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Eu gostava da sensação dos meus cabelos molhados. Por incrível que pareça, aquilo me trazia uma sensação de liberdade.

Eu me olhava no espelho trincado, cujo quebrei com a cabeça de Renoward. Havia limpado o sangue, mas ainda conseguia ver o racho subir até o espelho acabar.

A roupa caia larga sobre mim e a calça de moletom cinza era a menor roupa que encontrei no baú. Eu diria que não tinha como ficar pior. Olheiras fortes marcavam debaixo dos olhos, estes estavam inchados de tanto chorar. Eu ainda não era capaz de encarar a cor dos meus olhos, mesmo sabendo que cor possuíam.

Sentia o estômago retorcer e uma dor esquisita nos ossos da perna. Agora, o tempo queria me dizer o quão ridícula fui em minha escolha.

Puxei o ar com força, saindo do banheiro e deixando o vapor para trás. Deitei na cama de Renoward, puxando os joelhos para perto do peito. Não estava chorando, mas havia uma sensação vazia em meu peito, como se o coração tivesse desistido de exercer sua única função.

Não sei quanto tempo encarei os janelões. Deixei minha cabeça viajar para longe.

Me assustei quando Aaden sentou na beirada da cama. A cama era eorme, na verdade, mas o colchão afundava o bastante para quase me arrastar.

Eu me virei, observando o soldado.

— Oi — sussurrei.

Portos inclinou a cabeça para o lado.

— Oi. Como está, ruivinha?

Apertei os lábios, desviando os olhos.

— Melhor. Mais consciente, eu diria. Consigo pensar melhor, mesmo que ainda esteja doendo demais.

— Isso é bom.

— É.

Ficamos em silêncio. Encarei minhas unhas quebradas de forma irregular. Mordi o canto da boca enquanto expulsava o enjoo para longe.

— Zylia está fazendo chocolate quente — disse Portos.

— No verão? — olhei para ele.

Aaden deu de ombros.

— Ainda estamos na primavera.

— Mas estamos mais perto do verão do que do inverno.

Ele soltou um riso desanimado. Comprimi os lábios em um sorriso falho.

— É. Eu sei.

Me encolhi um pouco mais. Aaden me observava sem nenhum brilho diferente nos olhos. Percebi que ele procurava desesperadamente me dar algo para fazer. Me tirar da cama, me contar uma curiosidade, fazer o tempo passar. Talvez me dizer como foi horrível a experiência de cozinhar pela primeira vez.

— O que foi? — perguntei.

Ele deu de ombros.

— Nada. Eu só estava cogitando a ideia de você se juntar a nós.

Suspirei. Me levantei, me arrastando para fora da cama alta, sentindo os pés, de repente, frios demais.

— Onde vai?

— Para a cozinha. Com vocês.

O soldado franziu o cenho.

— O que você entendeu?

— Que era para eu me juntar na cozinha com vocês. — E emendei. — Sei que está querendo ajudar. Eu preciso mesmo de interação. Ficar pensando apenas em Hale vai só piorar as coisas.

Arthora | A Queda de Um ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora