CAPÍTULO 9

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Minerva ajudava Sheer a arrumar sua mochila para ir dormir na casa de Enrico, mas ela nem sabia o que estava colocando na dita mochila.
"Pasta de dentes? Não precisa, lá deve ter, só minha escova mesmo." Ele disse, ela o olhou confusa.
Minerva então, acenou e saiu do quarto dele e da irmã. Lily dormiu na cama de Honor e Pride iria buscá-la quando ela acordasse.
Pride. Minerva se lembrou do choque que foi quando ele disse que iriam para o quarto dele e a vergonha que foi quando ele explicou que havia muita coisa dele lá que tinham de levar para a casa nova. Ela se sentiu uma idiota.
Um menino normal apareceu no corredor e sorriu.
"Oi. Eu sou o Enrico. Sheer está pronto?" Ela sorriu e indicou o quarto onde Sheer escolhia alguns jogos para levar.
Na sala, ela deu de cara com Thorment e parou assustada. Ele teria descoberto que ela ajudou Noah?
"Lembra-se de Minerva, Thorment?" Pride perguntou. Ele deve ter sentido a hesitação ou até o medo dela, pois veio para perto e segurou sua mão.
"Eu me lembro de Pam. Com cabelo mais escuro e olhos castanhos." Thorment disse e estreitou os olhos. Ele era menor que Pride, mas havia uma ar de violência nele, aliado a uma frieza que ela não sentiu de primeira ao conhecê-lo, mas agora estava ali.
"Eu posso explicar, eu..." Ela começou, mas a verdade era que não havia explicação. Minerva se aproximou de Thorment e lhe segurou uma mão. Ele a encarou, Minerva constatou o quanto os olhos castanhos dele eram bonitos.
"Me desculpe. Eu não sabia direito sobre o plano de Noah, e estava sendo ameaçada. Sei que se você tivesse morrido, nada disso seria uma justificativa. Eu te peço perdão, Thorment e sei que não deve querer conviver comigo. Eu aceito e sinto muito. Quando você voltar aqui..."
"Quando ele voltar aqui, será recebido por você, pois essa é a sua casa." Pride disse pegando a outra mão dela e a puxando para perto dele. Mas Minerva se preocupava em ser perdoada.
"Nem Noah, que foi quem armou tudo me pediu desculpas desse jeito. É claro que eu te perdôo, Minerva. Na próxima vez que vier vou trazer Claire e Marlena, elas vão adorar conhecer você." Minerva se lembrava de Marlena. O encontro das duas foi desagradável, Minerva mentiu que tinha um relacionamento com Thorment. Essa era a parte mais vergonhosa da história.
"Eu conheço Marlena, lembra? Eu tentei atrapalhar vocês. Eu morro de vergonha daquilo, da mentira, eu fui ridícula."
Thorment acenou, ele era muito sério, seu rosto bonito estava sempre fechado.
"É mesmo. Bom, você vai precisar de amigas aqui e Marlena adora fazer amigas. Vou trazê-la amanhã, podemos tomar café juntos?" Ele disse olhando para Pride, que deu de ombros.
"É claro. Quer dizer, minha irmã chega hoje. Talvez um almoço no sábado, daqui a dois dias?" Pride disse.
"Combinado." Thorment sorriu e ela se lembrou do quanto o sorriso dele o transformava.
"Vamos, T." Enrico e Sheer saíram. Sheer cheirou seu pai e beijou Minerva nos lábios. Os três saíram e ela tocou os lábios onde Sheer beijou.
"Vou dizer pra ele não fazer isso. É comum aqui, mas..." Minerva o olhou e ele a aproximou mais do corpo dele.
"Minerva?" Ela engoliu em seco, piscou tentando jogar as lágrimas para detrás dos olhos.
"E o jantar? Você vai..." Ela foi para a cozinha, mas ele pegou no braço dela e a virou. Ela fungou, mas não conseguiu evitar as lágrimas descerem.
"Você queria sinceridade em nossa relação, mas está escondendo alguma coisa. Quer contar?" Minerva olhou nos olhos azuis dele, eram olhos tão lindos, é claro que ela contaria, ela não podia...
"Minerva!" Ele disse alto, ela se assustou.
"Me desculpe. Às vezes eu faço isso sem querer." Ela o olhou totalmente confusa.
"Respire fundo. Isso. Com força, bem fundo." Ela obedeceu a mente dela clareou.
"O que aconteceu?" Ela perguntou. Estava meio zonza ainda, ele a pegou no colo e a levou para o quarto dela.
Lá, ele a depositou na cama e se deitou de frente para ela.
"Eu sugestionei você sem querer. Eu faço isso as vezes, me desculpe."
"Eu contaria, como você disse, nossa relação tem de ser sincera. Eu não quero nada entre nós." Ele, que estava deitado de frente para ela, se virou de costas e olhou para o teto.
"Quer contar agora?" Ele perguntou, ainda olhando para o teto. Pride sabia tudo de como deixar uma pessoa a vontade, pelo que parecia. Com ele olhando para o teto, Minerva ficava mais a vontade, pois os olhos dele eram hipnóticos sem que ele fizesse nada.
"Eu e minha mãe, fomos morar numa cidade pequena aqui mesmo na Califórnia quando ela se separou do meu pai. Eles não deram certo, minha mãe não queria a separação, mas a vida dos dois era péssima, sempre foi. Meu pai se casou com ela por que ela engravidou de mim, então, você pode imaginar o triste que foi." Ela começou. Essa era a parte fácil.
"É engraçado que nós, Novas Espécies sempre encaramos o sexo como algo para fazer filhotes, isso é uma das dádivas do sexo, fazer filhotes. Um filhote é a coisa mais preciosa para nós, pois até Florest nascer todos acreditavam que eram estéreis. E então, tomar cuidado para isso não acontecer de forma leviana é a maior preocupação de um macho e agora das fêmeas de segunda geração." Ele disse.
"Mas você é tão novo e já tem filhotes, como isso ocorreu?"
"Como deve ter acontecido com seu pai e sua mãe. Livie estava no cio, eu não pude resistir, eu tenho sede de sangue e naquela época não controlava meus instintos como hoje. Eu a seduzi. Compartilhamos sexo numa escada. Eu usei o meu poder para fazer ela ficar com os olhos fechados, ela pensou que era o meu irmão, o James." Minerva o olhou. Ele se virou para ela, esperando ver a reação dela. Minerva o examinou bem.
"E ela ainda ficou com você? Eu te daria um tiro." Ele sorriu, Minerva sentiu seu coração disparar. Será que ele ouvia corações como Noah?
"Eu não ouço corações. Isso é muito difícil de fazer. Hunter, quer dizer, Peter, uma vez tentou nos ensinar, mas eu nem cheguei perto." Ela sorriu sem jeito. Tinha de ter cuidado, era quase impossível guardar qualquer coisa dele.
"Nossa história foi... Tumultuada. Livie tinha sido chantageada, o pai dela queria um filhote espécie, e estava com Peter em seu poder. Foi logo depois da invasão, tio V. estava em coma, eles usaram uma munição diferente, uma que anulava nossa cura rápida." Ele suspirou. Era realmente uma história confusa.
"Ela estava no cio, foi para Homeland, onde estávamos, para engravidar e trocar o filhote pelo irmão dela. Tentou fazer isso com James, ele teve a decência de recusar, eu a peguei nas escadas e a engravidei." Ele suspirou. Devia estar se lembrando do ato, do sexo.
"Tudo isso é muito bizarro." Ele voltou a olhar para o teto.
"Ela voltou para o pai dela, Peter foi liberado, nós esperamos a gravidez avançar e poucos dias antes do parto, de acordo com Peter, nós invadimos a casa em que eles estavam, mas ela entrou em trabalho de parto. Levou um tiro e morreu pouco depois dos bebês nascerem." Ele falou com a voz seca, sem sentimentos, o que indicava que todos os sentimentos quanto a isso eram muito dolorosos. Minerva ficou em silêncio. Era tudo muito terrível, uma história que começou toda errada e terminou trágica.
"Mas você é quem estava contando uma história." Ele a encarou. Minerva olhou para o teto.
"Minha mãe bebia. Ela conseguiu emprego num bar, a noite, e pagava para a nossa vizinha cuidar de mim. Essa vizinha era uma pessoa muito boa, ela tinha uma filha, Dany, ela era mais nova que eu. E tinha um marido." Ele fechou os olhos e respirou fundo.
Minerva parou de falar.
"Continue." Ele disse.
"Eu tinha treze anos, e não percebi que o que ele fazia era errado. Eu não tinha nenhuma referência de carinho paterno, eu achei normal. Um dia, ele pegou nos meus seios, me incomodou muito e eu passei a fugir dele, mas não contei pra mamãe, ela estava cada vez mais dependente da bebida, ficar na casa deles era melhor que ficar na minha." Ele rosnou baixo.
"Um dia, Dany passou mal, Connie teve de levá-la ao hospital, eu fiquei com ele na casa deles. Ele colocou um filme na tv... Bom, ele não me atacou de primeira, ele..." Pride rosnou. Minerva parou de contar.
"Conte." A voz dele estava mudada, Minerva se viu falando.
"Ele começou me tocando e eu tentei fugir, mas ele acabou sobre mim no sofá. Ele tocou meus seios, os chupou, eu estava com tanto nojo! Mas havia um fundo de excitação, eu não vou negar, ninguém nunca tinha me tocado assim. E ele me penetrou. Doeu muito, eu chorei o tempo todo até ele acabar. Depois ele ainda me beijou na boca, até hoje eu me arrependo de não ter mordido os lábios nojentos dele. Eu voltei pra casa arrasada e machucada, mamãe chegou tão bêbada, que dormiu no sofá. Eu não contei. Eu disse pra minha mãe que já estava grande, que ela economizaria se eu ficasse sozinha. Como sobrava mais para ela beber, ela aceitou. Mas eu engravidei." Minerva falava e não conseguia parar de falar. Os olhos de Pride foram ficando vermelhos, ela continuou falando, mas com muito medo.
"Qual é o nome dele?" Ele perguntou, Minerva engoliu em seco. Pride se levantou e bateu a testa na parede, Minerva, não sabia o que fazer.
"Vickers, Dom Vickers." Ela disse, ele respirou fundo, se sentou e segurou a mão dela, os olhos estavam ainda um pouco vermelhos e lágrimas vermelhas manchavam o rosto dele. Ela lhe tocou o rosto, ele fechou os olhos. Pride retirou sua camisa e passou no rosto, mas seu rosto ainda ficou um pouco vermelho.
"Continue." Ela não podia parar de qualquer forma.
"Eu só contei pra mamãe depois de três meses, mamãe foi tirar satisfações com ele, mas ele usou a cartada de que eu estava mentindo, que eu era uma criança e tudo o mais. Mamãe levava homens pra nossa casa, ele disse que poderia ser qualquer um desses que tinha me engravidado. Mamãe queria dinheiro para que eu abortasse, eu não sabia o que pensar. O padre daquela paróquia ofereceu cuidar de nós desde que eu desse o bebê para a adoção. Mamãe aceitou, ela estava doente. O padre nos enviou para outra cidade e o padre de lá cuidou de mim e de mamãe, mas ela continuou bebendo até ser atropelada. Isso foi antes do meu bebê nascer. O casal que o adotou exigiu sigilo, eu nem sabia o que essa palavra significava, eu concordei com tudo, mas..." Ele se levantou, mas Minerva continuou falando.
"Eles demoraram três dias para buscá-lo. Eu fiquei com ele por três dias, ele era tão lindo!" Minerva chorou. Ela não podia parar de falar, então continuou falando e chorando:
"Os olhos dele eram verdes, mas um era um pouquinho mais escuro que o outro. Eu sei que olhos de bebês mudam muito quando crescem, mas eu não consigo esquecer dos olhinhos dele..." Pride se sentou na cama e a puxou para o colo dele. Ele era quente, era musculoso e era bom. Essa bondade foi o que mais a impactou nele.
"O padre continuou cuidando de mim, eu terminei de estudar, fiz cursos técnicos, eu gostava muito de morar na igreja, até que aluguei um lugar pra ficar. Padre Phill acabou por descobrir meu pai, ele tinha se casado de novo, ele e eu nós falamos pouco, não havia muito a se dizer mesmo, mas um dia ele disse que seu irmão mais velho estava precisando de uma ajudante. Eu vim para cá, fiquei na loja, mas meu tio estava muito doente, logo ele foi para um asilo e deixou a livraria nas minhas mãos. Você sabe o resto." Minerva notou que ele foi se acalmando e quando a encarou, seus olhos estavam azuis. Ainda assim, sua voz soou implacável quando disse:
"Eu vou matá-lo." Minerva não ligou. Se ele encontrasse Dom e o matasse, ela não se importaria a mínima.
"Eu deixo você dar um tiro nele, quer?" Ele disse colando sua testa na dela. Esse gesto era tão íntimo na opinião dela!
"Eu quero." Ele sorriu e ergueu o queixo dela. Eles ficaram muito perto, Minerva abriu um pouquinho a boca e...
"Pride! Violet voltou." Candid disse da porta, os olhos dele, sempre debochados, dessa vez estavam bem alertas.

FILHOTES DE VALIANT - PRIDEWhere stories live. Discover now