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Era bom, na verdade, caminhar sob o luar. Zylia nos conduziu pelo longo caminho sem tochas nem lanternas. Ao nosso lado caminhava o soldado que pediu permissão para atirar (e se identificou como Portos) e mais um, cujo não quis se identificar. Ele permaneceu sério durante todo o caminho, carregando a arma rente ao corpo. Seus olhos claros eram sombrios e seu rosto não demostrava sentimento. Seu rosto não estava a mostra, percebi.

Entretanto ignorei o fato, continuando a caminhar. Jamais veria ele depois dali. Mas Zylia parecia confiar nele mais do que ninguém.

Apesar de tudo, não me sentia segura. Estava inquieta e cansada. E com fome. E preocupada. Talvez minha cabeça não conseguisse parar de pensar sobre aquele lugar. Não daria tudo para saber o que se passou ali, mas minha curiosidade coçava a garganta.

Se fosse dormir, não conseguiria, mas também não conseguia ficar de pé por tanto tempo; o sono fazia minhas pestanas baterem com força.

Meus batimentos cardíacos estavam acelerados. Minhas mãos suavam. Meus pés estavam gelados, apesar do clima quente.

Hale caminhava do lado de Zylia e eu só não ia atrás de todos porque os soldados fizeram questão de não me deixar para trás.

Demorou um pouco para chegarmos ao acampamento. Não ficava tão longe da vila em que estávamos.

Depois das colinas, atrás das árvores que não balançavam com o vento, um pouco mais afundo da floresta, ficava um imenso acoplado de tendas sintéticas. Era um lugar simples, mas grande. As tendas se erguiam na cor verde e se camuflavam se vistas de muito longe ou olhando rápido demais.

— É enorme — meu irmão relatou o óbvio, mas a resposta de Zylia me deixou confusa.

— Álix foi saqueada há alguns meses — disse ela. — Viemos pra cá com parte da população e o restante se espalhou pelas florestas próximas às vilas arthorianas. Ainda há muito o que reconstruir.

Aquilo parecia ser bom.

Fomos conduzidos pelo acampamento.

Reparei nos soldados e na tenente. As pessoas não temiam a eles, mas os saudavam com alegria, prontos para ajudar no que fosse. Pessoas de todos os tipos perambulavam pelo acampamento, ainda carregando produtos de seus trabalhos ou preparando os filhos para dormir.

As tentas se erguiam a cada passo e fiquei admirada com a forma de organização de um acampamento. Eles se deram o trabalho de abrir um caminho na terra, que os levariam em direção às suas tendas. Impressionante.

Observei quando Zylia parou e agachou-se, recebendo uma menininha de cadeira de rodas.

— Como está, pequena? — perguntou a tenente.

— Muito bem, senhora. Olhe. Eu e minha mamãe plantamos algumas flores e eu trouxe para você.

Do lado da menina, uma mulher, já de cabelos grisalhos, olhava para as duas com um sorriso grato no rosto.

Zylia sorria.

— Azuis! — disse. — São as minhas preferidas. Obrigada.

A menininha sorriu com felicidade e conduziu sua cadeira para o lado da mãe, onde as duas passaram a conversar alegres.

Depois de assistir a cena, não me impressionava que Zylia tivesse ajudado meu irmão a cuidar de mim.

Uma garota, lá de longe, que conversava com outro soldado, nos avistou e correu até nós, sem se preocupar em se despedir do homem. Com alguns movimentos, ela já estava perto de Zylia, que parou para recebê-la. Me aproximei enquanto a observava abraçar meu irmão com um sorriso de satisfação no rosto.

Arthora | A Queda de Um ImpérioWhere stories live. Discover now