cinza parece feita sob medida e a regata preta não ficava para trás.

- Fico pensando se eu não ia ficar me culpando se eles morressem hoje - Giulia argumenta.

Elas estão andando lado a lado na calçada padronizada bem perto da casa dos avós de Giulia. Depois da falha tentativa de ver Lucas no hospital, Cecília a convidou para caminhar pela vizinhança porque se não começasse a caminhar suas pernas iria hipertrofiar pela quantidade de tempo que Cecília fica sentada estudando. Giulia aceitou porque o argumento se encaixava perfeitamente no seu caso. Apesar de ter aulas de educação física uma vez por semana, o resto dos dias ela estava sempre imóvel em algum canto.

- Você fez alguma coisa de errado?

- Acho que fugir de casa conta como errado. Também bebo e fumo às vezes, além de ter levando uma namorada lá pra casa uma vez. - Cecília não olhou para Giulia. - Eu sei, sou uma baita decepção.

- Eles te colocaram em um convento, tirando todos os anos que você cresceu tendo que obedecer o Hélio. - Elas se encaram. - Ele é meu irmão mais velho, você acha que não lembro como era quando moramos juntos?

- Espera aí, isso nem faz sentido. - Giulia parou de andar enquanto fazia os cálculos em sua cabeça.

Cecília tem 22 anos, o mesmo tanto de tempo que os pais de Giulia tem de casados, além do fato de que Cecília só foi adotada em 2005, quando Giulia já tinha 5 anos.

- Você nunca morou com meu pai - Giulia argumentou, Cecilia rio. - O quê?

- O Hélio sempre odiou a ideia de me adotarem. - Cecília começa a contar. - O Guilherme aceitou bem rápido ter uma irmã mais nova, acho que porque nossa diferença de idade não é tão grande.

- Quantos anos o tio Guilherme tem?

- 33. Bem, enquanto o Hélio tava na marinha e era o filho favorito do Luigi, ele tinha toda a liberdade pra ser um absoluto filho da puta. - Giulia se assusta ao escutar o palavrão vindo de sua tia. - Até parece que você não fala coisa pior. - As duas riem. - Teve uma vez, quando vocês moravam em Santos, acho que você tinha uns 7 ou 8 anos. Violet precisou viajar para a Escócia e eu não tinha com quem ficar. Então, fiquei duas semanas com vocês. Sem dúvidas essas são duas das piores semanas da minha vida.

- Falando assina te parece que morar com meus avós é fácil. Eles parecem personagens do Tim Burton, sei lá.

- Giulia! Eles são seus avós.

- E são seus pais.

Cecília revirou os olhos.

- Você já ficou na casa do tio Guilherme também, ele é igual ao meu pai?

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora