Capítulo 10 - Contusões de uma vida inteira

125 25 11
                                    

Ela pintou o cabelo de novo, em um verde vivo e quase fluorescente. As pontas estão mais quebradas que o comum, indicando que seu cabelo já não é tão forte quanto quando ela começou essa brincadeira. Está se despedaçando, parece até parte do seu coração.

Está faltando ar, como se o peso de um edifício estivesse em deu estômago. Seus olhos doem e rosto está molhado de água salgada, como se tivesse acabado de sair do mar. Vermelho de tanto chorar ou por que ela está prendendo a respiração?

As mãos estão se apertando, tentando confundir o aperto que seu coração não consegue fugir. Tudo isso ao mesmo tempo que ela se encara a rua totalmente escura e seus braços se arrepiam pelo vento muito unido à chuva lavando todo o seu corpo com gotas frias e rápidas que doem quando atingem sua pele.

Ela toma uma quantidade de ar pelo nariz, enche os dois pulmões, depois o solta como parte de uma ventania antes do tornado. Faz isso mais uma vez. Como pode Giulia estar sofrendo tanto por uma decisão que foi sua?

Existem contusões fantasmas em várias partes do corpo, como se tivesse entrado em uma briga que não se lembra, e a roupa está inteira grudada no corpo, encharcada. Agora, só lhe resta curar as feridas que ela abriu para tentar retirar a poção que a estava envenenando.

Giulia se escolheu, pela primeira vez na vida. Está perdida de tudo, menos de si mesma.

Hoje mais cedo, seus pais estavam brigado mais ums vez

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Hoje mais cedo, seus pais estavam brigado mais ums vez. Hélio estava furioso como sempre que percebia estar perdendo o controle sobre as pessoas. Márcia, mais do que em outras brigas, tentava impor sua opinião sobre a criação da filha.

Tudo começou quando Márcia disse que seria uma boa ideia Giulia visitar a sua avó materna com ela nessa semana. A data foi proposital, para que Hélio não conseguisse ir, mas ele proibiu.

O pai de Giulia não gostava nem mesmo que sua esposa fosse lá sozinha desde que reataram o casamento. Hélio sabia bem que foi a mãe de Márcia quem a convenceu a se separar dele. Afinal, por mais religiosa e por vezes sonsa que a vovó Sônia seja, a mineira não tem nada de besta e já estava cansada de assistir a filha praticamente vender a alma ao demônio tentando manter esse casamento.

Giulia escutava tudo do quarto, mesmo com os fones de ouvido vermelhos e imensos na cabeça. Depois de 30 minutos de gritaria, não aguentou. Abriu a porta, retirando os fones, e encarou o cachorro assustado sentado lá. Ele adoraram Olívia quando Giulia tinha 10 anos e a chow-chow de 7 anos era a única coisa que ainda parecia ter um pingo de felicidade dentro daquela casa, mas não muita.

Giulia andou a passos cuidadosos até a escada e tentou ver os pais ainda do andar de cima. Os braços de Márcia estavam cruzados, mas a curvatura as costas era muito pra frente, como se fosse se curvar totalmente a qualquer incentivo externo.

- Dois dias não vão mudar nada - argumentou.

- Não sei porque você ainda está falando no meu ouvido.

Hélio estava sentado de costas para Márcia, fazendo-a parecer que estava falando com uma parede. Uma parede seria melhor.

- Esposa, obedeça ao seu marido, como você obedece ao Senhor. - Hélio disse, e olhou para trás. - Efésios 5:22.

A fase que Giulia mais odeia nas discussões começou a chegar, quando começam a citar a bíblia. Sem as mesma passagens, sempre as mesma respostas, um loop infinito de infelicidade.

- O homem deve amar a sua esposa assim como ama o seu próprio corpo. - Márcia respondeu.

- Você acha que não te amo? - Hélio se levantou. Ele é quase duas vezes o tamanho de Márcia. - Quem foi que ficou atrás de você para não acabarmos o casamento? - Márcia se mantém calada. - Fui eu. Eu te amo, você é quem não me respeita.

- Eu só pedi 2 dias com ela na casa da minha mãe.

- E eu só disse não.

- Não tem um motivo! - A voz de Márcia fez eco na casa velha. O coração de Giulia se acelerou e ela engoliu em seco.

- Ela não vai e, se você me respeitasse de verdade, como a igreja respeita a Nosso Senhor Jesus Cristo, não iria nem sozinha. - A voz dele é ainda mais alta e potente que a dela.

Giulia está olhando de um para o outro quando o silêncio toma conta do espaço. Ela sabe que sua mãe questiona a própria decisão, o que a deixa triste demais por não conseguir ajudar.

- Deveria ir rezar. Rever sua fé - Hélio determinou.

Ele é cruel, manipulador e sabe usar as palavras certas na hora certa. Giulia desceu alguns degraus da escada quando Hélio sumiu de sua visão. Ela pensou que ele estava indo para o escritório, então pensou em ir abraçar a mãe, mas quando chegou no meio da espada, viu que ele ainda estava de costas na porta entre a sala e o escritório. Pensou em voltar, subir as escadas correndo, mas foi lenta e ele se virou antes.

Márcia notou que Hélio olhava alguma coisa atrás de si e arregalou os olhos em julgamento quando viu Giulia por cima de seu ombro direito.

- Viu? Você ensina sua filha a não seguir a Cristo. Por isso ela é desviada - argumenta. Uma culpa foi tomando conta de seu sangue, ela não queria ser usada de argumento contra a sua mãe.

- Isso não é verdade - Giulia disse, mas se arrependeu um segundo depois. Hélio não mudou sua feição bem por um segundo. Ela, sem pensar, comprovou o que ele disse antes.

Um sentimento diferente começou a surgir da boca do estômago e queria sair pela boca. Hélio tinha dado as costas para elas mais uma vez, mas Giulia sentia uma necessidade irracional de se justificar.

- Por que você é tão egoísta? - perguntou em bom tom no momento que parou do lado da mãe.

- Se eu fosse egoísta não te pagaria pela vida fácil que você tem - respondeu, e começou a andar, sumindo de sua visão.

Márcia olhou frustrada para Giulia, que não a esperou falar nada antes de sair pisando duro pela casa de volta ao andar de cima e bater a porta do quarto com toda a força de seus braços.

Tinha tanta raiva dentro dela. Achava tudo tão injusto. Tão fora do lugar.

Então ela olhou a água oxigenada e a tinta que havia comprado quando pensou que Marcela ia quebrar seu coração. Pelo bem ou pelo mal, Giulia sabe que não é apenas um amor que pode quebrar seu coração.

Ela passou duas horas pintando e ainda não tinha sido o suficiente para canalizar seus sentimentos perturbadores. Sentia que havia bebido 10 xícaras de café, poderia contruir um foguete com as próprias mãos.

Ela se olhou no espelho do seu banheiro por 10 minutos. Procurava de forma desesperada uma salvação. Gritava no mais absoluto silêncio.

Estava anoitecendo e a chuva tinha parado um pouco quando ela olhou para a janela com uma ideia guiada pela frustração e raiva.

Todo o seu corpo tremia sem parar enquanto ela colocava as poucas coisas que precisava dentro da mochila do colégio.

A distância entre a sua janela e a parte do gramado atrás da casa era diminuída pela saída do ar-condicionado que não funcionava no andar de baixo.

Esse parecia um caminho fácil, então ela pulou planejando nunca mais voltar.

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora