CAPÍTULO 28

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O sol estava alto quando Livie entrou na casa de Pride. Era a casa dela agora. Ficava numa colina, era toda iluminada por luz solar, tinha decoração aconchegante, com cores claras, muita madeira e tecidos rústicos. Livie adorou.
"Que casa mais linda!" Ela sorriu. Pride também sorriu, sem graça.
"Tio Honor só projeta, ele não decora, mas a nossa casa, ele fez questão de participar da decoração também." Sheer disse, os olhos nos dela, Livie não conseguiu aguentar o olhar dele e baixou os olhos. Ele teria falado em Honor de propósito? Não, ele era só um garotinho, o trabalho de Honor na casa foi algo digno de admiração.
"Você já tomou café?" Pride perguntou. Livie assentiu, tia Marianne estava empenhada em engordá-la, e ela estava parada na sala, com uma mala cheia de roupas nas mãos, talvez fosse melhor guardar tudo.
"Eu posso guardar minhas roupas?" Ela perguntou, ele acenou.
"É claro, venha por aqui." Ele a conduziu a um quarto genérico, havia uma cama, um tapete no chão, um criado mudo e as duas portas de costume, uma devia ser do banheiro, a outra do closet.
"Esse quarto está assim por que mais tarde será ou de Lily, ou de Sheer. Mas você pode deixá-lo com a sua cara, Sheer pode te levar a fábrica, você pode escolher o que quiser lá." Ele disse e saiu.
Ele não mostrou a casa a ela, ele apenas lhe mostrou o quarto. Será que Pride era seco assim? Não era o Pride romântico dos sonhos dela.
Livie abriu as portas do closet e começou a guardar suas roupas. A idéia de que Pride fosse pouco romântico na mente dela.
"E o que é romântico? Dar flores de presente? Se você pensar que as flores vão morrer, murchar e ter de ser jogadas fora, você continua achando romântico?"
"É romântico por isso. Você estará dando uma coisa que não vai persistir muito, de pequena duração, mas a intensão do presente, do gesto é a que fica. Flores são belas e efêmeras."
"Bom, talvez dar um vaso, orquídeas? Raras e caras? Você vai ter de cuidar delas, porém. Aí seria um presente ou um trabalho?"
"Um trabalho prazeroso."
"Mas um trabalho."
"Romantismo não está ligado só a flores. Tem a música, a arte,a literatura..."
"Mas se trata de se ter um objeto ao qual se direciona tudo isso. Dá pra ser romântico sem o objeto?"
"Sem a mulher?"
"Por que tem de ser uma mulher?"
Livie riu e deu de cara com Pride.
"Alguma piada interna?" Ele perguntou, ela piscou. Aquele sentimento estranho que a tomava as vezes se iniciou. Livie sorriu e saiu do quarto.
"O que tem pra comer?" Comida ajudava, comida quente. Sua espinha esfriava, sua mente ficava nublada suas mãos suavam.
Sheer estava na cozinha.
"Carne, mas pouca. Alguém esqueceu de pedir, ou buscar na casa do vovô." Ele disse enquanto ligava o fogão e Pride bufava, ele devia ser quem esqueceu de trazer mais carne, Sheer aqueceu uma frigideira e jogou um bife. Era uma bisteca?
"Bisteca?" Onde Livie tinha ouvido essa palavra?
"Sim." Ele disse triste. Ele inspirou fundo, fechou as mãos. E disse a Pride:
"Papai pode terminar de preparar? Eu preciso..." Ele não terminou e ia saindo, Pride o puxou.
"Calma, amigão! Pode ligar pra ela." Sheer ficou olhando para seu pai, balançou a cabeça.
"Não. Ela disse que era melhor não. Eu vou para a fábrica, eu estou bem." Ele sorriu para Livie e saiu.
Pride foi a cozinha e virou a bisteca. O cheiro da carne estava bom.
Livie não pôde evitar e viu pela perspectiva de Pride, a tal Minerva, Sheer e ele numa cama, Sheer no meio dos dois:
"Eu gosto da história dos três porquinhos. Eu gostava, quer dizer." Ela disse. Pride estava mergulhado nos olhos dela. Um verde e outro azul.
"Papai, na primeira vez que contou pra gente, esqueceu os nomes dos porcos e usou os nossos nomes no lugar." Pride disse.
"Você era pequeno, papai?"
"Sim. Há muito pouca diferença entre nós. Eu e..." Ele parou de falar.
"Papai?" Sheer o olhou. Os olhos de Sheer eram tão lindos!
"É que Honor e eu ficamos cinco meses com a mesma idade. Então, quando papai contou essa história, éramos os cinco muito novinhos."
"Quem era o Prático?" Minerva perguntou.
"Honor. Ele já gostava de construir coisas. Adorava lego."
"E o tio Noble era quem? Por que os dois porquinhos tocavam na história."
Sheer disse.
"Heitor. Afinal, qualquer idiota pode tocar uma flauta, mas um violino não é tão fácil." Pride explicou.
"Então, o idiota que tocava flauta era você?" Minerva perguntou, Sheer se dobrou de rir.
"É." Ele também riu.
"Amanhã, vamos comer bistecas?" Sheer perguntou.
"Não sei. Me parece meio mórbido falarmos da história dos porquinhos e comermos bisteca no café da manhã."
Minerva disse.
"Você adora ovos com bacon!" Pride a acusou.
"Meu Deus! Eu nunca mais vou comer bacon." Ela disse.
"É sério?" Ela ficou bem séria, depois sorriu.
"Não. Eu comeria ovos com bacon agora." Ela disse ainda sorrindo.
Livie olhou para o prato que Pride colocou a frente dela. Ela tinha de parar com isso. Não era bom, não era saudável.
"Ele vai ficar bem? Ele e Minerva parecem bem ligados." Ela disse. E isso a deixava triste, muito triste.
"Não pense nisso dessa forma, como se Minerva não estivesse aqui por sua causa. Ela escolheu ir embora. E eu quero que dê certo pra nós dois. Então, como ela mesmo disse, não vamos falar nela."
Livie acenou. Pride disse isso com os olhos duros e isso sempre despertava um pouco de receio em Livie, afinal ela sempre teve medo dele. Havia uma aura perigosa em Pride, algo que a atraiu, algo que dava uma apimentada nos sonhos deles, mas na vida prática, Livie preferia suavidade à aspereza.
"Mamãe, você faz suco pra mim?" Lily perguntou e Livie percebeu que não tinha se dado conta de Lily ali. Ela sorriu e olhou em volta na cozinha.
"As frutas ficam na geladeira, menos as bananas." Ele pegou uma banana de um cacho que estava em uma bonita fruteira de bambu trançado. Lily passou os dedos pelo desenho intricado.
"É bonita." Pride franziu a boca.
"É. Foi honor quem comprou. É de uma humana que vende próxima a rodovia principal." Ele disse.
"E essa humana..." Livie não sabia se perguntava ou não.
"Eu não a conheço, tem de perguntar a ele." Pride lhe deu as costas.
"Estarei na oficina." Ele disse já sumindo pelo corredor dos quartos.
Lily esperava pelo suco, Livie não sabia como fazer.
"A mamãe está meio perdida, você pode me ajudar?" Ela sorriu.
"É claro." E na mente de Lily, Livie viu Minerva fazendo um suco, usando uma banana, uma maçã descascada leite e gelo. Minerva colocou tudo no liquidificador e um desenho começou. Lily não viu mais então, Livie não via mais.
"Isso ajuda?" Lily perguntou, seu rostinho ansioso. Livie sorriu.
"É claro, meu amor!" Livie repetiu o processo, mas quando ligou o liquidificador ela tinha esquecido da tampa, o líquido voou por toda a cozinha, Livie e Lily gritaram. Pride veio correndo, Livie se sentiu uma inútil, pois foi ele que desligou o liquidificador.
"Me desculpa! Eu esqueci da tampa! Eu sou uma idiota!" Ela disse, se sentindo tão boba, que baixou a cabeça. Ela não era capaz de fazer um suco para a filha.
Pride não disse nada e começou a limpar a cozinha. Lily voltou ao sofá, ela não disse nada sobre o suco.
Bateram na porta no exato momento em que Livie ia dizer para Pride que limparia tudo e que ele podia voltar para a sua oficina. Lily abriu a porta e um Nova Espécie desconhecido, quase tão alto e forte quanto Pride, vestido com apenas uma bermuda, pediu licença e entrou na sala.
Ele tinha volumosos cabelos castanhos, brilhantes, da cor do mel e olhos dourados como os trigêmeos, não como Honor é claro, os olhos dele eram bem claros. Ele poderia ser confundido com um irmão de Pride se não fossem os cabelos. E seu tom de pele era mais bronzeado, como se ficasse muito tempo no sol.
"Bom dia." A voz dele era mais rouca que a vozes dos outros Novas Espécies. Pelo menos os que Livie conhecia.
"Stylet? Já está quase na hora do almoço, eu nem te esperava mais." Pride disse. Livie ficou calada olhando para ele.
"Eu demorei por que trouxe muita coisa, até descarregar tudo demorou um pouco. Sua mãe disse que vão almoçar na casa dela. Eu só vim dizer que eu cheguei." Livie achou aquilo meio estranho. Pride acenou.
"Ótimo! Obrigado por vir avisar. Nós já estávamos indo, eu comecei um conjunto hoje. Vai ser bom pra você aprender como eu faço desde o começo." Pride disse, o Nova Espécie acenou, mas continuou parado.
"Oi! Eu sou Lily." Lily se apresentou. O Nova Espécie trocou o peso do corpo de um pé para outro.
"Eu sou Stylet." Ele disse. Livie ficou sem saber se se apresentava, mas Stylet continuou parado perto da porta, então ela se aproximou com a mão estendida.
"Eu sou Livie. Olívia." Ela disse. Ele parecia um pouco formal.
"Prazer em conhecê-la, Olívia." Ele disse olhando para a mão de Livie. Ele pegou na mão dela com sua grande mão de forma desajeitada e soltou. Tudo sem olhar nos olhos de Livie.
Pride também ficou um pouco desconfortável, então disse.
"Que tal irmos para a casa dos meus pais de uma vez?" Ele sugeriu, Stylet, porém, disse:
"Posso limpar a cozinha? Eu não demoro." Ele atravessou a sala, e começou a ensaboar os azulejos que estavam sujos de fruta.
Pride também foi e começou a limpar outra parte, Livie ficou sem lugar.
"Me ajuda a achar o meu patinho?" Lily perguntou. Livie sorriu.
"É claro."
"Deve estar no quarto da minha outra mamãe, você me ajuda? Eu fiquei triste quando entrei lá ontem." Livie inspirou fundo e sorriu.
Lily foi na frente, ela passou pelo corredor e abriu uma porta, Livie entrou e se maravilhou com o quarto.
Tons claros, o rosa-chá era predominante, havia até um vasinho com as ditas rosas-chá num canto.
"Deve estar por aqui." Lily disse, mas Livie não ouviu. Não havia como não se lembrar daquele dia.
"Rosa-chá? O que é isso? Uma cor?"
"É uma cor de rosa."
"Rosa, a cor?" Ela riu.
"Não, a rosa."
"Você disse cor de rosa. Isso pra mim é rosa, a cor." Livie riu ainda mais.
"É a cor de uma rosa."
"Como vermelha, ou branca?"
"Parabéns, você só levou duas horas para entender." Ele riu.
"É por que você é péssima explicando."
Ela riu.
"Mamãe, você não está procurando!" Livie sentia seu coração em chamas, o quarto tinha tudo que ela achava bonito. A cabeceira da cama era de palhinha! As almofadas, a colcha, tudo!
"Lily, eu não posso..." Ela saiu do quarto correndo. Ela passou o corredor, saiu na sala, passou pela porta e saiu na varanda, tudo correndo, sem pensar, sem direção. Livie só corria.
Braços fortes a enlaçaram, Livie chorou, não eram os braços dele, não era ele, e ela não quis mais estar ali, ela queria se esconder naquele lugar onde ela ficava suspensa, onde o tempo não passava, onde ela não sentia dor alguma, ela não sentia nada.
Ele a segurou, ela esperneou, mas de forma fraca, ela queria que ele a abraçasse mais apertado. Funcionou.
"Livie! O que foi?" Pride a apertou nos braços, um pouco forte demais.
"Está me esmagando." Ele a soltou.
"Tudo bem?" Ela olhou em volta, ela quase caiu ribanceira abaixo. Que idiotice!
Um Nova Espécie moreno de olhos dourados a olhou, ela piscou tentando saber o nome dele, mas não conseguiu.
"Olívia? Tudo bem?" Ela não sabia o nome dele, teria de enrolar.
"Sim. Isso é por que tenho de adequar a minha dosagem, eu estou tendo algumas alucinações. Me desculpe."
Eles voltaram, entraram na casa e ela se sentou no sofá.
"Quer água, mamãe?" Lily se aproximou. Ela olhou para as mãos. Ela tinha de dar um jeito em Lily.
"Obrigada, querida." O Nova Espécie, Stylet, ela se lembrou do nome dele, trouxe água para ela.
"Você é doida?" Ele perguntou, os olhos nos olhos dela.
"Ela não é doida, Stylet. Nunca mais diga isso! Se disser, não lhe ensinarei meu trabalho." Pride rosnou.
"Me desculpa, eu sinto muito." Ele a olhou e ela viu um pouco de medo nos olhos dele. Ela gostou. Ele devia ser filho de alguns dos leoninos. Ela procurou em sua memória, mas não havia registro certo de quantos deles sobraram. Mas então, no caso, haviam pelo menos três: Valiant, Leo e o pai de Stylet. Mas ela estava divagando.
"Livie?" Pride disse.
"Viu? Me desculpa, mas os doidos olham pro nada assim. Mas ela não baba, então..." Pride rosnou e seus olhos chisparam vermelhos por um segundo e voltaram ao azul. Ela então pensou que talvez ter aquele idiota ali seria útil de alguma forma.
"Vamos para a cada da vovó, papai? Por favor?" Lily disse e estendeu os braços. Pride ia pegá-la, mas o idiota se antecipou.
"Quer ir no meu ombro?" Ele perguntou já colocando a criança nos ombros, Lily riu. Outra utilidade para ele, ela percebeu.
"Vamos?" Ela assentiu e se levantou.
Pride abriu a porta, o idiota desceu a colina correndo com Lily rindo, Pride sorriu também.
"Não ligue muito para o que ele diz. Tio Lash os criou isolados, no meio de cabras e cachorros." Ele a ajudou a descer a rampa, as mãos dele estavam quentes.
"Tio Lash? Ele é seu primo?" Ele balançou a cabeça dizendo que não.
"Nós chamamos a maioria dos adultos de tio. Se esqueceu disso? E o pai de Stylet é mesmo parecido com o meu pai, então, ele sim seria o mais próximo de um tio pra nós." Ela acenou. Valiant tinha cinco irmãos, com certeza, Lash era irmão dele, mas ela não podia dizer isso. Todavia, ela ficou curiosa para saber porque eles não sabiam disso.
Eles andavam, a um tempo já e nada da casa deles aparecer, era longe. Ela se cansou.
"Venha aqui." Pride a pegou nos braços, a cheirou e ela sorriu. O cheiro dele também era muito bom.
Com ela no colo, logo a casa imponente de Valiant apareceu, ele a colocou no chão, ela sorriu ao ver que ele estava excitado. Nunca falhava. Era só se aproximar.
Eles entraram.
Tammy veio e a beijou no rosto, ela quase se afastou, mas ficou firme. O cheiro de comida estava em toda a parte, ela viu que era um dos trigêmeos que servia a mesa. Qual deles? Ele tinha os cabelos presos num lenço, estava vestindo uma bermuda preta e uma camiseta de algodão branca. Que porra! Quem era ele? Ela achou melhor não arriscar.
Como não seria fácil trazer Livie, ela escolheu a saída mais clichê, desmaiou.

FILHOTES DE VALIANT - PRIDEWhere stories live. Discover now