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Eu ri.

— Uma proposta. — Testei a palavra na minha boca.

Dei de ombros, sentindo meus braços doerem por sustentar a arma por tanto tempo. Se ele não recuasse a dele, eu não recuaria a minha.

— Não, obrigada. Não estou interessada.

— Não precisa estar interessada. Apenas quero que ouça.

— E se eu não quiser?

— Espere antes de perder uma oportunidade.

Ponderei. Meus ouvidos zuniam num vai e vem agudo. Meus braços queimavam e Renoward permanecia em uma posição relaxada e confortável, sem nenhum esforço ao apontar a arma para mim.

— Não — falei.

— Tem como você lidar com isso de uma forma mais lógica. Você decide não escutar o que eu tenho a dizer e se livra disso, e também de outras coisas e depois que se der mal, sofrerá o resto da vida se perguntando o que teria acontecido caso tivesse ouvido. Ou, pode ouvir o que tenho a dizer.

Cerrei os dentes, desviando o olhar por alguns segundos.

Renoward não quebrou a conexão um segundo sequer. Ele permaneceu me olhando.

Pensei que ele continuaria falando, mas ele esperava minha resposta. Ele estava dando escolhas, alternativas cujo poderiam mudar meu futuro bruscamente e eu não sabia qual delas era a correta.

— O que você quer?

Acho que Renoward abriu um sorriso. Pelo menos, era o que minha intuição dizia sobre o brilho que passava em seus olhos.

— Boa escolha. Você deve ter lido, em alguma carta, algo sobre a princesa estar presa.

— Li algo parecido.

— Bem, ela foi denunciada ao rei e está condenada à prisão. Sua vida está, agora, com os dias contados-

— Por que ela foi condenada? — o interrompi.

Ele deu uma risada nasalada, amarga.

— Digamos que as pessoas que possuem fé no Imperador são condenadas nessa corte. De qualquer forma, ela não fez nada que de fato a fizesse merecer a prisão. E, embora eu odeie ser contra as regras, preciso fazer isso nesse momento. A princesa, minha irmã, vai ser morta em seis dias se você não tirá-la de lá.

Não sei como pude achar aquela ideia engraçada. Pensando agora, foi muita grosseria da minha parte. Mas a verdade, é que eu estava com medo. Eu estava quase chorando de raiva e medo, porque minha vida nunca seguia corretamente e a ideia de ser proposta a tirar uma princesa da prisão do reino que deseja minha morte é simplesmente aterrorizante.

É terrível.

Eu ri, no momento. Eu suava, meu braço ferido latejava, minhas mãos estavam dormentes. Eu lembro que vi um relance de esperança passar sutilmente pelos olhos de Renoward. Tão ligeiros que quase não fui capaz de captá-los.

— Você quer que eu a tire de lá? — perguntei. — É sério?

— Até onde eu sei, não estou brincando. Você é a única que pode fazer isso.

— Por quê?

Ele levantou as sobrancelhas.

— Além do que é mais óbvio?

— Faça isso você. Não quero me envolver em contenda de família.

— Eu não posso, Gaëlle. Se o rei descobre que estou aqui, é o fim da minha vida.

Arthora | A Queda de Um ImpérioWhere stories live. Discover now