Capítulo 12

448 51 24
                                    

Gideon fechou a porta da biblioteca atrás de si, com força. O que estava fazendo? Queria ser mais firme e austero com Bane, e ao invés disso, tinha pateticamente oferecido um acordo.

Respirou fundo. Desde que Bane tinha lhe abraçado na noite anterior, estava meio fora de si. Ninguém nunca o abraçava, além de Izzy. E mesmo Izzy lhe abraçava raramente. Bane tinha presenciado o momento mais humilhante de toda sua vida, então ele não conseguia apenas agir como se fosse indiferente ao feiticeiro.

De repente queria saber o que Bane achava sobre ele. Será que sentia pena ou achava pouco? Sacudiu os dedos que ainda estavam formigando desde que tocara a pele do feiticeiro. Não sabia o que estava acontecendo consigo e estava com medo da forma como não tinha o menor controle perto de Magnus Bane.

Depois da conversa com Jace, ele se sentiu estranho. Convivia com Bane há praticamente quatro meses. Não lhe parecia uma boa ideia castigá-lo com práticas tão cruéis quando afogamento, ou greve de fome compulsória.

A festa de comemoração tinha sido um sucesso. Ele não parava de se surpreender com a capacidade que seu pai tinha de mentir e manipular. Ao entrar no salão, após toda a humilhação que impusera ao filho, ele sorriu carinhosamente e fingiu ser o pai perfeito. Foi então, que Gideon compreendeu duas coisas. 1) Precisava parar de querer a aprovação do pai em tudo o que fizesse. Ia manter a casa em ordem, mas do seu jeito, sendo rígido, mas justo; e 2) Não queria ser como o pai.

Não conseguia suportar a ideia de parecer com ele em nenhum aspecto. Por isso, sentia arrepios ao pensar em castigar Bane de forma física. Isso era uma coisa que seu pai certamente faria sem hesitar, e ele queria se afastar ao máximo de ter algo em comum com esse homem asqueroso.

Mas... como explicar aqueles intensos momentos em que apenas queria que Bane ficasse mais e mais perto? Foi um choque perceber a intensidade da resistência do feiticeiro, quando ele orgulhosamente ostentava o olho ainda inchado, como se para provar e esfregar na sua cara que tinha apanhado, mas também tinha machucado. E Gideon sentiu apenas remorso por ter espancado uma pessoa sem a menor necessidade. Nesses momentos, se confrontava com o demônio que sabia existir dentro de si.

Era uma lenda pensar que ele era descendente de anjos e portanto, isento de qualquer maldade. Ele podia sentir o mal se esgueirando dentro de si, como erva daninha, provocando rancor, rompantes de raiva, histeria... Por outro lado, Bane, um filho de demônios, era gentil e educado com todos, e quando sorria, coisas aconteciam dentro de Gideon. Mas, ele nunca sorria para Gideon. Ele sorria para os outros, e quando por acaso, Gideon via... raios de luz penetravam a densa escuridão na qual ele estava mergulhado.

Sacudiu a cabeça e andou pelo corredor. No que estava pensando? Desde que o feiticeiro chegara, ideias impertinentes andavam por sua mente. Não devia dar atenção a elas. Como sempre, seus pais acordariam tarde. Andou então para a sala de treinamentos. Precisava descontar a tensão em algo, então treinou até que seu corpo estivesse banhado em suor.

O sol já estava muito alto no céu, quando ele se enxugou com uma toalha e recolocou as roupas formais. Encaminhando-se para o salão de refeições, encontrou a família reunida à mesa, tomando o café da manhã. Robert e Maryse conversavam entre si, animados. Izzy estava calada, sem tocar em sua comida. O rosto de Max estava contorcido em um esgar de choro. As marcas de lágrimas no seu rosto indicavam que os pais já tinham lhe comunicado de sua decisão. Gideon estava chateado com isso. Sentiria saudades de Max, mas não podia impedir os próprios pais de o levarem embora.

- Bom dia senhores - ele saudou ao entrar - Magnus Bane foi resolver questões de segurança fora da Casa. Ao retornar ele providenciará o Portal para vocês retornarem à Idris.

Servidão e Liberdade || Malec Onde histórias criam vida. Descubra agora