Capítulo 14 - Lugar errado na hora errada

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Essa é a primeira vez que Giulia vem a São Paulo desde toda a confusão com os seus pais. Os professores tiveram que tirar uma média de suas notas para que ela não reprovasse no bimestre e os pais de nenhum dos seus amigos a olha com alegria. Com os pais de Lucas não seria diferente. Ela sabe que eles não entendem suas razões para ter fugido de casa e que no final tudo parece um grande caso de adolescente desobediente e rebelde sem causa. Ao contrário do que esperam, Giulia não se desculpa por ser ela. Ninguém vive a vida dela ou acumula suas vivências, então por que ela se preocuparia com elas? Está absolutamente exausta de se explicar e prefere apenas sorrir e acenar como se nada tivesse acontecido.

— Uma hora eles vão esquecer — Lucas argumenta assim que seus pais deixam a sala. Ele mordisca o piercing dourado de argola na boca que havia sido trocado por um menos chamativo nos últimos meses.

— Não faz diferença — Giulia sussurra, colocando mechas do cabelo verde e quebrado para trás das orelhas. — A Patrícia tá chegando? — pergunta a terceira, e última, pessoa na sala espaçosa da casa de Lucas. Sérgio esteve calado desde que chegou, o que não é nada comum.

Giulia sente que perdeu algo graças ao tempo que ficou sem ir à escola porque Lucas não parece nada surpreso quando Sérgio responde:

— Ela não vem.

Sérgio e Patrícia se conheceram mais de um ano atrás e tem um dos namoros mais grudentos que Giulia já viu na vida. Desde que Sérgio a trouxe pela primeira vez a uma partida de RPG, a garota não faltou e nenhuma, e nada é capaz de convencer Giulia quer Patrícia não quis vir a uma partida que terá o Carlos como mestre. Ele literalmente criou o universo desse jogo e tudo nele, Patrícia era quase uma fã do irmão da Marcela.

— Não vem? — Giulia nem tenta controlar a entonação.

— É, eu não chamei ela.

— Como assim você não chamou ela? — Giulia está balançando a cabeça de um lado para o outro sem parar. — Por que você não chamou ela, tá doido?

— Não usa essa cara, Giu — Lucas sussurra, ela franze o cenho para ele. — É a namorada ele. O Sérgio só convida se ele quiser, pronto e acabou.

— Ela é nossa amiga também! — argumenta a de cabelo colorido, voltando a encarar Sérgio. — Ela é, não é?

Sérgio se mantém em silêncio, pensativo, e Giulia não deixa os olhos arregalados deixarem a sua face. Quando a campainha toca, Lucas deixa os dois sozinhos na sala para ir atender e Giulia desce do sofá até o tapete. Rastejando-se lentamente, ela apoia as duas mãos nos joelhos de Sérgio e o encara de baixo para cima.

— Vocês terminaram? — sussurra, tentando soar menos invasiva possível.

— Não, Giu, a gente não terminou. — Sérgio pressiona os lábios. — Só brigamos.

— Desde quando você briga com alguém? — Ele ergue as sobrancelhas. — O que ela fez? — Sérgio abre a boca para falar, mas desiste quando escuta as vozes vindas do corredor.

***

Da esquerda para direita estavam Lucas, Marcela, Lisbete, uma Barbie humana que Marcela disse ser e um personagem do Tim Burton que se apresentou como Victor e é irmão gêmeo de Lisbete. Giulia não consegue tirar os olhos dos dois novos personagens que Marcela trouxe da sua nova escola. Ela acredita cada vez mais que a Gillar São Paulo é um hospício disfarçado de escola e que eles deixam os alunos passando fome. Ela não trocou três palavras com eles por dois motivos. O primeiro é porque sentia que já os conhecia, dado o tanto que Marcela falava sobre eles e segundo porque estava bastante entretida mantendo Lucas na extrema esquerda da sala, bem longe de Victor, já que conhecia muito bem o olhar que seu amigo tinha em direção ao pseudo gênio da outra escola e isso poderia acabar muito mal.

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Where stories live. Discover now