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Cento e sete.

Renoward explicava algumas coisas sobre a invasão que eu faria. E, no momento, eu estava tão impressionada e particularmente apavorada, que quase não prestava atenção.

Tinha acabado de perguntar quantos corredores, ao total, tinha o calabouço.

— E eu vou ter que atravessar todos? — questionei.

— Teoricamente, sim.

— O que quer dizer com teoricamente?

Ele deu de ombros.

— Ela pode não estar mais no calabouço.

Ergui as sobrancelhas.

— Então nosso trabalho pode ser em vão?

— Eu nunca sei o que Ridgar vai aprontar. A única coisa que sei, é que minha irmã ainda está viva.

Ah, ótimo. Pelo menos agora sabia de onde Renoward tirava tantas surpresas.

Esfreguei as têmporas. Eu estava cansada e com sono, o que poderia me deixar de mau humor de um jeito muito fácil. Não consegui dormir na noite anterior. Tentei não pensar na conversa de Zylia sobre meu irmão. Tentei não pensar na morte de Hale. E tentei, principalmente, não pensar no que Renoward me disse, mas para a minha infelicidade, aquelas palavras foram e vieram diversas vezes na minha cabeça.

— Não seria mais fácil espionagem? — sugeri. — Assim você consegue ter certeza de que ela está viva.

— Eu tenho certeza de que ela está viva. Não preciso de uma confirmação.

— Ótimo — falei.

— Não será difícil, Gaëlle.

Assenti. Não mencionei a noite passada. Nenhum de nós dois, na verdade. Era como se não tivesse existido. Estava louca para sair dali; ficar na presença dele ainda me causava repulsa. E curiosidade.

— Em termos de arma, o que vou poder usar? — questionei.

— A que você quiser.

Levantei as sobrancelhas.

— Qualquer uma?

— Sim.

— Como?

Ele levou um tempo para responder. Suas mãos enluvadas soltaram um entre os milhares de papéis que estavam em cima de sua mesa. Renoward se levantou e andou até a prateleira, deslizando as mãos por sobre alguns livros. Ele parou em um com a cor verde escura, da capa já velha.

E então puxou.

Nada aconteceu, era apenas um livro mesmo.

Porém, debaixo dele havia um botão. O príncipe o pressionou, e um barulho alto foi ouvido. Do outro lado do quarto, uma plataforma que eu nunca tinha visto se abria diretamente do chão. De lado, como uma porta de puxar. Parecia pesada e, devagar, revelou uma grande escadaria que levava para baixo e para baixo. Era branca, reluzente, e as paredes eram bejes do lado de dentro da passagem.

Feito de mármore nobre, sempre das pedras mais caras.

Renoward passou por mim, descendo a escada em espiral e larga. Um pouco hesitante, fui atrás dele, observando cada detalhe.

Os grandes blocos de pedra da cor bege seguiam por todo o canto. Alguns pilares, da mesma cor das paredes, erguiam-se do solo. Quando mais descíamos, mais a escada se alargava. Era branca, como a neve e refletia toda e qualquer luz que ali batesse.

Renoward descia confiante, sem nem olhar para trás checando se eu o seguia.

Então, o espaço se abriu em um enorme salão. Alto, muito alto e espaçoso. Nossos passos faziam eco e o chão lustroso e branco refletia nossos corpos. Todo ele acompanhava a cor dos pilares que erguiam-se por todo o salão, tanto nas paredes, agora lisas, quanto no meio do próprio lugar. Não foi preciso acender nenhuma luz; todos os candelabros acenderam quando Renoward passou por eles.

Arthora | A Queda de Um ImpérioOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz