Capítulo 42 - A porta do armário quebrou part.1

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O coração de Marcela parou de bater por dois segundos e ela esfregou as mãos totalmente molhadas no short jeans. Não conseguia acredita que aquilo estava acontecendo. Carlos havia acabado de soletrar a palavras "Pansexual" em LIBRAS bem diante dos olhos de seus pais.

Precisava levantar. Precisava levantar rápido antes que tudo o que começou no almoço fosse parar no chão.

O tempo parece correr ao contrário desde que Marcela sentou na mesa de jantar. Roberto e Bianca estão lado a lado, do outro lado, mas ela não tem coragem de olhar para eles. Marcela encara o notebook aberto ao seu lado esquerdo, com os olhos que entregam a surpresa e a pele pálida que deixa seu pânico explícito. A cadeira da escrivaninha na qual Carlos estava sentado balança vazia depois que ele se levantou com rapidez e sem explicação.

Ela coçou a garganta e pressionou os lábios com menos força do que pressionava os dedos das mãos abaixo da mesa.

Marcela desejou saber o que estava acontecendo com sua família por tanto tempo, mas naquele instante se sentia tão apavorada por não ter tido tempo de se preparar para isso. Acha que Carlos tinha obrigação de ter contato para ela.

Para um confusão ainda maior no coração de Marcela, seus pais não pareciam nem um pouco surpresos apesar das expressões da mãe não negarem o descontentamento.

Marcela sabia que coisa boa não sairia da boca de nenhum dos dois, mas ousou ser a primeira a falar no momento que Carlos voltou para sua cadeira.

- Vocês já sabiam?

Marcela não lembra de ter visto um olhar tão raivoso partindo de sua mãe durante toda a sua vida. Graças a Deus o peso desse olhar não caia sobre Marcela e sim sobre Roberto, que deixou sua cabeça cair alguns centímetros.

- Marcela... - A voz grossa de seu pai era firme e descontente. - Tive uma reunião com o Hélio.

Mesmo com as pernas bambas, Marcela colocou sua cadeira para trás e começou a se levantar. Não havia nada mais do que o medo guiando meus movimentos cegos.

- Senta - Roberto mandou e ela congelou ao lado da mesa, ainda com a mão na cadeira.

Ela não conseguia controlar os olhos que começaram a serem bombardeados pelo líquido salgado e quente. Não entendia se estava chorando porque seu rosto ficou dormente alguns minutos atrás.

Marcela se sentou e manteve os olhos fechados por um tempo, mas isso não ajudou. Seu corpo ainda estava super aquecido e a vibração da voz de Roberto marcava presença em seus ouvidos.

- Ele me contou sobre você e a Giulia, que estão namorando.

Ela abriu os olhos e encarou Carlos, implorando por um socorro longe demais para alcançá-la e, pelos olhos de seu irmão mais velho, ela enxergava o quanto Carlos gostaria de estar físicamente naquela mesa.

- Seu pai contou pro seu irmão, antes de contar para mim - Bianca falou pela primeira vez desde que se sentaram na mesa. - E para nossa surpresa, além dele já saber disso, também contou que ele não é muito diferente. - Bianca suspirou, mas as narinas abriram e fecharam como a de um touro endurecido. - Só posso falar que tenho muita dó da Thais. Ela não merecia isso.

- Agora vocês gostam da Thais? - Marcela mal conseguia ver os movimentos rápidos das mãos de Carlos devido ao embaçado de seus olhos.

- Sim, ela é muito melhor do que um homem, Carlos. Não tem nem comparação, você está brincando com a minha cara?

Roberto apontou em direção à Marcela.

- Não vai mais ver essa menina, me entendeu? Não vamos te trocar de escola porque agora não faria sentido, já está acabando o ano, mas o pai dela não aprova esse namoro e sua mãe também não.

Marcela apertou os olhos.

- Nós não concordamos. Nós. - Bianca correu para corrigir, mas era tarde demais.

Marcela olhou para Carlos, confusa, tentando ver se ele também tinha percebido o pai deles se colocando fora do grupo de pessoas contra ela e Giulia.

-  Você está me escutando, Marcela? - Bianca falou mais alto. Marcela assentiu. - Era só o que me faltava. Três dias antes do Natal meus dois filhos resolvendo irem contra tudo o que eu ensinei a vida inteira.

Dentre todos os tons de vozes usados até aquele momento, esse último foi o que mais doeu em Marcela. Uma mistura verdadeira de desgosto, decepção e mágoa. Era como se Marcela tivesse traído sua mãe sem nunca ter tido a chance de não o fazê-lo.

- A Giulia vai fazer universidade no exterior, o Hélio já me contou - Roberto ressaltou.

- E você não vai - Bianca determinou, apontando para Marcela. - Nem conte com isso.

Marcela está a muda. Era muita coisa para absorver.

- Mas vai pra Inglaterra visitar o seu irmão. Assim que os resultados dos vestibulares saírem. - Roberto comentou. - Não veja isso como uma punição, Marcela. Nós queremos o melhor pra você.

Ela duvidava muito disso.

- E meu aniversário?

Marcela já tinha combinado de ir para a praia com todos os amigos, inclusive Giulia. Ela engoliu um soluço.

- Não vai mudar em nada. - Roberto disse isso olhando diretamente dentro dos olhos de Marcela. Bianca, nesse instante, se levantou enfurecida e entrou para a cozinha. - Também é uma despedida, Marcela. Sua mãe não gosta dessa ideia, mas é o máximo que eu posso fazer.

Não era o máximo. O máximo que ele poderia fazer ela ficar do lado dela, assim como Carlos, e explicitamente como Marcela sentia que ele queria. Só que então, Marcela se lembrou. Era por isso que sua casa tinha clima de divórcio. Ela preferiu ficar em silêncio.

Marcela continuou sentada quando seu pai se levantou. Ela deitou sobre seus braços, chorando a ponto de lhe faltar ar. Com uma dor física no lado esquerdo do peito e Carlos ficou lá, de longe, encarando o sofrimento da irmã.


⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Where stories live. Discover now