Capítulo 32 - Os Melhores Amigos

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Algumas pessoas acreditam que tudo de bom e ruim que acontece às pessoas é graças às suas atividades nas vidas passadas. Lisbete e Marcela já tiveram conversas intensas porque Lis é uma umbandista que quando cisma com algum assunto é difícil fazê-la parar de falar, e Marcela não gosta de religiões porque coloca todas no mesmo saco.

Mas, agora, ambas estão caladas e com medo de qualquer uma das sentenças que deixem seus lábios.

Lisbete e Marcela estão se encarando como se perguntassem uma à outra o que deveriam fazer. Essa notícia não é um drama adolescente que logo passa.

Os olhos de Marcela estão lacrimejando tanto que ela mal consegue mantê-los abertos e Lisbete, com o choque que transparece pelas mãos frias e a boca rachada, não consegue fazer um movimento sequer. Ambas então em algum momento no tempo e espaço onde chamam de pânico.

Estão apavoradas. Pálidas e com a alma quase inexistente dentro do corpo.

A respiração cortada da trêmula Lisbete indica que alguém deveria abraça-la, mas o corpo de Marcela está se espremendo como se ela estivesse encurralada em uma sala cuja parede ameaça esmaga-la. Nenhuma das duas foi ensinada a reagir a isso. Na companhia uma da outra, mas ao mesmo tempo completamente sozinhas em sua própria areia movediça de caos, buscam respostas no silêncio.

- Te contaram... - A voz de uma terceira pessoa toca o transe das duas garotas no quarto e elas, que estão sentadas na cama de Marcela de mãos dadas, olham em direção à porta.

Giulia não está com o rosto amassado, mas ainda são 7h20 e elas estavam se preparando para as aulas. Agora já não podem mais ir, isso perdeu o sentido.

Marcela faz uma força cruel para assentir, a mesma que fez quando a diretora falou sobre a morte de Eduarda na escola tantos anos atrás e ela precisou se levantar da cadeira para seguir Carlos. Ela tinha esquecido de como a surpresa ajuda a machucar e de como a incapacidade de mudar as coisas pode vir cortando tudo dentro dela sem parar, fazendo todos os centímetros de seu corpo doerem fisicamente.

Giulia entrou no quarto e se agachou nos pés das meninas, segurando uma mão de cada e olhando de uma para a outra.

- Não precisamos ficar assim - Giulia sussurra, mas não é justo que ela diga isso. Marcela sabe que as coisas nunca voltarão a ficar bem.

Dez minutos atrás, o telefone de Marcela tocou com uma ligação do pai. Isso já foi motivo suficiente para fazer com que Marcela pensasse duas vezes antes de atender. Não existia motivo bom que justificasse a ligação de Roberto tão cedo. Em apenas cinco minutos de chamada, ele contou tudo o que havia acontecido e disse que estava indo buscar Marcela.

Ela, que se sentou em sua cama enquanto ele contava, ali ficou até que Lisbete notasse que seu rosto havia se molhado por completo e o delineador escorria por seus olhos de maneira horrenda. Marcela precisou dizer aquilo em voz alta para que Lisbete soubesse e foi nesse momento que tudo desabou.

Existe um abismo entre pensar algo e dizer isso em voz alta. Quando você fala, aquela é a realidade, e nada pode mudar isso. Deixa de ser algo inventando ou imaginado para ser algo concreto. Quando se diz o que se sabe, aquilo se torna absoluto e destrói todos que escutam. Por isso Lisbete ficou tão imóvel quanto Marcela depois disso. Existe uma teoria que diz que as coisas que você diz em voz alta muda a energia ao seu redor. Marcela conseguiu sentir isso.

- Que-quem te contou? - Marcela quis saber, com a voz de choro saindo aos trancos e barrancos pela garganta seca.

- O Igor postou uma homenagem no Instagram. Isso foi de madrugada, mas vi hoje de manhã.

O rosto de Giulia ameaçou desmanchar e ela rapidamente ficou de pé. Com as duas mãos na cintura, andou de um lado a outro do quarto enquanto encarava o teto. O choro de Marcela não suportou o silêncio e ela colocou as duas mãos no rosto enquanto seu corpo inteiro pulsava em soluços.

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Where stories live. Discover now