Capítulo 17 - Certas solidões são escolhidas

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Setembro

Lisbete colocou as duas mãos nas costas de Marcela e começou a empurrá-la como se fosse um carrinho de super mercado. Mônica estava bem ao lado de Marcela e passou a bandeja vermelha para a amiga.

A menina com um rabo de cavalo loiro engordou nessas férias, tanto que agora suas bochechas estão redondas. Mônica corou um pouco e agora sorri o tempo todo, e faz piadas inteligentes que Marcela não entende. Lisbete geralmente a explica, mas Marcela continua sem achar a graça.

Lis deixou o cabelo crescer, os fios finos e pretos estão abaixo dos ombros, mas a franja continua bem reta acima das sobrancelhas. Ela também reduziu bastante a quantidade de sombra preta. As olheiras melhoraram, pelo menos, o que indica que Lisbete está finalmente encontrando um equilibrio entre estudar, se dedicar ao projeto e dormir.

As três se sentam na mesa do refeitório às 12h35, como indica um dos relógios retangulares e de números vermelhos pendurados no teto.

Não demorou muito para que Victor se sentasse na frente dela, ao lado de Lisbete. O gogó dele parece crescer mais a cada dia, sua voz está indo de agudos a graves de um segundo para o outro e suas pernas... Ele sempre foi alto, mas agora ultrapassou um limite e tem dificuldade de se enfiar na mesa do refeitório.

A relação entre Victor e Mônica melhorou muito desde o encontro com os amigos de Marcela.

Não é como se eles fossem amigos, mas não estão mais se olhando com aquela espécie de raiva e ressentimento que parecia muito uma tensão sexual (algo que não existia nem quando os dois namoravam). O fato de Victor ter aberto mão do grupo de robótica foi essencial para isso e, no final das contas, ele está fundando uma extensão de engenharia mecânica que assusta um pouco Marcela. Victor foi e robôs para foguetes com 17 anos, isso é tudo menos normal.

- Tenho 2 meses pra publicar esse último artigo e, depois que o Pantaleão escrever minha carta de recomendação, vai estar tudo pronto - Mônica diz quando Victor pergunta como anda a comunicação dela com as universidades dos Estados Unidos, pras as quais ela está aplicando.

- Você já não tem três artigos com o seu nome, um como principal? - Marcela pergunta. - Isso não é suficiente?

- Nunca é demais. Esse sobre a feira é importante, mostra que apoio a ideia da ciência sendo levada pra sociedade. Passa uma boa impressão.

- Até porque ela não se importa - Victor sussurra e sorri. - Piada! - ele justifica logo em seguida.

- Você tá aplicando pra quantas? - Marcela pergunta.

- Universidades? - Mônica fala, Marcela diz que sim com a cabeça porque sua boca está cheia. - São 10, mas eu sei que quase não tenho chance em 2 e tem 3 que eu não quero muito, mas se não tiver opção eu vou.

Marcela controla sua cara de surpresa. Ela olha para Lisbete, esperando algum comentário sarcástico e mal educado, mas ela está entretida olhando feio para o purê. Lisbete anda estranha desde que voltaram das férias. Fala bem menos, tão menos que Victor assumiu sua posição caricata e ele é péssimo nessa função.

- Já pensou se tu tivesse indicação do prefeito, conseguiria escolher a universidade - Victor diz com deboche, Marcela começa a rir sem parar, mas Mônica está seria e a risada de Victor é só em respeito a Marcela.

- O quê? - Marcela pergunta olhando para Mônica.

- Ela vai ter a carta de recomendação do prefeito - Lisbete abre a boca pela primeira vez na mesa.

- Eu pensei que o Pantaleão fosse o Juan.

- O filho do prefeito - Mônica esclarece como se Marcela tivesse doze anos de idade e, quando Mônica percebe que Marcela não estava fingindo a surpresa, continua: - Nós somos praticamente vizinhos. Conheço os Pantaleão desde que eu nasci.

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Where stories live. Discover now