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Senti meu corpo parar de repente, chocando-se contra alguém. Saí do transe por alguns segundos enquanto uma dor subia para minha cabeça. Um cheiro familiar se fez presente e mãos pousaram no meu ombro com um toque sereno.

Eu senti uma pontada de ódio ao reconhecê-lo.

— Você está bem?

Percebi os olhos verdes me encararem por tempo o bastante para acabar com a minha memória.

Com um movimento brusco, me soltei de suas mãos. Renoward permaneceu me encarando com as sobrancelhas unidas.

Reparei que suas mãos enluvadas entraram nos bolsos da calça preta, mas que ele não usava o uniforme preto de soldado. Estava vestido de forma casual e irritantemente elegante.

— Estou. — Minha voz saiu de modo brusco e grotesco.

Não sei se deveria ter medo disso. Nem se deveria me arrepender.

Os olhos de Renoward dançaram sobre meu rosto por alguns segundos.

— Onde esteve esse tempo todo? — indagou.

— Estava procurando por mim?

Ele revirou os olhos.

— Você ainda está com o uniforme de treino e seu cabelo continua sujo.

— Para um soldado, você repara demais em mim.

— Ser um soldado não significa que não devo reparar nas pessoas.

Ridículo.

— Não importa onde eu estava. Isso não interessa.

Ele riu.

— É mesmo? — Ele maneou a cabeça, jogando-a para trás. — Eu só fiz um pergunta.

E não vou respondê-la.

Fiz menção de continuar, porém ele me parou de novo, segurando de leve meu braço. Aquele maldito toque robusto e cuidadoso.

— Aonde vai? — Outra pergunta.

— Descansar. — Não sei por que respondi.

O soldado me analisou mais um pouco; parecia procurar algum sentimento, alguma explicação ou resposta nos meus olhos. Aprendi que não deveria deixar que vissem há um tempo, mas eu sempre tive um pouco de dificuldade em esconder o que se passava.

Entretanto, Renoward era um mestre em esconder emoções. Eu jamais consegui saber muito sobre ele pelo olhar. Eu jamais soube nada sobre ele.

— Vem comigo — disse ele, de súbito.

— O quê?

— Não questione. Venha.

Ele não me arrastou. Ao invés disso, soltou meu braço e começou a caminhar na direção que seguia antes. Pensei em voltar e ignorá-lo, porém eu nunca saberia para onde ele me levaria se não o seguisse.

Renoward não podia me matar. Nem me prender. Nem mentir. Não tinha como ele me prejudicar, tinha?

Eu o segui.

O soldado traçou o caminho pelo longo corredor dourado e virou. Passamos em frente a biblioteca, e a sala onde eu e Hale jogamos xadrez. Descemos alguns poucos degraus, indo em direção às portas de vidro adornadas em ouro e metais caros, que seguiam até o teto e o lado das paredes.

Renoward não precisou dizer nada para que os guardas abrissem as portas, e seguiu reto depois de passar por elas.

O som dos meus passos passaram de piso ilustrado para pedra, e depois, grama. O cheiro das plantas e de terra molhada me fez despertar um pouco. Não havia ninguém no jardim, o que era claro, já que não se arriscariam durante a noite, mesmo tudo estando aparentemente seguro.

Arthora | A Queda de Um ImpérioWhere stories live. Discover now