53

72 25 9
                                    

Depois que me afastei dele, suas mãos seguraram as minhas, e acariciou-as com um carinho extremo.

— Por que você não impediu? — sussurrei.

— Oh, minha querida Gaëlle. Minha filha. Eu jamais gostei disso. Eu detestava te ver assim, mas o que eu podia fazer se você não queria minha ajuda? A sua teimosia predominou e eu não podia invadir sua vida e simplesmente obrigá-la a aceitar minha ajuda quando você não queria nada de mim.

Meus olhos estavam embaçados demais, mas eu sabia que ele chorava também.

Pensei que ele continuaria a jogar na minha cara o quanto eu o rejeitei, porém ele sorriu. Porque esse não era seu caráter. Ele podia estar decepcionado, mas não apontaria dedo.

Depois, levou as mãos macias e calejadas até meu rosto, enxugando minhas lágrimas, mesmo que mais escorressem.

— A vida é feita de desertos. São necessários para construí-la. Mas não significa que algo te machucou que eu não estava lá. Quando tudo o que você vê é a escuridão, cega pela dor, é muito difícil me ver. Mas eu sempre estive com você.

Suas mãos seguraram as minhas.

— Venha. Vamos comer e descansar um pouco.

* * *

Alguns minutos depois, estávamos do lado de fora, onde servimos creme de cebola e torradas, mel e o melhor de todos, profiteroles. Havia também chá de camomila, onde colocávamos o mel. Colocamos o leite e as passas e amêndoas em cima da mesa que era mantida por uma caixa de madeira, e coberta por uma toalha xadrez. Dois pequenos bancos confortáveis estavam cada um de um lado.

Não me pergunte de onde tiramos todas essas coisas. Apenas sei que estavam nos armários da casa, e todos os alimentos estavam bem conservados.

Eu observava o horizonte enquanto apreciava os deliciosos profiteroles. Meu doce de favorito, de infância, traziam lembranças de quando Hale conseguiu alguns para mim. Foi ótimo para me distrair e pensar em coisas boas. Eu não tinha me dado conta no quanto estava com fome. Quando me dei por satisfeita, coloquei mel no chá, ainda apreciando uma enxurrada de gostosura.

— Como posso te chamar? — uma vez perguntei.

Senti seus olhos sobre mim e olhei para ele. Em seu rosto, um belo sorriso surgiu.

— Não sei como me referir a você — expliquei. — Sei que... aceitei uma vida ao seu lado a muito tempo, mas não deixei que fizesse o que tinha que ser feito. E, apesar de tudo, nunca soube por qual nome chamá-lo.

— Me chamo Yüksek.

Yüksek, o Imperador dos reis.

— Yüksek — repeti. — Eu gosto.

Ele riu.

Assenti, memorizando o nome em minha cabeça.

Relaxei os ombros e fechei os olhos, deixando o vento bater contra meu rosto. Uma brisa suave e quente do verão. Eu ainda tinha muitas perguntas. Ainda tinha muitos questionamentos, mas não tinha ânimo, nem vontade de perguntar. Deixei o bom clima me envolver e desejei poder dormir, por mais que não tivesse sono algum.

Puxei o ar profundamente antes de abrir os olhos. E então me deparei com o pôr do sol. Como se horas tivessem se passado.

E ali estava ele. O sol ainda deixava seus raios dourados aparecerem, mas havia vermelho no meio. Com um amarelo suave e um roxo marcante, aquele pôr do sol era o mais lindo que eu já tinha visto.

Porém havia algo de muito, muito novo nele. Algo que jamais pensei presenciar.

Me levantei, devagar, mal sentindo minhas pernas.

Arthora | A Queda de Um ImpérioWhere stories live. Discover now