Capítulo 27

338 41 19
                                    

Magnus engoliu em seco. Cada minúsculo pedaço seu implorava por Alec. Mas as palavras que ele acabara de dizer mudaram sua decisão. Se não havia nenhuma chance, não imploraria mais. Nunca mais. 

- Se você não está aberto a nenhuma possibilidade de mudança - disse suavemente, após alguns minutos- não acredito que faria sentido dizer alguma coisa. 

Sentiu, mais do que viu, a surpresa muda que se apossou de Alec. 

- Porque você está aqui? 

- Isabelle me pediu. 

O silêncio encheu a pequena sala. 

- E porque eu queria estar - completou o feiticeiro - Precisava estar com você. 

O tempo parou e depois passou atropeladamente. Alec estava profundamente cansado. Não sabia o que dizer. Não sabia o que pensar do que acabara de ouvir. Lutar contra a morte durante todo esse tempo, tinha exaurido suas forças. Não conseguia processar o que o feiticeiro estava querendo dizer. Sentia sua mente arrastando-o para baixo. Tentou lutar para ficar acordado e continuar aquela conversa, mas logo escorregou de volta para um sono profundo. 

Magnus observou enquanto aquele homem grande e orgulhoso dormia. Devia estar cansado ao extremo, pois debilitado como estava, tinha ficado acordado por várias horas. Tinha conversado e sorrido. Isso devia ter consumido todas as suas energias. 

O feiticeiro levou a mão ao coração. Sentia um alívio tão absurdo que lhe dava zumbido nos ouvidos. Alec estava vivo e relativamente bem. Tinha reconhecido a todos. Ainda era capaz de se lembrar de tudo. Encostou o queixo na borda do sofá e se permitiu inspirar o cheiro de Alec, enquanto observava seu tórax subir e descer com a respiração profunda do sono.

Felicidade era isso. 

Izzy não encontrou nada de caça e quando saiu para caçar novamente duas noites depois, seguida pelo vampiro, Magnus sentiu o coração vibrar como um tambor. Alec mantinha os olhos semiabertos. Tinha sido orientado a poupar sua energia, e estava fazendo isso maravilhosamente bem, meio acordado meio adormecido, se mexendo o mínimo possível e apesar de poder movimentar tranquilamente os braços, permitia que algumas vezes a irmã lhe desse a comida na boca. Entretanto, quando Magnus ia fazer o mesmo, ele estendia as mãos e tomava o prato, se alimentando sozinho. 

Magnus respeitava todos os limites que o caçador impunha. Depois da confusa quase conversa que tiveram, Alec não disse mais nada e Magnus também não. Havia uma tensão palpável no ar e o feiticeiro, ao invés de se acostumar com o fato de que Alec finalmente estava de olhos abertos, se sentia cada vez mais ansioso sempre que topava com aqueles olhos de tom azul perene lhe encarando. 

Não dava para negar a realidade. 

Alexander Gideon Lightwood era seu ponto fraco, seu calcanhar de Aquiles e motivo de suas angústias. Queria ir embora, mas também queria absurdamente ficar. E na verdade, tinha mais motivos para ir embora, agora que o caçador estava bem. Mas não conseguia se decidir, ficando mais um dia e... outro… e mais outro... simplesmente porque queria, tendo em vista que a recuperação de Alec andava a passos largos e Izzy sabia ministrar todos os remédios.

     É pela proteção da casa Magnus dizia a si mesmo, mas a bem da verdade, nos últimos dias não havia tido nenhuma circunstância que indicasse estarem em perigo iminente. 

Na verdade essa casa é minha ele continuava dizendo a si mesmo… mas a verdade era que ele passara meses longe dali e foi somente quando Izzy o convocou que ele pensou que poderiam usar aquela "propriedade". O fato era que, agora, conseguia admitir para seus próprios pensamentos que continuava ali porque sentia que caso se afastasse agora, não veria aquele par de olhos azuis e orgulhosos tão cedo. 

Servidão e Liberdade || Malec Onde histórias criam vida. Descubra agora