FILHOTES DE VALIANT - PRIDE

CAPÍTULO 7

O avião pousou, Livie olhou para Valiant, ele pegou Violet no colo como se ela fosse uma menininha e desceu sem olhar para ela. Isso machucou Livie que gostava dele mesmo tendo convivido pouco com Valiant, afinal através dos olhos de Lily, Livie aprendeu a admirá-lo. Ele era um ótimo avô, Lily e Sheer o amavam muito.
Ela desceu, um helicóptero já os esperava no hangar particular do marido de Kit, Robert Crane.
Kit estava perto de um carro, torcendo as mãos muito ansiosa. Quando Valiant colocou Violet no chão, Kit a abraçou forte, dizendo a ela que estava orgulhosa da coragem dela.
Livie ficou ereta, com o queixo erguido. Não iria se justificar para ninguém, pelo menos não antes de falar com Pride.
Kit se aproximou e a olhou com olhos avaliativos.
"Eu nunca pensei que aquela fêmea doce fosse capaz de fazer algo desse tipo. Eu não te julgo, não tenho nada com essa história, então se quiser ficar na minha casa enquanto a notícia corre, fique a vontade. Talvez ir para a Reserva agora seja muito difícil." Ela não sorriu, mas Livie viu que ela se preocupava com o bem estar de Livie por causa de Vengeance.
"Eu já disse a ela, meu amor. Eu sabia que você ia tentar ajudar, e também acho que ficar um pouco distante pode dar uma perspectiva melhor da situação." Robert Crane, um homem gigante, louro e muito bonito abraçou Kit e a beijou nos lábios.
Kit e ele encararam Livie.
"Onde está o meu pai?" Livie não queria demonstrar fraqueza, mas não conseguia se imaginar passando por tudo aquilo sem seu pai e sua tia.
"Estão vindo. Eles concordaram com a minha idéia de você ficar na minha casa." Kit disse e isso encerrou a questão.
Valiant e Violet se dirigiram ao helicóptero, Livie, Robert e Kit foram para o carro que estava estacionado ali. Violet, porém se voltou e antes que Livie entrasse no carro disse:
"Vou dizer tudo o que sei a Pride. Ele vai acabar perdoando você. Mas eu ainda não sei como me sentir sobre isso. Não quero ser má, Livie, mas não quero ver você por enquanto. Me desculpe se te machuquei." Ela tocou no rosto de Livie, se virou e de um salto entrou no helicóptero. Livie ficou observando o helicóptero levantar vôo, pensando que talvez devesse ir e enfrentar Pride de uma vez. Ela suspirou, ainda estava muito surpresa por ter sido praticamente arrancada da casa da sua avó, ela preferia que contassem a Pride e ele a procurasse.
No carro, Robert disse:
"Eu ainda estou abobado com tudo o que Violet fez. Ela enfrentou um homem maior que eu. A encontramos dentro de uma cisterna abandonada, ela e Livie estavam congelando, ainda assim ela subiu escalando as pedras! Foi incrível!" Livie pensou na brutalidade da luta de Violet com Bill.
Ele não era um inimigo, não queria machucar Violet. Ainda assim, foi terrível ver Violet arrancar um pedaço de pele da garganta dele.
"Vocês entraram em contato com o meu pai, o Evan?" Evan Graham não era pai dela, mas ela não sabia como chamá-lo.
"Ele está envolvido num grande negócio de drogas de aprimoramento físico e segundo o William viajou para o oriente médio. Ele disse que não conseguiu contato com ele, mas é claro que ele fugiu. Justice vai se reunir com Vengeance e eles vão decidir o que fazer. Sua história é confusa, eu mesmo não entendi direito." Robert disse se debruçando sobre o encosto do banco da frente do carro. Kit que ia atrás com Livie a abraçou.
"Não se preocupe com ele. Se preocupe em organizar as idéias, em se preparar para encontrar seus filhotes e Pride." Ela se recostou.
"Será uma merda. Eu não sei o que dizer, não sei como me justificar."
"Você sabe que será perdoada, não sabe? Mas nessa sua história, o perdão não é suficiente, infelizmente."
"Eu estou com medo. Eu não estava pronta! Se Violet tivesse me escutado!"
"Quanto a isso, me desculpe, mas eu faria o mesmo que Violet. Talvez bateria na sua cabeça com mais força." Kit disse, Robert riu.
"Essa é a minha gata brava!" Livie não conseguiu evitar um sorriso.
Ela fechou os olhos e se concentrou em Pride. Ela o sentia calmo, ainda que um pouco ansioso. Será que já sabia de tudo? Ela se concentrou mais e conseguiu acessar um pouco a mente dele, estava cada vez mais difícil. Um conjunto de gargantilha, pulseira, brincos e anel de prata e safiras estampava a mente dele. Ora o conjunto foi feito com prata, ora com ouro, um ouro escuro. Ele gostava mais do segundo conjunto. Livie não gostava de se deparar com o processo criativo dele, isso o afastava dela. Um broche com uma pedra muito bonita verde e azul também ficava aparecendo e sumindo na mente dele. Ela suspirou, sua mente estava exausta. Kit lhe acariciou os cabelos, ela era direta e a repreendeu, mas estava ali e Livie sentia que era por carinho a Vengeance. Eles tinham uma ligação muito especial, isso estava muito claro para Livie.
Ela abriu os olhos, Kit sussurrou que não demorariam a chegar, ela os fechou de volta. Lily. Ela estava cada vez mais distante, a conexão entre elas estava lá, mas Lily estava se fechando, estava se afastando, assim como Sheer se afastou. Durante o vôo, Livie tinha tido um vislumbre de Lily nos braços de Pride. Ela o chamou, ele pareceu ouvir, mas não respondeu e Livie perdeu a conexão.
Livie tentou de novo.
Seria a última vez antes de ver sua filhinha ao vivo, antes de tocar nela, beijar o rostinho dela. Seria uma despedida. Ou não. Quem sabe o que aconteceria depois? Romulus e Vengeance se comunicavam a distância, talvez esse fosse o caso.
Livie se concentrou. Em sua mente, ela conseguiu acessar os olhos de Lily e ela estava deitada em frente ao rosto de Honor. Ele tocava no rosto de Lily, Lily estava quase dormindo.
"Uma fagulha, Lily, é um pequeno fogo que ainda que seja pequeno pode incendiar uma mata inteira, pode destruir casas, e até matar pessoas. Uma fagulha pode começar das formas mais improváveis e no fim pode trazer as piores tragédias. Eu não tenho medo das coisas que começam grandes. Um grande incêndio, pode ser imbatível no início, mas pode ser contido e extinguido. Mas uma fagulha passa despercebida, queima devagar e de forma imperceptível. E quando nos damos conta estamos no meio de um incêndio que talvez não consigamos apagar. E tudo começa com uma fagulha." Livie o olhou através dos olhos de Lily. Olhos dourados mais claros que os olhos dos outros, ninguém parecia reparar nisso, mas enquanto os outros tinham os olhos quentes, os olhos de Honor eram mais claros, até meio frios. Eram olhos analíticos, ele conseguia olhar tudo de fora, ele não se envolvia nas coisas dos outros, não omitia sua opinião, Honor era o ápice do respeito e da tolerância. Livie sabia que ele a perdoaria e isso lhe aqueceu o coração.
"Alguns amores são incêndios que duram anos e anos queimando tudo o que vêem, tudo o que tocam e as vezes, infelizmente, queimam os amantes, queimam tudo neles, queimam tanto que os transformam em cinzas, até que não haja mais nada para queimar. Nesse dia esse amor se extingue. Outros são pequenas fagulhas que contra tudo o que se acredita queimam eternamente, simplesmente por que ninguém se dá conta deles. Eles se sustentam simplesmente de oxigênio, existem atrás das aparências, mas permanecem firmes, inabaláveis." Ele sorriu. Lily estava quase dormindo. Livie disse pelos lábios de sua filha:
"Mas nem sempre o amor é fogo. Muitas vezes ele é água. Tormentas, corredeiras, tempestades, tsunames...
Invadem tudo, arrasam tudo, destroem tudo, imparáveis, indomáveis. Muitas vezes a água destrói aquilo que ela mesma criou..."
Livie o olhou, ele suspirou.
"Vou sentir falta disso." Ele beijou a testa de Lily, mas foi como se beijasse Livie. Lily dormiu, a conexão se rompeu. Ela abriu os olhos, Robert a carregava. Estava exausta, então fechou os olhos.
Mas ela não dormiria, as palavras de Honor sempre a abalavam. Robert a depositou numa cama, ela sorriu e se encolheu em posição fetal, pensando que deveria ter tido tempo de dizer a Honor que o amor às vezes era ar. Envolvia, se movimentava em volta, cuidando e protegendo o ser amado, sem que este nunca o veja, só o sinta.