CAPÍTULO 15

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Pride coçou a cabeça, e sentiu um galo alto entre seus cabelos. Que porra tinha acontecido? Ele olhou pela janela, o sol estava alto, Pride praguejou e se sentou na cama.
"Se sentindo um cuzão? Por que você é um, sabe disso, não é?" Simple disse.
Todos os acontecimentos da noite anterior vieram na cabeça dele e ele gemeu.
"Onde está Minerva?" Ele se levantou, foi ao banheiro, urinou e ligou o chuveiro. Simple se sentou sobre a tampa do vaso.
"Quando pediu que eu acalmasse você não imaginei que seria para você chutar o pau da barraca. Você entende o quanto seria errado compartilhar sexo com ela?"
"Eu me casei com ela para sepultar Livie de vez. Quando fiz a proposta, eu coloquei o sexo no meio. Eu disse a ela que só bastaria que ela quisesse. Eu falei até em filhotes."
"Mas Livie está viva." Pride suspirou.
Ele surtou e a dor foi insuportável.
"É. Livie está viva." Ele disse. Quantas vezes ele disse isso para si mesmo? Quantas vezes ele fantasiou que ela não tinha morrido? Agora, descobria que no fundo ele sempre soube disso, Agora que ele rugiu, gritou e chorou, Pride estava vazio.
Ele lavou o cabelo, se lavou e saiu do banheiro. Simple saiu atrás.
"Devia ter pedido pra você esfregar as minhas costas, já que parece que está me vigiando." Ele estava vigiando Pride, e Pride agradecia a companhia.
"E Minerva?" Simple não disse nada, Pride vestiu uma bermuda e saiu do quarto.
Na sala, Candid, Honest e Sheer comiam. Sheer estava contando animado que ele e Enrico iriam entrar num concurso de games. Ele não devia saber sobre a mãe ainda. Isso era o mais difícil.
"Papai! Nos inscrevemos, olha!" Ele mostrou um papel impresso.
"Parabéns!" Pride não sabia o que dizer.
"É só uma inscrição." Seu filhote sorriu e revirou os olhos.
Candid colocou um bife gigante num prato e indicou a ele. Pride se sentou na bancada e começou a comer. Não sentia o cheiro de Minerva ali, ela tinha ido embora.
"Você vai pra casa da tia Kit? Brass já disse que é só chamar." Honest disse.
"Não. Eu vou atrás de Minerva."
"Por quê? Ela só foi trabalhar." Sheer disse.
"Se for na casa de Ann Sophie eu não quero ir." Ele completou.
"Por que não?" Candid perguntou. Ele era o único que continuava com a mesma carinha travessa de sempre. Simple e Honest estavam muito sérios.
"Ann Sophie é uma chata." Sheer disse e franziu o nariz. Candid riu.
"Engraçado. Faz tempo que não a vemos." Candid disse.
"Eles não vieram para o ano novo." Pride entendia que seu irmãozinho estivesse tentando deixar o papo mais leve. Era bom, ainda que ele tinha de contar para Sheer.
"Sheer." Pride chamou quando terminou de comer, se levantou e guiou seu filhote para a sala. Sheer se sentou, Pride se ajoelhou a frente dele.
"Sua mãe está viva. Livie não morreu como pensávamos. Eu sinto muito por te dizer assim, mas não saberia fazer de outra forma, eu sinto muito, filhote."
Sheer olhou para seus tios, olhou para Pride, para o chão.
"E agora?" Ele perguntou. Os olhos dele exatamente tão azuis quanto os de Pride começaram a ficar mais escuros. Ele piscou, uma lágrima vermelha desceu por seu rosto, mas os olhos continuaram azuis, isso era bom. Sheer tinha controle sobre a sede, Pride era muito orgulhoso dele por isso.
"Por que ela se foi? Ela não quis a gente?" Ele perguntou, Pride o abraçou.
"Ela era nova demais. Eu acho que ela sentiu muito medo. Ela sempre esteve com você, lembra que você me disse isso?" Outra lágrima vermelha desceu pelo rosto de Sheer, seus olhos começaram a mudar.
"Sheer? Filhote, olha pra mim." Mas Sheer não conseguiu olhar. Seus olhos ficaram vermelhos e ele correu. Como um raio. Pride rugiu, era muito ver seu filhote assim. Ele também começou a ficar nervoso, ele se esticou e lançou o sofá para longe. Candid e Honest saíram atrás de Sheer, Simple segurou os braços de Pride com força.
"Pride!" Simple disse, mas ele só conseguia sentir raiva, muita raiva. Não foi difícil atirar Simple para longe. Pride começou a quebrar tudo, socou a parede. Simple continuou tentando conversar com ele, até que Pride perdeu a noção de tudo e apagou.
Pride acordou em seu quarto, Simple estava lá. Pride sentiu uma dor muito forte do lado de sua cabeça, parecia até que estava sangrando. Ele olhou os dedos, estava.
Honest se aproximou, virou a cabeça dele e limpou com a fronha mesmo.
Ele segurou por um tempo, Pride fechou os olhos.
"Estancou." Honest disse e se sentou ao lado de Pride na cama.
"E Sheer?" Pride tentou se levantar, mas uma tontura o fez cair de volta aos travesseiros.
"Com papai. Ele correu pra nossa casa. Ele e papai saíram, devem estar no lago." Pride se levantou com esforço e foi olhar pela janela. Ao longe, na ilhazinha, no meio do lago seu pai estava com Sheer no colo.
"O que fez comigo?" Ele perguntou a Simple.
"Bati com toda a minha força em sua cabeça dura. É a segunda vez já." Simple deu de ombros.
"Não pode te deixar mais doido do que você já está."
"E Minerva?" Ele conseguiu se sentar.
"Eu a chamei. Disse que Sheer não tinha reagido bem, ela não deve demorar a chegar." Pride olhou agradecido para seu irmãozinho. Simple se ajoelhou entre as pernas dele e o abraçou. Pride retribuiu o abraço.
"Eu sinto muito." Ele disse. Simple se levantou, Honest também se levantou da cama. Eles ficaram ombro a ombro o mais distante que podiam e Honest fez sua cara solene para dizer alguma coisa.
"Vocês a ajudaram." Pride afirmou.
Eles acenaram.
"Não pensamos que demoraria tanto." Honest disse.
"Tio V., tia Marianne, todos eles sabiam." Outra afirmação, eles também concordaram.
O cheiro de Minerva chegou fraco ao seu nariz, Pride se levantou zonzo, Honest o ajudou.
"Pensei que eu tinha cabeça mais dura de nós." Ele disse segurando sua cabeça de lado.
"Nem chega perto. A cabeça mais dura é a de Daisy." Candid disse, Pride se lembrou de Daisy dando uma cabeçada em Honest. Pride riu.
"Você era Honest aquela vez?" Ele perguntou, Candid franziu o nariz.
"É claro que era, eu nunca apanharia para Daisy." Honest disse.
"E por falar nisso eu era..."
"Não. A decisão não foi sua. Se eu for me irar com cada um que participou disso, eu teria que sair batendo em muita gente. E tem Grace, tia Marianne. Não dá pra ter ódio delas." Ele disse.
"Você tem ódio de Livie?" Ele tinha?
"Não sei. Não quero vê-la." Pride não queria ver Livie por milhares de motivos, alguns ruins outros nem tanto.
"Mas vai ter de vê-la." Honest disse.
Pride o olhou. Seu irmãozinho mais responsável, o líder. Ele enfrentava tudo de frente e fazia o que devia ser feito. Ele era tão novinho, e já ensinava tanto a Pride!
Pride acenou e sua cabeça rodou.
"Que porra você fez comigo, Sim? Eu mal consigo ficar de pé." Simple riu.
"Tem a ver com bater no lugar certo. Em James é bem no centro da cabeça, em você é na lateral. Mas tem de usar toda a força."
"Qualquer lateral?" Pride perguntou, Simple riu e assentiu.
"Vai me dizer onde devo bater na sua?" Ele disse olhando pela janela. Minerva e Sheer estavam no deck, ele tinha de ir.
"Não." Simple disse. Pride saiu pela porta janela de seu quarto e desceu a colina, ele ainda estava muito tonto. No meio da decida já dava para ouvir Minerva conversando com Sheer.
"... Sunny? Aquele loiro? Ele tem os olhos diferentes igualzinho ao pai dele, o Silent. Será que seu filhote não teria os olhos iguais aos seus? Seria fácil de encontrá-lo, mesmo aqui, eu nunca vi olhos como os seus."
"Eu não sei se os olhos dele são bicolores. Eu sei que eram verdes, mas olhos de bebês mudam quando vão crescendo." Ela disse.
"Não, não mudam não. Eu já nasci com os olhos azuis, iguais aos do meu pai, que são iguais aos da minha avó. Eu não chorava sangue quando eu era pequeno."
"Dói?" Ela perguntou, Pride se sentou.
"Sim. Tio Honest disse que a pressão do sangue em volta dos olhos sobe e algumas veias se rompem." Ela arfou.
"Isso é muito perigoso! Você tem de ir para o hospital?" Pride a ouviu se levantar.
"Não. Eu sou Nova Espécie, tenho cura acelerada, meu corpo entende o problema e baixa a pressão do sangue. As veias se reconstroem, mas eu preciso me acalmar." Ele explicou. Pride estava sempre se surpreendendo com Sheer.
"Você me promete que nunca mais vai ficar nervoso? Por favor?" Minerva pediu.
"Eu não posso prometer isso."
"Pode. Você me promete isso e eu te prometo alguma coisa. E vamos tentar ao máximo, com todas as nossas forças cumprir a promessa."
"Certo. Eu prometo nunca mais ficar nervoso, se você não ir embora. Meu avô, Vengeance, adora construir casas, ele faz uma casa para você aqui, se você e o papai não morarem mais juntos. Você pode trabalhar, pode viajar, mas vai morar aqui, pra sempre. E vamos achar o seu filhote. Eu vou ser amigo dele. Quantos anos ele tem?"
"Dez. Isso é muito difícil, Sheer! Seu pai e sua mãe vão ficar juntos. Você e sua irmã merecem isso. Eu poderia atrapalhar."
"Isso é tão difícil quanto eu nunca ficar nervoso. E somos ou não amigos? Não vai ser fácil, ter uma mãe, eu preciso de ajuda." Pride continuou a descer, ele tinha de deixar umas coisas claras para Minerva.
"Eu fico. Mas não quero mais saber do senhor ficando nervoso e chorando sangue." Minerva disse e Sheer a abraçou. Ele os observou, enquanto subia os degraus. Minerva olhava para Sheer exatamente do jeito que ela olhou quando o encontrou no Shopping. Isso foi o que fez Pride querer casar com ela, aquele olhar.
"Está tudo bem?" Pride se ajoelhou a frente dela, Sheer estava abraçado a ela.
"Sim. Eu prometi a Minerva que não vou ficar nervoso mais." Sheer disse.
"Mesmo se nós formos encontrar a sua mãe?" Pride perguntou, Sheer abraçou Minerva mais forte, ela o ajeitou para ficar em seu colo. Ela não era pequenina como sua mãe, mas Sheer estava quase do tamanho dela.
"Coragem. Ela deve estar tão nervosa quanto você." Minerva sussurrou no ouvido de Sheer.
Seu filhote ergueu a cabeça e suspirou.
"Como o tio Candid diz, é melhor tirar esse Band aid." Ele saiu de cima do colo dela e disse:
"Eu vou me arrumar." E subiu a encosta.
"Você iria comigo?" Pride se sentou ao lado dela, retirou uma mecha de cabelo da testa dela e prendeu detrás de sua orelha delicada.
Minerva o encarou e disse:
"Não." Era um 'nao' definitivo, então, Pride lhe pegou uma mão.
"Eu lhe devo desculpas." Ela olhou para a frente.
"Me desculpe." Pride disse, ela não respondeu, e ainda tirou sua mão das dele.
"Minerva?" Ela se virou para ele, Pride se focou no olho azul, o olho que era exatamente como a pedra do broche. Broche que parecia estar entre os seios dela, como a corrente fina de prata indicava.
"O que deu em você? Você estava estranho. Eu entendo você querer fazer merda, você mesmo disse que você só faz merda, mas o que deu em você? Você não estava ali, você estava distante, longe. Poderia ser qualquer uma!" Ela lhe bateu no ombro.
Pride suspirou.
"Eu pedi para Simple me sugestionar. Ele me sugestionou a ficar calmo, quando ele estava dizendo isso eu pensei que só ficaria calmo se gozasse."
"Então, você estava hipnotizado?" Ela fez uma careta, Pride balançou a cabeça, negando.
"É complicado. Eu tenho um 'poder' de sugestão, que é diferente de hipnotizar as pessoas. Meus irmãozinhos tem também essa capacidade, Simple em maior grau, é lógico. Então, se combinarmos o 'poder' dele com o meu, eu posso ser sugestionado. Só assim."
"Você parecia em transe." Ela disse, Pride deu de ombros.
"Foi uma decisão ruim." Ele disse sem graça.
"Mas você..." Ela o olhou, Pride entendeu que ela disse que mesmo depois de gozar ele a atacou. E a sugestionou. Simple deve ter chegado na hora e o acertado na cabeça. Ou não?
"Eu e você... Bom eu não me lembro nada depois de te mandar tirar a camisola." Ela baixou a vista.
"Seus irmãos chegaram a tempo." Ela disse ele acenou.
"Ainda não entendo por que você quis fazer aquilo." Ela insistiu em querer uma explicação. Pride devia isso a ela.
"Eu não sei dizer o que aconteceu. Eu te quis para aplacar um pouco da dor, para sentir que eu estava vivo. Viver num mundo onde o real se confunde com a fantasia é cruel." Ele contou.
"Mas você vive assim?" Pride suspirou.
"Imagine que durante anos você sonha com uma coisa, e nesse sonho você coloca todos os desdobramentos caso essa coisa aconteça. No meu caso, isso aconteceu. E a única coisa que não estava nas milhares de possibilidades ou desdobramentos era você. Tocar você, gozar dentro de você, seria a prova de que tudo é real."
"Você poderia se beliscar." Ela disse, toda a explicação de Pride pareceu só deixá-la mais puta.


FILHOTES DE VALIANT - PRIDEWhere stories live. Discover now