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Ele estava... diferente. Bem diferente do que eu me recordava, para ser sincera. Mas ninguém poderia me culpar por sua silhueta estar tão irreconhecível para mim; eu não o via há mais de quatro anos. E se eu pudesse escolher, escolheria não vê-lo mais. Nunca mais.

Ele estava mais pálido do que costumava ser, suas roupas estavam um pouco desleixadas, mas reparei que o material era bem mais caro do que ele costumava usar, do que eu costumava ver em casa. O cabelo, agora bem mais grisalho, lhe faltava um pouco na cabeça, mas a barba ainda continuava ali, todos os dias, minuciosamente aparada.

Infelizmente, os olhos rígidos era o que ele ainda possuía, além das costas curvadas e dos dentes amarelados.

Seus olhos pareciam com os meus.

Ele ainda possuía o cheiro nojento e repugnante de álcool que exalava todas as vezes que o vi.

Ele deu um sorriso de desgosto quando me aproximei, em uma das cafeterias proibidas de Uxtan. Lá acontecia todo tipo de coisa que alguém pode imaginar.

Me segurei para não sair correndo. Estava certa de que já estava bêbado. Ele sempre estava. Não sei como conseguia ficar de pé.

Durante todo o caminho, perguntei-me o que ele poderia querer de mim. Dinheiro, respeito, provavelmente melhorar seus status na mídia, já que, quando saímos, a fuga de seus filhos bastardos virou polêmica entre os maiores jornais; podíamos comprar um desse a cada esquina.

Mas seu olhar firme em cima de mim não me dizia nada dessas coisas. Me dizia que talvez, ele só não estava gritando comigo agora porque estávamos em um lugar público. Mesmo que esse local público fosse tão repugnante.

Eu parei de frente para a mesa, e o homem que me conduziu até lá parou ao meu lado, como se para impedir que eu saísse. Os olhos daquele que um dia chamei de pai me analisou.

— Sente-se — disse.

Não me movi.

— Estou bem aqui.

Ele levantou as sobrancelhas.

— Não me desafie. Eu não estou com paciência.

Ele nunca estava.

Não o obedeci. Por mais que meu irmão dissesse que eu deveria respeitar meu pai, eu não queria demostrar a ele que Markus ainda mandava em mim. Abandonei diversos princípios nesse momento.

Eu guardava muito, muito rancor dele.

— O que é?

Sentia repulsa. Queria ir embora.

— Onde está seu irmão?

— Seguro.

— Onde?

— Em um lugar onde nunca vai encontrá-lo. Me diga o que quer.

Ele bufou, recostando na cadeira de madeira. Com um gesto, ergueu a mão e chamou o garçom, pedindo outra bebida forte. Não me dei o trabalho de decorar o nome nem o cheiro terrível que embolou meu estômago assim que senti o odor da garrafa aberta.

Apenas ignorei a presença dele e da bebida enquanto encarava a ponta dos meus tênis sujos.

— Quero um favor.

Eu quase ri. Não o fiz pela garrafa de vidro que segurava firme, e que poderia facilmente voar em minha direção.

— E o que seria?

Ele sorriu.

— Seu sangue.

— Meu sangue?

— Os Túneis de Ultrapassagem. Quero usá-los e preciso do seu sangue.

Arthora | A Queda de Um ImpérioWhere stories live. Discover now