Capítulo 5 - Big Dick Energy

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     O grupo de adolescentes sentados na mesa brilhante se destaca contra os móveis brancos demais. Duas garotas de cabelo preto e boca fina estão entretidas comendo. A de rosto mais quadricular coça a garganta e ergue os olhos borrados com lápis preto. Ela está tentando chamar a atenção do rapaz de olhos verdes, igual aos seus, e de uma garota com muitas espinhas na testa.

— Não vamos — sussurra Victor. Ele olha de soslaio para a loira ao seu lado.

E essa é uma garota tão loira quanto uma boneca Barbie de plástico tóxico. A pele parece morta mesmo com um longo delineado rosa que, de maneira inusitada, combina com a armação azul-bebê dos óculos com – muitos – graus.

Lisbete bufa e esfaqueia sua almondega vegetariana como se fosse o corpo do irmão.

O sol do início de tarde acaba de chegar na mesa de oito lugares e iluminar Marcela, que até então esteve ocupada comendo e encarando a loira de forma disfarçada. Nunca tinha comido com Mônica antes, mesmo que se vissem esporadicamente na extensão de robótica. Marcela sabe que Mônica carrega uma unidade rara de cérebro genial dentro dessa cabeça enorme. A blusa branca da escola fica muito folgada em seus braços finos e lhe faltam peitos, mas forma que ela olha sempre de cima para baixo e como as palavras saem com autoridade de seus lábios pintados de rosa-claro fazem Mônica carregar algo conhecido popularmente como big dick energy. Ao contrário de Lisbete, que se reafirma constantemente para manter seu posto de popularidade, o que a faz tão parecida com Lucas, não se é necessário mais do que duas horas no mesmo espaço que Mônica para entender que as cartas do jogo, a mesa e os jogadores são todos dela.

— Guarda essa energia pra depois que aprovar teu projeto — Victor argumenta. Apesar do tom gentil, seu rosto é impenetrável.

Sempre que os irmãos gêmeos discordam de algo de verdade, os olhares trocados são como uma vela caindo bem perto de uma cortina de seda. Pode existir a chance de ela apagar antes de tocar o tecido ou, a mais provável, iniciar um incêndio.

— Meu projeto tá escrito há 2 meses. Eu vou, tu ficas estudando pra ganhar prêmio inútil. — Ela está mastigando enquanto fala. Quando ele a ignora, Lisbete cede. — É só uma noite! Tu tens outros dias para matar esse projeto.

— Vamos pedir um financiamento de 10 mil reais. — Mônica fala de maneira sutil e nada provocativa. Ela sobre os óculos no nariz de forma calma. — Precisamos de três impressoras 3D e dos programas de segurança. Vamos apresentar o melhor projeto para o banco ou outro grupo vai levar o prêmio, provavelmente de alguma universidade. — Ela olha para Victor. — Queremos os 10 mil.

Marcela arregala os olhos. 10 mil é bastante dinheiro para financiar um projeto de adolescentes e, pelos dias que está fazendo seu trabalho de escrava do Victor na extensão, não parou nem um momento para ler esse projeto. Enviaram para ela, assim como para todos os integrantes, e o nome dela certamente também está lá, mas não faz ideia do que se trata.

— E eu perguntei algo pra ti? — Lisbete se abre como um pavão macho buscando marcar território. Mônica sorri, isso irrita a rebelde mais do que uma resposta direta. — Egocêntrica.

— Infantil.

— Eu sou mais velha e sei me divertir muito mais do que os dois juntos.

— That's what she said.

Victor começa a rir da resposta e Marcela, que tentava se manter neutra, começa coça a garganta segurando o seu.

— Você assistiu The Office? — Mônica, que até então ignorava, pergunta para Marcela. Ela confirma com um gesto. Marcela tem mais medo da loira do que de Lisbete. — Legal! Marcela, não é? — Mais uma confirmação. — Acho que vi seu nome em algum lugar.

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Where stories live. Discover now