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Tudo aconteceu tão rápido que mal pude acompanhar. Ao mesmo tempo que Zylia avançou para cima de meu irmão sacando a espada, alguém me arrancou de seus braços e me puxou para trás, para longe de Hale. Meu grito saiu abafado pela mão que tampava minha boca.

A sensação daqueles braços ao redor do meu corpo era repugnante, mas lutar contra era inútil. O desespero tomou conta do meu corpo e comecei a suar e minhas mãos começaram a tremer.

Não queria ver meu irmão morrer na minha frente, então levei a mão para trás, tateando a perna de quem me segurava e arranquei uma faca. Tentei enfiá-la em sua perna, porém a pessoa foi mais rápida e me soltou apenas o bastante para segurar minha mão, impedindo o movimento.

A mão envolvida em luvas de couro conseguiu arrancar a arma da minha mão e puxou meus braços para trás.

O que se seguiu foi um tremendo silêncio, por parte do povo dela, surpresos por sua reação, e parte de nós, que não sabíamos qual a atitude mais sensata a tomar. No meu caso, nem me mover eu conseguia direito. Eu tentava me debater, mas quem me segurava era forte demais e meus músculos desnutridos não colaboravam.

Evitei que as lágrimas de desespero escorressem pelo meu rosto. Preste atenção no seu irmão. Seu irmão é o foco, não o deixe morrer, comandei a mim mesma. Parei de tentar me soltar.

Hale estava ajoelhado e ponta reluzente de uma espada tocava-lhe o pescoço. Uma gota de sangue já escorria e manchava a camiseta amarela, já desgastada com o tempo, tão fina. Ele permaneceu imóvel, tão imóvel que parecia feito de pedra. As mãos estavam rentes ao corpo, e os punhos estavam fechados, impedindo que tremessem. Eu não conseguia ver seu rosto direito. Falar parecia arriscado para esse povo.

No rosto de Zylia estava estampada uma expressão de calma. Uma calma fatal, que mataria qualquer um com o olhar. Pude ver o lampejo de ódio em seus olhos, mesmo que seu rosto não demostrasse isso.

— Me chamou — disse ela, devagar — de querida, peregrino?

Hale permaneceu em silêncio. Eu já não sabia se ficar em silêncio era uma boa opção, mas certamente falar não era uma.

— Chamou — disse um velho após não ouvir a resposta de meu irmão. — Eu ouvi.

Zylia abriu um sorriso amargo.

— Vocês me pegaram em um péssimo dia, sabe? Geralmente, apesar de odiar apelidos, eu relevo. Mas hoje... — disse. — Talvez arrancar a cabeça não seja opção. A prisão perpétua, no entanto...

Eu queria chorar.

Acho que meu irmão fechou os olhos antes de dizer:

— Eu adorava te chamar assim porque você odiava. Lembra disso, Zylia?

Ela avançou, rápida e destemida, sua mão magra envolveu o pescoço do meu irmão e a espada não saiu do lugar, ainda pressionada na garganta de Hale. Um movimento e ela cortaria sua cabeça.

Ela poderia matar-nos com o olhar. A tenente cerrou os olhos.

— Como sabe meu nome?

Hale demorou para responder. E Zylia aparentava não gostar de demoras.

Ela sorriu de novo.

— Vou perguntar apenas mais uma vez... — disse devagar. — Como sabe meu nome?

Vi suas unhas apertarem a parte de trás do pescoço de Hale. As costas do meu irmão ficaram mais rígidas.

— Nos conhecemos há anos — ele quase sussurrava, paralisado pelo medo; talvez pela dor. Meus ouvidos estavam completamente atentos a cada uma de suas palavras. — Você fazia turnos noturnos e ainda era uma aprendiz. Tínhamos treze. Você me encontrou na floresta quando eu estava desesperado por ajuda e ainda não entendia como tinha chego em Álix vivo, nem como poderia cuidar da minha irmã e me esconder. Estava perdido.

Arthora | A Queda de Um ImpérioWhere stories live. Discover now