Epílogo

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Meus passos saíam abafados enquanto eu caminhava em direção à Renoward. A luz da lua iluminava seu rosto coberto, simétrico; eu diria perfeito.

Não. Eu ainda não gostava dele.

Ele olhou para mim, atento ao que se aproximava dele. Parei a cinco passos de distância. Ele me encarou e ergueu as sobrancelhas.

— Não consegue dormir de novo? — perguntou.

Devolvi com um olhar de desdém.

— Parece que você também não.

Eu me sentei ao seu lado na grama. Fazia alguns dias que não conseguia dormir direito. Acordava no meio da noite suando frio, com uma grande sensação de enjoo na barriga, o que me fazia pensar que queria vomitar, mesmo que eu soubesse que não queria. Mesmo assim, ainda não era tão terrível quanto antes. Antes eu tinha pesadelos. Agora, eles tinham diminuído.

O soldado observava a cidade, colina abaixo, onde as luzes dos prédios formavam grandes ondas de estrelas artificiais. Ainda conseguíamos ouvir o movimento; a vida de uma cidade. De alguma forma, era lindo.

— Não sabia que você gostava de observar a cidade — comentei.

— A janela do meu quarto em Sulman ficava virada para a cidade por um motivo.

Eu ergui as sobrancelhas.

— Para um sulmanita, até que você não tem mal gosto.

Soube que ele abriu um sorriso pelo canto do seu olho.

— Está dizendo que tenho bom gosto, Provence?

— Eu não disse nada disso. É você que está dizendo.

Ele ficou em silêncio, mas eu sabia que um sorriso relativamente desanimado estampava seu rosto. De alguma forma, eu sempre soube disso.

Eu deixei o som dos ventos que balançava as árvores pairar entre nós por alguns instantes. O vento batia contra nossos rostos, balançando de leve meu cabelo ruivo, e um pouco de seu cabelo preto.

Eu encarei a ponta do meu tênis antes de subir meu olhar para ele. Renoward continuava observando a cidade.

Eu também a observei, juntando coragem para dizer uma verdade nua e crua. Porque analisei e vi que era a verdade mais nua e crua que sairia da minha boca.

Eu engoli em seco antes de dizer:

— Sabe, eu não culpo você.

Senti seus olhos verdes sobre mim. Ergui meu olhar para o soldado e nos encaramos por um tempo longo.

— Não? — disse por fim.

Eu neguei.

— Não. Você queria salvar sua irmã. Se eu estivesse no seu lugar, eu faria o mesmo.

— Acho que você não seria covarde a ponto de mandar outra pessoa em seu lugar.

— Você não estava sendo covarde. Ridgar te mataria se descobrisse você lá. — Eu dei de ombros. — Sei que fugiu por alguma razão que desconheço, apesar de que sei o quanto é desagradável aquela família. É repugnante. — Esperei. — Sem ofensas.

Ele riu baixinho.

— Não ofendeu.

— Que bom.

Ele abaixou o olhar, encarando o pedaço de grama que nos separava.

— Obrigado — disse. — Por não me culpar.

Arthora | A Queda de Um ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora