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Eu estava sendo egoísta. Hoje tenho consciência disso. Mas naquela época, no auge da minha imaturidade, quando tudo o que eu sabia sobre sentimentos era ódio e raiva, e tudo o que eu fazia era sobreviver, não me importei com isso. Hale foi a única fonte de amor que tive durante todos os dezenove anos da minha vida.

Eu não entendia como alguém como ele deveria morrer. Alguém que se esforçou a vida toda para esbanjar amor para irmã quando não recebia de ninguém.

Hale era meu incentivo. Depois da morte dele, eu senti como se não tivesse mais incetivos. Como se o mundo pudesse acabar. E, apesar de eu ter negado a proposta de Renoward, eu menti para ele. Eu não tinha motivos para continuar viva. Neguei porque de fato, não via porque salvar a princesa. Neguei porque era egoísta.

Ok, pode me chamar de egoísta agora. E de insensível. E sem coração. E sem empatia. E todas as coisas ruins que você pode dizer a alguém. Eu concordo com você. Não vou defender minha imaturidade. Nem dar explicações mais fúteis do que dizer que eu não queria. Simplesmente assim.

Naquele dia, passei o resto do tempo revirando o que ele disse, o que eu decidi, meus argumentos e os dele. Era melhor pensar nisso do que na morte de Hale, que ainda ardia, ardia tanto dentro do meu peito.

Eu li as outras cartas também. Uma por uma. Nenhuma dela constatava algo que fosse de fato importante, a não ser a última que abri. Não acho que eu tinha uma resposta para esta. Não acho que eu tinha nem o que comentar.

"Caro irmão,

Acho que chegamos ao fim. Não sei se anda recebendo minhas últimas cartas, mas essa é a última que lhe escrevo. Não porque estou desistindo de escrever para você. Na verdade, eu amo, porque me tráz um pouco de conforto do que ficar sozinha aqui. Mas eu não vou mais poder escrever para você. Minha cota acabou.

Os dias estão acabando. Mais alguns meses, e vou me juntar à Terra do Imperador. Para ser sincera, eu estou com medo. Estou com medo da dor que Ridgar vai fazer questão que eu sinta. Sei que depois tudo vai acabar, mas eu estou certa de que ele vai me torturar. E eu não quero passar por isso.

Não me arrependo da minha decisão. Seguir ao Imperador foi a melhor escolha da minha vida. E, acho que já entendeu, mas estou nervosa, então não estou com medo do pós-morte, mas sim do que vou ter que enfrentar para chegar lá.

Não quero parecer desesperada, mas eu estou. Eu imploro, irmão. Se puder me tirar dessa... Sei que se eu tiver que morrer, isso vai acontecer, mas eu não consigo deixar de pensar na possibilidade de você me tirar daqui. Por favor, eu não aguento mais. Talvez você seja o único que possa fazer isso.

Há algo que preciso te contar. É urgente. E honestamente, quebra um pouco de princípios, pois fiz uma promessa quanto a isso, porém não me resta escolhas.

Quando o decreto de execução foi anunciado, eu já estava particularmente envolvida em uma amizade de um arthoriano. Foi por causa dele que comecei a ajudá-los. Mas ele foi o primeiro que ajudei. Seu nome era Hale Provence. Ele estava desesperado porque ele e a irmã mais nova estavam incluídos na execução. Eu o mandei para Álix, para Zylia, uma antiga amiga. Você a conhece, sei disso.

Não sei se Hale ainda está lá, muito menos se a irmã dele está viva, ou se o próprio ainda está aqui. Mas, se não for possível me tirar daqui, encontre-os. Proteja-os. Você não faz ideia do quanto eles são importantes. Eles são a esperança de uma nação inteira, irmão. Sei disso. Eu sinto que o propósito deles é muito maior do que apenas existir. Se nada der certo, cuide deles por mim.

Eu amo você.

Com amor, e muita, muita saudade,

Sua irmã."

Arthora | A Queda de Um ImpérioWhere stories live. Discover now