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As tendas tinham um padrão. Eram pequenas e rígidas, mas proporcionavam um bom espaço para cada família. Entre as tendas camufladas pela floresta, crianças brincavam, corriam e riam, sem ter nenhuma preocupação.

Eu pensei que iriamos para algum tipo de refeitório, mas fomos à tenda da sala de reuniões, que era grande e espaçosa, e possuía cinco compartimentos: sala de jantar, cozinha, banheiro, sala de reuniões e uma pequena área de lazer, de frente para o lago, onde um grande píer de madeira se estendia.

A lona verde-musgo balançava com o vento do lado de fora.

Comemos até bastar e essa foi a deixa para que eu observasse todos e reconhecesse pelo menos um ponto que poderia ser considerado uma fraqueza. Não achei a de Renoward. Ele sentou-se à mesa, se fez presente, mas não comeu. Não bebeu nada e também não disse quase nada. Apenas assentia com algumas afirmações que Zylia ou Aaden faziam.

Quando terminamos, a tenente fez um pronunciamento para o nosso pequeno grupo de pessoas. Ela sugeriu que entrássemos para o grupo. Queriam criar vínculos de amizade, apesar de não ter sido essas as palavras que foram usadas. Algo me dizia que talvez eu não devesse confiar totalmente neles.

Eliya afirmou que não fazíamos parte oficialmente, algo que eu já suspeitava, mas que a vaga estava disposta para conquistarmos caso quiséssemos. Eu não estava certa nem do que comi no dia anterior. Acreditava que ela o fazia porque Hale tinha a confiança deles.

E fazia sentido se pensássemos no passado. Mas eu ainda achava uma atitude um pouco imprudente. Eramos novatos, de uma terra distante. Peregrinos que surgiram no breu da noite. Se ela não acreditou ao afirmarmos que éramos de arthorianos, por que ela confiaria em nós agora?

— Se aceitarem entrar, receberão o treinamento necessário de acordo com as regras do reino — disse ela.

Levantei um pouco o queixo antes de dizer:

— E se falharmos?

Sua resposta demorou para vir. Os olhos de Zylia viajou entre Eliya e Renoward. Ela parecia entrar em uma decisão silenciosa com os dois.

— Bem, então não terão direito de entrar para a liderança.

— Entendo que confia no meu irmão, mas quem garante que não estamos mentindo? Podemos ser infiltrados de qualquer lugar — argumentei.

Hale trocou o peso de um pé para o outro.

— Ela está certa — disse ele.

Porém Zylia apenas deu de ombros.

— Se forem espiões, pagarão as consequências que um espião deve pagar. Eu posso confiar em vocês, mas se traírem minha confiança não há perdão. Considere essa chance uma dádiva.

Assenti. Uma dádiva. Imaginava se as coisas funcionavam diferentes eu um acampamento arthoriano, apesar de que nunca estive em um.

— Contra quantos estaríamos competindo?

— Os treinamentos foram abertos há dois meses — disse Portos. — São trinta ao todo e serão escolhidos por eliminação. O merecimento é muito valorizado aqui.

— E não são obrigados a participar, se não quiserem. É uma sugestão que estamos dando — Eliya disse o óbvio, diminuindo a voz logo em seguida. — Mas nós gostaríamos que tentassem.

Foi a minha vez de intercalar o peso de um pé para o outro. Quase não percebi que retorcia a barra da blusa branca, deixando-a amassada.

Zylia anuiu.

Arthora | A Queda de Um ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora