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Foram vinte minutos até conseguir tudo o que precisávamos, mas para mim soou como uma eternidade. No fim de tudo, eu me vestia devidamente como uma princesa. Conseguimos uma máscara de baile, luvas simples azuis e um vestido azul com bordas e rendas bonitas douradas.

Zylia trançou meu cabelo em questões de segundos, de uma forma que tapasse minhas orelhas, mas ainda formasse um belo adorno de tranças. Ela era muito boa. Por um momento, me perguntei como Zylia arranjara tanto tempo para aprender a trançar, cozinhar e governar um reino. Acho que eu não daria conta.

Eliya me ajudou com o coldre novo. Eu achei os sapatos. Portos e Renoward me ajudaram com armas novas e mais munições.

E de repente, eu os encarava antes de sair.

— Foi bom conhecer vocês... — falei.

Aaden deu um riso nervoso e balançou a cabeça.

— Não diga isso. É errado deixar seus amigos nervosos, sabia?

Eu ri.

— Eu sei. — Dei de ombros. — Volto logo. Renoward ainda me deve uma explicação.

Eu olhei para ele. Seus olhos permaneciam encarando o chão.

Segurei a maçaneta, mas a mão calejada de Zylia segurou meu braço. Eu olhei para ela por cima do ombro. A tenente me puxou para um abraço.

— Vai dar tudo certo — ela sussurrou.

Eu não tinha certeza disso, mas ficar ali parada enquanto poderia salvar a princesa e fazer algo de realmente útil não era mais uma opção.

Por um segundo, desejei o abraço do meu irmão.

Ao me desvencilhar, percebi um brilho diferente em seus olhos. Algo suplicante. Algo terrivelmente assustador. Algo que não costumava ver em outras pessoas. Esse brilho implorava para que eu ficasse bem. Para que eu voltasse.

Era algo que, durante toda minha vida, apenas meu irmão teve sobre mim. Carinho. E era, de uma forma tão infinitamente incerta, assustador demais para apenas aceitar.

— Tenho algo pra você — disse ela. — Por favor, não fique brava comigo. Eu só... acho que vai precisar.

Zylia puxou do bolso uma correntinha prateada, com pedras brilhantes e um símbolo que eu não entendia. Reluzia, linda e cativante. A correntinha que meu irmão me deu. A correntinha que enterrei apenas dois centímetros debaixo da terra porque não consegui cavar mais.

— Você desenterrou. — Minha voz falhou.

Ela assentiu, relutante.

— Seu irmão não te deu isso para que ficasse guardado, você sabe.

A líder tentou um sorriso. Eu também tentei.

— Posso? — perguntou.

Assenti, deixando com que ela abotoasse a correntinha ao redor do meu pescoço. Um pedacinho de Hale, uma lembrança dele comigo.

Dar um presente ou lembrança ao soldado que vai à batalha era uma questão de honra na corte de Álix. Aprendi isso depois de anos trabalhando ao lado deles. Sempre que algo desse tipo acontecia, Zylia fazia questão de escolher os presentes minuciosamente.

— Isso não vai entregar que sou arthoriana?

Pela primeira vez, Renoward manifestou-se.

— Não vai. Não vão nem perceber.

Apertei os lábios. Assenti.

Segurei o ombro de Zylia, fazendo uma pequena saudação com a cabeça. Ela sorriu, devolvendo a saudação. Passei os olhos mais uma vez sobre cada um deles, antes de sair do quarto e caminhar em direção a pessoa que eu mais teria prazer em irritar.

Arthora | A Queda de Um ImpérioWhere stories live. Discover now