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Aaden estava na esquina seguinte. Estava extremamente preocupado, e ao me ver me deu uma bronca, mas estava bem. Sem nenhum arranhão.

Fiz menção de perguntar como aquilo tinha acontecido, mas Renoward apenas negou e Aaden me olhou confuso. Nem mesmo ele entendia o amigo.

O príncipe de Sulman nos guiou de volta ao palácio com destreza e segurança e Portos mostrou a passagem secreta ao soldado de máscara. Me impressionava saber que ele não fazia ideia de que aquilo existia.

Eu andei calada o percurso todo. Não tocamos no assunto. Portos não demostrou interesse, mas eu sabia que ele estava doido para entender o que tinha acontecido.

Zylia ficou atenta de repente quando entramos. Eliya correu abraçar Portos e a tenente se aproximou do soldado. Tive a impressão de que suas mãos tensionadas tentavam evitar que os olhos ficassem marejados.

Ele a observou antes de reverenciá-la com a cabeça.

— Ah, meu amigo... — a tenente começou, mas Renoward negou com a cabeça.

— Sinto muito. É minha última chance.

Zylia abriu um sorriso fraco, acariciando maternalmente o ombro do soldado.

— Eu sei. Não estou brava. Vai dar tudo certo.

Ele assentiu.

— Bom, antes de borrarmos as calças em mais uma missão — disse Aaden, indicando a cozinha —; estão com fome? O jantar é por minha conta.

— Não se eu puder evitar — retrucou Zylia. — Sua comida é péssima.

— Ei! Sou bom com a cozinha, está bem?

Ela riu.

— Não é não. Renoward é bom.

— Me comparar com Renoward é jogo sujo, Zylia. Ele consegue até te superar às vezes.

Ela ergueu as sobrancelhas com um sorriso torto.

— Nem me fale. Consegue ganhar de lavada dependendo do prato. Nossa disputa é bem acirrada.

Quase poderia dizer que o soldado sorria. Não tinha certeza.

— Eu faço o jantar — disse.

— Não quer que eu faça? — Zylia questionou.

O príncipe negou.

— Pode deixar. Eu sei o que tem nos armários.

Mas assim que passou por ela, levantou as sobrancelhas.

— Amanhã é você.

Ela riu.

— Tudo bem. Eu sei que vocês amam minha comida.

Aaden fez um biquinho, negando com a cabeça como se fosse brincadeira.

— Sabe que eu nunca senti falta...

A tenente não foi capaz de segurar a risada.

— Pode continuar tentando me enganar, Aaden. Torna o dia mais engraçado.

Ele também não se aguentou e soltou uma gargalhada, abraçando a amiga logo em seguida enquanto caminhavam para dentro do escritório.

Segui Eliya, onde nos sentamos nos banquinhos do balcão da cozinha.

Zylia preparou um pouco mais daquele suco estranho. O assunto variou na cozinha, mas eu apenas ouvi.

Quando o cheiro da comida começou a subir, senti meu estômago roncar.

Aaden resmungou alguma coisa do assunto que ele, Zylia e Eliya tratavam.

Me aproximei de Renoward, observando como ele fazia a mágica dele.

Ele me olhou de soslaio, permanecendo em um breve silêncio. Enxaguou a mão depois de cortar os tomates e virou-se para mim.

— Que foi?

— Ah... nada.

Renoward olhou para Zylia antes de voltar seu olhar. Respirou fundo, contestado argumentos de sua própria cabeça.

— Você quer observar? — perguntou.

Assenti.

Ele balançou a cabeça, voltado sua atenção ao que fazia. Depois de lavar o brócolis, os cozinhou sobre vapor, enquanto a batata fervia na água quente. Também alcançou as passas e terminou o patê de atum com bastante azeite.

Meus lábios estavam ressecados quando mordi a bochecha.

— Eu tenho uma pergunta.

Renoward me olhou rápido, com uma das sobrancelhas erguidas.

— Como vamos fazer isso?

— Eu pretendo te explicar com mais calma.

— É que... não sei como vou trazer sua irmã para cá.

— Minha irmã é esperta, Gaëlle. Vai ajudar assim que te ver. Com sorte, não estará desmaiada.

— Certo.

— Experimente.

Ele me estendeu uma colher com o patê de atum. Os outros legumes ainda cozinhavam.

Estava muito mais gostoso do que eu pensava, mas algo me incomodou. Devo ter feito uma leve careta porque Renoward levantou as sobrancelhas.

— O que foi? Está ruim?

Neguei.

— Está muito bom. Mas tem alguma coisa que deixou o gosto estranho.

— Devem ser as passas.

Fiz um biquinho, comprimindo o nariz.

— É — falei. — Não gosto de passas.

— Por que não disse isso antes?

Dei de ombros.

— Acabei de descobrir.

Acho que o ouvi rir.

Renoward enxaguou as mãos, enxugando-as em um pano antes de caminhar até a mesa de madeira, separando alguns papéis. Ele me estendeu a pequena pilha.

— Dê uma olhada nesses documentos. Tem uma planta baixa e algumas informações. Começa com isso e depois você tira as dúvidas.

Peguei os papéis da mão dele, observando a caligrafia, tão impecavelmente bem feita.

Eu dei de ombros e concordei. Poderia por mais tempo refletir por mais tempo.

Voltei para o quarto, me sentando no chão na frente do sofá. Abri todos os papéis em cima da mesa, passando os olhos rapidamente por casa um deles antes de começar a analisar, cautelosa.

Esfreguei o braço, sentindo-o doer um pouco.

Não me dei conta de que não jantei naquela noite.

Arthora | A Queda de Um ImpérioWhere stories live. Discover now