Capítulo 23

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Três pessoas são capaz de guardar um segredo, se duas delas estiverem mortas.

(Benjamin Franklin)

A vida é um grande mistério. Talvez até mais do que a morte. Qual o grande propósito de estarmos aqui? Para quê? O que deveríamos fazer? Viemos de onde? Porquê?

A vida de algumas pessoas é colorida. A de outras é cinzenta. A de Alec sempre tinha sido monocromática. Variava entre tons terrosos, pastéis, acinzentados e claro, os grandes períodos em que oscilava entre preto e branco.

Por poucos meses tudo tinha explodido em vibrantes tons amarelos, vermelho vivo, azul... dourado. O arco íris tinha nascido em seu peito e inundado sua cabeça, confundindo seu senso de percepção. E com a chegada do arco íris, outras sensações, percepções, alucinantes pensamentos, sentimentos... tinham se apossado da sua rotina.

E era bom. Incrivelmente bom.

Ser repentinamente jogado ao cinza frio e pálido era torturante. Lembrar da vida engasgando sua respiração era torturante. Depois de perder a respiração vivendo coisas, respirar normalmente não era suficiente. Depois de sentir milhares de arrepios, a pele ardia por toques.

E era isso que Alec não entendia. Porque coisas assim aconteciam? Se havia alguém em algum lugar acima dele, suspeitava que esse alguém estava rindo de sua dolorosa e crescente necessidade de Magnus. É. Era isso. Não fazia mais sentido mentir para si mesmo. Tinha tentado se enganar. Dissera a si mesmo que seu corpo ansiava por sexo, apenas. Que era um homem adulto e precisava de alguma forma dissipar a libido que se acumulava.

Mas passados 386 dias desde a última vez em que tinha olhado para inquietantes olhos dourados, precisava admitir. Só se saciaria com Magnus.

Magnus.

Magnus.

Magnus.

O jeito impetuoso, arrojado e ainda assim misterioso de Magnus.

A boca atrevida e o olhar desobediente.

O corpo esguio e flexível, cheio de lugares quentes onde ele poderia se deliciar.

Estava obcecado. Louco.

Não conseguia mais se importar com o que Magnus tinha feito a ele.

Não com tanta saudade correndo nas veias.

Não com esse desejo visceral.

Não com as imagens das noites juntos lhe aquecendo o peito.

Sabia que nunca mais o veria, então permitiu-se cada vez mais lembrar do que antes tinha enterrado fundo em sua mente. Seus pensamentos o levaram para o dia em que Magnus, muito atrevidamente, sugeriu amarrá-lo.

- Não vejo como isso pode ser bom. - Alec sentia a garganta seca e seus pêlos se arrepiarem. Estava mentindo, claro. Quando Magnus disse "amarrar", mil imagens, todas envolvendo um prazer inenarrável, invadiram sua mente.
- Vai ser muito mais que bom. - Magnus sorriu, malicioso. - Se não gostar, prometo que paro imediatamente.
- Magnus - Alec engoliu em seco - A gente pode tentar isso outro dia.
- Medroso - o feiticeiro sussurrou em sua pele nua. Estavam metade despidos, as camisas jogadas ao chão, os cabelos já bagunçados por conta dos beijos violentos de momentos antes.
- Eu não tenho medo. Apenas prefiro...
- Não prefere não - Magnus o interrompeu - Você ainda não experimentou.
- Okay - Alec tentou não deixar a expectativa aparecer em sua voz - Vamos lá.

O sorriso perverso de Magnus lhe arrepiou e esfriou o estômago. Ele observou enquanto, com um movimento de mão, o feiticeiro evocava uma corda resistente.

Servidão e Liberdade || Malec Where stories live. Discover now