Capítulo 26

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Alec estava flutuando. Era um sonho dele, desde a infância. E finalmente estava acontecendo. Ele sentia as pernas e os braços leves, o ar frio batendo no rosto, o cheiro da noite, fresco e úmido, entrando pelas suas narinas. Tentou abrir os olhos, mas eles estavam tão pesados que ele não conseguiria mantê-los durante muito tempo abertos, então desistiu.

A sensação era indescritível. Quase como se ele pudesse ir a qualquer lugar. Seu corpo estava leve como pluma, e ele sentia como se tivesse finalmente se desprendendo da escuridão abissal a qual estivera preso durante muito tempo. Inspirou o ar fresco e sentiu o tórax se expandir com a pressão do ar dentro dos pulmões.

Ele se lembrava de ter ouvido Izzy chamando-o, conversando com ele. Há quanto tempo tinha sido isso? E, o principal, onde estava? O que tinha acontecido com ele, já que não conseguia se mover direito, nem abrir os olhos, mesmo que sentisse o corpo leve como nunca?

Estava com sono, mas lutou contra ele. Queria ficar acordado e descobrir o máximo que pudesse! Ainda estava no plano terrestre? O que era essa sensação estranhamente boa de estar flutuando? Izzy ainda estava por perto? E como flechas, as lembranças inundaram sua mente.

A estradinha, Izzy segurando suas mãos, o pai sorrindo, sarcástico, e o punhal enfiado até o cabo em suas entranhas. Ele estremeceu com o teor emocional que as lembranças evocavam. Sentiu os olhos arderem e água se acumular nas bordas. Pensar nisso o cansava tanto. Respirou mais uma vez, com força, sentindo um prazer absurdo quando o ar encheu seus pulmões e entregou-se novamente para o sono acolhedor.

- Ele está chorando – Simon observou. Desde o dia anterior, quando Alec pedira água, eles estavam bastante atentos a ele. Agora ele tinha se remexido um pouco, as pálpebras estremecendo, e lágrimas grossas desceram pela sua fronte.

Izzy suspirou.

- Você acha que ele está sentindo dor? – perguntou a Magnus.

 O feiticeiro assentiu.

- Muito provavelmente sim. O ferimento foi bastante profundo.

- Será que ele vai ficar assim para sempre?

- Não – Magnus apressou-se a responder – Ele está se recuperando, e vai acordar quando se sentir pronto para isso.

- Sim – Izzy sacudiu a cabeça – Estamos perto de vê-lo recuperado, agora.

Simon não emitiu uma palavra. Anos atrás ele tinha uma mãe e irmãs. Mas há muito tempo não as via, e mesmo depois da transformação, não sabia se ainda sentia o mesmo afeto por elas. Mas compreendia o que o amor fraternal podia fazer. Na opinião dele, a hora da morte de Alec já tinha passado, e era perigoso continuar insistindo para que ele vivesse. Era como lutar contra o destino, contra as forças poderosas que regem as vidas dos humanos. Mas Izzy e Magnus continuavam tentando, lutando incansavelmente, sem permitir que Alec pudesse ir.

Para Simon, a única coisa de que Alec precisava era paz. E isso ele encontrava no abraço frio da morte. Em vida, nunca conseguiria realizar seu sonho de ser um Curador, estaria oficialmente banido da Ordem de Caçadores, não poderia constituir uma família, viveria fugindo e fingindo ser quem não era. Que vida era essa? Se fosse Alec, ele também não gostaria de acordar.

Mas não se atreveria nunca a dizer isso em voz alta. Sabia o quanto Alec era precioso para Izzy. Ela tinha jogado tudo para o alto por ele. Tinha com certeza, aberto mão de ser uma Lightwood para protegê-lo, e pensando nessa perspectiva, era melhor que Alec sobrevivesse para que os esforços dela fossem recompensados.

Ele olhou para ela, que estava fitando o irmão. Izabelle Lightwood era muito diferente do que ele imaginava ser. Ela era uma mulher bela, com a pele clara e os cabelos negros como ébano. Tinha um olhar inquisitivo, profundo, que parecia encarar sua alma, até que ele lembrasse que não tinha uma.

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